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segunda-feira, 27 de outubro de 2014

"Vai ter aula ou vamos assistir filme?"

“O professor não vem. A atividade de hoje é filme”. A frase é comum, mas muitos professores trabalham para que a sétima arte seja usada em todo o seu potencial educacional. Em um processo que vai desde a escolha dos filmes, até a problematização final, o cinema pode ser uma excelente ferramenta para falar, sobretudo, de temas densos.

Em 2014, foi aprovada a lei 13006, que torna obrigatória a exibição de, no mínimo, duas horas mensais de cinema nacional nas escolas de ensino básico brasileiras. A nova lei, em vigor desde 26 de junho, deixa a sensação de que assistir cinema em sala de aula é uma prática comum, o que não é de todo verdadeiro. A forma como a sétima arte deve ser trabalhada em sala de aula não é consenso entre professores. Entretanto, independentemente de como usá-lo, um número expressivo de docentes acredita em seu potencial.

Para o professor Bebeto Badke, a "caixa preta" leva o aluno
para dentro de outra realidade. (Foto: Guilherme Benaduce)
Em 1936, Edgar Roquette-Pinto, considerado o pai da radiodifusão no Brasil, afirmava que “O ideal é que o cinema e o rádio fossem, no Brasil, escolas dos que não têm escolas”. Mesmo com a ampliação do sistema educacional, de uma forma diferente do que Roquette-Pinto imaginou, as mídias têm papel cada vez mais importante na formação intelectual e cultural das novas gerações. No ensino formal, a forma mais corrente é o uso de filmes que complementem a disciplina, servindo como uma ilustração daquilo que já foi trabalhado.

Diversos fatores são levados em conta, na hora de escolher um filme para uso em aula. O programa, a disciplina e a própria instituição fazem diferença. Para trabalhar o tema da Segunda Guerra Mundial, em uma aula de história, por exemplo, poderia ser usado A Lista de Schindler, de Steven Spielberg. No caso de uma instituição de ensino católica, uma possibilidade seria Irmão Sol, Irmã Lua, de Franco Zefirelli, que trata da vida de São Francisco de Assis.

O jornalista e professor da disciplina de Cinema no Centro Universitário Franciscano, Bebeto Badke, opta por películas que acredita serem pertinentes ao universo de hoje e, ao mesmo tempo, que ele julgue interessantes. Para ele, a “caixa escura” leva o aluno para dentro da obra, extrapolando à sala de aula. Bebeto explica que, muitas vezes, os alunos esquecem-se de si quando assistem a um bom filme. “Por isso, o cinema é uma ferramenta excelente para tratar sobre temas mais espinhosos, como drogas e preconceito”, evidencia. Bebeto conclui explicando que a disciplina de Cinema é um caso especial. Como o próprio formato cinematográfico é a pauta, não há temas que não possam ser abordados.

O cinema e a educação em Santa Maria

No segundo semestre de 2014, a professora
Valeska de Oliveira visita instituições com o
projeto Cinema Itinerante. (Foto: acervo Gepeis)
Em uma pesquisa realizada em 2014, o Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação e Imaginário Social (Gepeis) da Ufsm abordou mais de 650 professores de todas as redes de ensino sobre cinema e educação. Nos resultados, foi apontado que 94% dos professores de Santa Maria acreditam na importância desta relação e 57% deles usam, de fato, filmes em sala de aula. Entretanto, apenas 15% deles acreditam que o cinema seja uma forma de cultura.

Segundo a professora e coordenadora do Gepeis, Valeska de Oliveira, não é necessário que o professor trabalhe apenas com filmes que tenham relação direta com sua disciplina. Valeska garante que o cinema, como sétima arte, pode ser usado para ampliar o repertório cultural dos alunos. Para ela, todo o professor que busca estimular a percepção dos alunos, deveria se sentir livre para mostrar outros filmes. Para a professora, a formação cultural também é parte do papel do docente.

Outra mudança necessária, segundo a professora Valeska, é abandonar a explicação antes de exibir um filme. A prática, que acontece, sobretudo, no ensino superior, direciona a visão de quem assiste. Deixar que os estudantes  visualizassem as películas e propusessem suas próprias questões, retiraria o controle das mãos do docente. Esta nova concepção de ensino demanda, entretanto, um preparo dos professores, que, muitas vezes, oferecem resistência a mudanças.

Vamos fazer um filme?

A partir do momento em que os professores usam filmes em sala de aula, a demanda dos alunos por produção é questão de tempo. O cinema é uma das mídias contemporâneas, nas quais as novas gerações estão enredadas, logo, pode ser uma saída para movimentar as escolas. Para suprir esta demanda, o Gepeis desenvolve um projeto de formação continuada, em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), chamado “Enredos da vida, telas da docência: os professores e o cinema”.

A pesquisa "Enredos da vida, telas da docência: os professores e o cinema"
parte de três instâncias da relação do professor com o cinema. (Ilustração: OLIVEIRA, 2014)
Além das discussões sobre as vivências dos professores com o cinema, a iniciativa engloba a produção de curtas. O objetivo é que os estudantes possam participar da criação dos filmes e, depois, ver o resultado pronto e discuti-lo. A professora Valeska defende o protagonismo dos alunos por fazer com que se descubram potenciais até mesmo desconhecidos dos educadores. “O cinema não é um salvador, mas serve para exercer a imaginação criativa”, conclui a coordenadora do Gepeis.


Por Guilherme Benaduce e Tamires Rosa

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

A mídia, as pesquisas e as eleições

Às vésperas da votação para o segundo turno das eleições presidenciais e para governador em parte dos estado brasileiros, observa-se que o agendamento midiático ganha força, tentando influir no resultados das pesquisas, conforme elas evidenciem um pleito favorável a um ou outro candidato. 
Um rápido exercício de análise sobre o comportamento da mídia neste segundo turno foi desenvolvido dentro da disciplina de Jornalismo Especializado II ( jornalismo científico), do curso de Jornalismo do Centro Universitário Franciscano. A metodologia é simples. Observa-se, na linha do tempo que corresponde ao período do segundo turno, a correlação entre a divulgação dos resultados da pesquisa e a tematização das matérias publicadas .Foram observados os jornais on line e portais de notícias e entretenimento: Jornal Folha de São Paulo, Jornal Sul 21, Jornal Zero Hora, o Estadão, Portal do Uol, e o Portal do G1. 
Buscou-se observar as três características básicas apontadas por Neumann:
Acumulação: é a capacidade da mídia para criar e manter relevância de um tema.
Consonância: as semelhanças nos processos produtivos de informação tendem a ser mais significativas do que as diferenças.
Onipresença: o fato da mídia estar em todos os lugares com o consentimento do público, que conhece sua influência.
Confira o resultado das análises nos posts abaixo. 

A Folha de São Paulo e o segundo turno da campanha eleitoral

Após os possíveis equívocos das pesquisas eleitorais no primeiro turno, já que muitos candidatos cotados a ganhar ou ficaram para o segundo turno ou nem entraram na disputa, as pesquisas desse segundo turno têm gerado desconfiança e discussões entre muitos eleitores.
Os meios de comunicação que acompanham esse período têm publicado diariamente dados, informações sobre as campanhas e propostas dos candidatos à presidência da república, Aécio e Dilma. Além das pesquisas de intenção de voto.
Pesquisa Datafolha.
fonte: site G1.com.br
Seção Eleições da folha.

A pesquisa Datafolha, desta segunda, 20, apontou que Dilma (PT) tem 52%, e Aécio (PSDB) 48% dos votos válidos para o segundo turno. Essa pesquisa foi encomendada pela TV Globo e pelo jornal Folha de São Paulo. O levantamento ouviu 4.389 eleitores. Já a pesquisa do Instituto Veritá, encomendada pelo jornal Hoje em dia, de 18/10, mostra o candidato Aécio Neves com 53,2% dos votos válidos, e Dilma Rousseff com 46,8% da preferência do eleitor. E Pesquisa Ibope divulgada em 15/10 aponta 51% dos votos válidos para Aécio e 49% para Dilma. Para calcular esses votos, são excluídos da amostra os votos brancos, os nulos e os eleitores que se declaram indecisos.
Evidenciado como mídia nacional, em geral, o Folha de São Paulo é um dos meios que solicita a pesquisa eleitoral ao Datafolha. No período das pesquisas acima mostradas, o jornal evidenciou, por suas manchetes, vários textos críticos à campanha da candidata Dilma (ou de modo que a avaliem em desvantagem em relação ao Aécio), e outros mais favoráveis ao candidato Aécio. Como: contra Dilma – “Dilma agora parece crer em corrupção na Petrobrás”, “Dilma usa tom agressivo nas campanhas” (17/10); “TSE proíbe Dilma de citar caso do aeroporto mineiro em propaganda”, “Dos 22 anúncios de Dilma na TV, 19 atacam Aécio” (‘8/10); pró-Aécio: “Estou pronto para derrota o PT”, diz Aécio; Aécio critica atraso e promete concluir transposição de são Francisco” (17/10). Em 19/10, uma notícia já não animadora sobre Aécio, “TSE suspende mais duas propagandas de Aécio Neves” e “ Nossa família entrou nos debates com base em mentiras, diz irmã de Aécio”.
Já as manchetes de 20/10 já envolvem opiniões tanto positivas como negativas de ambos os candidatos, com ênfase de um lado mais positivo da candidatura de Dilma: “Em quatro dias, TSE suspende 14 propagandas de Dilma e Aécio”; Ministro do TSE suspende propaganda e reduz inserções de Dilma e Aécio”; “PSDB é 'elitista' em 'origem, meio e fim', diz Dilma”; “Dilma 'ganha' entre os argentinos”; “Aécio 'não é homem sério e de respeito', afirma Lula em Pernambuco”; “Em Goiânia, Aécio diz que vai manter ataques a Dilma na reta final”.
Em sua publicação online desta quarta, 22, o jornal noticia informações de “contra-ataques” entre os candidatos. Com o título do link “ataque”, a notícia evidencia o apoio de Lula à Dilma (“Lula diz que eleitores de Marina têm 'obrigação' de votar em Dilma”). E como resposta, o link “contra-ataque” abre a informação de Aécio (Aécio afirma que ex-presidente tem papel 'inexpressivo' na campanha).
O passar dos dias, evidencia que as mudanças de intenção de votos nas pesquisas faz também mudar o agendamento da mídia: o que mostrar ou não? Influência devido aos resultados da pesquisa, resta saber se serão confiáveis ou equivocados como no primeiro turno.
O interessante para o leitor é que o site disponibiliza uma página específica sobre as eleições, tanto com informações como opiniões de seus colunistas. Basta pesquisarmos e nos inteirarmos. Além disso, o site atualize as manchetes, em média, de 25 vezes ao dia. 

Por Luana Iensen



O jornal "Zero Hora" no 2º turno da Eleição Presidencial

Para iniciar esta análise foi realizado um levantamento no site do jornal “Zero Hora” (zh.clicrbs.com.br) para ver quais e quantas pesquisas foram publicadas pelo veículo desde o início da campanha de 2º turno das eleições.
No total foram encontradas sete pesquisas publicadas em quatro datas diferentes: duas no dia 09/10, duas no dia 15/10, duas no dia 20/10 e uma no dia 22/10. Os dados são do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope), com duas pesquisas publicadas, Datafolha, com três pesquisas divulgadas e CNT/MDA com uma pesquisa postada no site.
No dia 09 de outubro, o jornal divulgou duas pesquisas com os números de intenção de votos para presidente da república. A primeira pesquisa divulgada, às 21hs, foi do Ibope com o título Ibope mostraempate técnico entre Aécio e Dilma. Nesta pesquisa o candidato Aécio Neves (PSDB) aparece com 46%, contra 44% da candidata Dilma Rousseff (PT). A segunda pesquisa divulgada neste dia foi postada 32 minutos de diferença da primeira. Os dados do Instituto Datafolha apresentam os mesmos números da pesquisa Ibope, mas o título da matéria não lembra o empate: Aécioaparece com 46%, Dilma tem 44%.
Nas duas matérias o jornal destaca a vantagem de dois pontos de vantagem do candidato Aécio sobre a atual presidente do Brasil, mas esclarece que segundo a margem de erro que é de dois pontos percentuais para mais ou para menos, os dois presidenciáveis estão tecnicamente empatados.
Neste mesmo dia, o jornal divulgou uma matéria abordando o pensamento de Aécio Neves sobre o apoio recebido pela candidata derrotada no 1º turno, Marina Silva (PSB), neste momento, percebemos que o jornal deu destaque a candidatura do tucano, por estar à frente da atual presidente Dilma Rousseff. No dia seguinte, 10, o jornal publica três matérias referentes ao dia de campanha de Dilma Rousseff e duas sobre as atividades realizadas por Aécio. Mudando o foco para a candidatura petista.
No dia 11, o jornal publicou uma matéria mais geral sobre os dois candidatos, abordando a postura de cada um no início de campanha do 2º turno. Segundo o jornal, Dilma deixou de ser uma chefe mais firme, para assumir uma postura e um ar maternal, enquanto Aécio, deixa de ser o “galã” das eleições e começa aparecer como o “pai” dos brasileiros. Com esta matéria, se percebe uma neutralidade do veículo quanto a essas eleições. Neste dia o jornal também divulgou uma matéria sobre o apoio da esposa de Eduardo Campos a Aécio Neves. O que vimos é um agendamento de matérias referentes a cada candidato, buscando dar o mesmo espaço para ambos.
Dois dias depois, 13, o jornal publicou matérias sobre o panorama político no Rio Grande do Sul, o caso da Petrobrás e uma reportagem sobre Aécio Neves com o título: “Aécio diz que Dilma é "candidata à beira de ataque de nervos"”. Publicando essas matérias, notamos uma relação contra a candidatura de Dilma, apresentando reportagens sobre o escândalo da Petrobras e destacando uma citação de Aécio, se referindo negativamente a candidata. No dia seguinte, o site destaca minuto a minuto informações sobre o debate dos candidatos à presidência realizado na emissora de televisão Bandeirantes. Outras matérias como a presença da candidata Dilma em evento da reforma política em Brasília também foram postadas. Mostrando novamente, depois dos destaques dados a Aécio, uma neutralidade apresentando notícias sobre o dia a dia de Dilma.
No dia 15 de outubro, antes de publicarem a segunda pesquisa com intenção de votos para presidente, o jornal destacou a repercussão do debate realizado no dia anterior, matéria sobre a oscilação da bolsa de valores e do dólar relacionadas às pesquisas eleitorais. Logo após essas publicações, o site do jornal postou os números do Datafolha e do Ibope, com uma diferença de duas horas de publicação uma da outra.
Na pesquisa Datafolha o título apresentava os números: Aécio tem 45%, e Dilma, 43% dos votos totais, e salienta que cada candidato aparece com um ponto a menos em relação ao levantamento divulgado no dia 09. A chamada da pesquisa Ibope é praticamente a mesma do Datafolha, com a mesma percentagem de votos totais, o que muda no destaque são os números dos votos válidos que apresenta o senador com 51%, contra 49% da presidente.
No dia seguinte, foi realizado o segundo debate do 2º turno, no SBT. Neste dia não foi feita nenhuma reportagem referente ao pleito. No dia seguinte, 17, a propaganda eleitoral da candidata Dilma tem trecho cortado e uma matéria foi publicada apresentando as propostas dos candidatos à presidência e governadores. O jornal abriu espaço para que artistas escrevessem sobre seus votos. Cada dia dois artistas, um de cada candidato justificava seu voto. Neste dia, Lobão e Wander Wildner expuseram suas escolhas. Sobre o Aécio, fala-se da aliança dele com Marina e sobre o movimento de mudança. Na matéria abordando sobre Dilma, foi relatado sobre a reunião dela em palanque com militantes e ex-adversários políticos.
No dia 18 foi publicada uma matéria com a candidata Dilma admitindo desvio de verbas da Petrobras. Reportagens sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva apoiando a campanha de Dilma e do ex-presidente Fernando Henrique na campanha de Aécio, também foram postadas, mostrando a representação de cada um deles. Outras duas reportagens de Aécio com provocações ao governo do PT também foram postadas. Mais uma vez notamos uma neutralidade quanto à candidatura de cada presidenciável. O veículo sempre buscou dar o mesmo espaço para os dois, sem deixar claro sua visão política.
No dia seguinte, 19, matérias de provocações dos candidatos tiveram destaques. Foram feitas duas para cada um deles. O jornal também apresentou informações sobre o terceiro debate presidencial: “Aécio tem de aprender a respeitar as mulheres, diz Dilma e Dilma evolui ao admitir desvios na Petrobras, diz Aécio”. Com este título, reforçamos a hipótese do veículo ser neutro nessas eleições.
No dia 20 de outubro o jornal divulgou os números da pesquisa realizada pela CNT/MDA. Mais uma vez o jornal saliente um empate técnico entre os dois candidatos, mas os números da pesquisa são de 45,5% para Dilma e 44,5% para Aécio. A pesquisaDatafolha, divulgada com oito horas de diferença da primeira, 20h27, os números são de 46% para Dilma e 43% para Aécio. Essa foi a primeira vez que a candidata petista apareceu a frente do tucano nas pesquisas.
Neste mesmo dia, o site publicou uma matéria sobre os vices de cada candidato, uma matéria que abordou a determinação da justiça de suspender propagandas de candidatos com acusações pessoais. Notamos mais uma vez o mesmo espaço a abordagem para cada candidato. No dia 21, o jornal postou uma reportagem sobre a decisão do TSE em suspender três propagandas do candidato Aécio Neves e uma matéria apresentando dados de “Por que o Datafolha mostra avanço de Dilma”.
A última intenção de votos divulgada no site do jornal foi publicada nesta quarta-feira, 22, apresentando os números da pesquisa realizada pelo InstitutoDatafolha. Com relação a última divulgada no dia 20, Dilma subiu um ponto, ficando com 47% dos votos e Aécio permaneceu com os 43% divulgadas na última pesquisa.
Neste mesmo dia, o jornal divulgou um teste com a seguinte pergunta: Com qual candidato à presidência você mais se identifica?. O teste apresenta ideias e propostas de cada candidato e no final apresenta o resultado de qual candidato se aproxima mais com o pensamento de cada internauta. Também foi publicada uma matéria sobre presença do ex-presidente Lula em Porto Alegre no comício de Tarso Genro, candidato do PT a governador do Rio Grande do Sul.

Por Aline Mendonça e Rodrigo Gonçalves

As notícias do UOL no segundo turno das eleições para presidente

   Postos frente à frente a todo instante, seja em debates, comerciais ou pela troca de “singelos” insultos e acusações no horário político, Aécio Neves e Dilma Roussef vivem um dilema. Com as pesquisas do Datafolha e do Ibope, principais institutos de pesquisa do Brasil, apontando empate técnico entre os dois candidatos à República, um clima de instabilidade se instaura em toda nação. Principalmente, nos veículos de comunicação, mediadores desses resultados para com o povo brasileiro.
  O cuidado com a maneira com que o tema é tratado deve ser considerado fator preponderante aos media a fim de não intervir na eleição, seja de forma direta e/ou indireta, coibindo para que o público vote em determinado candidato devido às notícias elencadas pelo veículo em questão. O simples fato de, em uma mesma página eletrônica, citar um bom projeto de um candidato consoante a uma “furada” de seu adversário, induz, mesmo que subjacente ao objetivo primário da mensagem ressaltada, à opção de tal presidenciável, contrapondo a massa contra seus próprios ideais, muitas vezes já definidos.
   No sítio eletrônico Universo Online, mais conhecido por UOL, dentre as manchetes principais de sua página inicial, estão notícias ligadas, aparentemente, ao governo da candidata Dilma, denegrindo de forma indireta sua imagem e reputação. Exemplos disso são as manchetes: “Em três dias, ações da Petrobrás caem 13%”, fazendo referência à uma das maiores empresas do Brasil, envolvida no maior escândalo de corrupção e desvio de dinheiro da atualidade, na qual o partido da atual presidente está inserido. Nessa mesma linha, há também outra manchete que avisa: “Laranja mentiu sobre PSDB, diz advogado”, notícia que limpa a ficha do partido de Aécio Neves – ou pelo menos parte dela – deixando-o menos vulnerável a ataques e escândalos que envolvam referido assunto.
   Em outra notícia do UOL, o site remete sua manchete para a Folha de São Paulo, a qual traz a informação: “71% criticam agressividade na eleição”. Junto com a notícia, um infográfico dizendo que, conforme opinião dos entrevistados, Dilma Rousseff é menos agressiva que Aécio Neves. Contudo, ela é elencada pelas jornalistas Andréia Sadi e Daniela Lima com uma campanha na qual “os ataques tendem a continuar [...] mas com alguns cuidados para tentar driblar o Tribunal Superior Eleitoral”.
   As notícias e manchetes veiculadas ao longo do segundo turno seguem uma tendência a denegrir a imagem de Dilma Rousseff – ou estariam falando apenas a verdade? – conforme exemplos supracitados. Seguem também frases como : “PT aumenta teto de gastos em campanha para 40 milhões”; “Grupo anti-Dilma é expulso em MG, “PT leva 12 dos 15 estados com maior taxa de Bolsa Família” (insinuando que Dilma está na frente apenas pela grande parcela da população pobre, a quem ela ajuda sem solicitar trabalho em troca), etc...
   A exemplo do jornal “Folha de São Paulo”, o UOL também parece seguir uma “linha de tiro” na qual o Partido dos Trabalhadores e Dilma Rousseff são os “alvos” principais. Curioso que se nota é que esses “disparos” contra a candidata e seu partido variam de acordo com as eleições. Afinal, acima de tudo, ainda é um veículo de comunicação que visa, em primeiro lugar, a fidelidade de seu público e a garantia do consumo de seu produto, que no caso, é a notícia.
   Se a grande maioria dos eleitores brasileiros estão indo em sentido contrário ao pensamento desse veículo, logo deixarão de segui-lo. E nisso se justifica a não surpreendente coincidência da redução de notícias contra PT em consonância à evolução de Dilma nas pesquisas. Essa é a realidade que enfrentamos com o jornalismo político brasileiro, com veículos tentando utilizar de seus poderes comunicativos para “orientar” o leitor, mas ao mesmo tempo, manipulando-o. E, quando se nota que o resultado é falho, muda sua linha de ação para não perder seu cliente.

Por Ezekiel Dall'Bello

Análise das matérias de política no site do jornal O Estadão

No site do jornal Estadão, as notícias da editoria Política são atualizadas com frequência, em um intervalo de tempo médio de 15 minutos. Há uma parte do site que mostra apenas notícias sobre as eleições, como se fosse outra página da internet. Um cabeçalho dá a opção de ler as últimas notícias, ver a apuração e outros detalhes. No início há manchetes com fotos e, mais abaixo, ao rolar a página, o internauta pode conferir serviços que ajudam o eleitor a escolher o candidato.








Ao rolar a página para baixo começam os serviços para o eleitor. Nesta seção, “Hora do voto”, pode-se conferir as pesquisas eleitorais, tirar dúvidas, comparar as propostas dos dois candidatos à presidência e ver o mapa das viagens.



As pesquisas eleitorais são exibidas em um gráfico interativo que possibilita trocar a opção: "IBOPE" ou "DATAFOLHA".
A pesquisa do IBOPE indica duas datas distintas, nas quais Aécio está na frente na disputa à presidência. A última data pesquisada foi 15 de outubro. 

Por outro lado, ao clicar na opção "DATAFOLHA", a pesquisa inverte a concepção de quem está mais perto de vencer a disputa. essa opção indica que Aécio começou ganhando, em 09 de outubro, mas os valores percentuais se inverteram: Dilma começa a vencer em 20 de outubro e aumenta o percentual de aceitação no dia seguinte. 



No dia 09 de outubro, que foi divulgada a primeira pesquisa DATAFOLHA do segundo turno, às 16h21, foi publicada a notícia "'Estado' divulga à noite primeira pesquisa Ibope sobre 2º turno presidencial". No mesmo dia, às 19h59, quando foi divulgada a pesquisa do IBOPE, a notícia foi: "Aécio e Dilma empatam na primeira pesquisa Ibope do 2º turno".
No período das pesquisas o jornal não foi tendencioso. Divulgou os resultados, os apoiadores de cada candidato e repercutiu as principais atividades dos políticos em viagens e discursos. Ainda no dia 09 de outubro, às 20h44, uma notícia reforçou: "Datafolha sobre 2º turno também aponta Aécio com 51% e Dilma com 49%".
No dia 13 de outubro, o portal de notícias anunciou: "Ibope e Datafolha registram novas pesquisas nesta semana". 





Projeto AMA - Apoio a Maternidade Ativa

O número de grávidas adolescentes e com baixo nível escolar é bastante significativo dentro do atual contexto social. Diante desse quadro,  na Casa de Saúde de Santa Maria, há um projeto que visa auxiliar essas mães de primeira viagem. Para prestar ajuda a essas jovens parturientes foi criado o Apoio a Maternidade Ativa (AMA).

Nesse projeto, a acadêmica do curso de Nutrição do Centro Universitário Franciscano, Cassiana Della Pace, junto com a acadêmica de Enfermagem, também estudante da instituição, Jordana Carvalho, conversam e orientam as jovens mães sobre os procedimentos adequados na hora de amamentar, trocar a fralda, dar banho e uma série de cuidados que precisam ter com os pequenos. O projeto AMA funciona em uma sala especialmente preparada que está localizada no Hospital Casa de Saúde, no Bairro Nossa Senhora do Perpétuo Socorro em Santa Maria, e é coordenado pela enfermeira Fabiele Maurer.


O projeto funciona há dois anos e os encontros acontecem toda semana. Ele integra o Pró Pet Saúde, uma iniciativa interdisciplinar do Ministério da Saúde que deseja inserir os acadêmicos nas práticas profissionais, permitindo que tenham a oportunidade de conviver com os profissionais da área. 
Por meio desse trabalho, as mães ficam a par de temas pertinentes acerca dos cuidados de seus bebês. Entre os assuntos abordados estão a amamentação adequada, fissuras mamilares, higiene corporal do bebê, vestimentas e outros conhecimentos essenciais para que as mulheres consigam amenizar um pouco a tensão e a ansiedade que tomam conta de toda mãe de primeira viagem. 

Um dos cuidados mais frisados pela equipe do projeto é a importância do aleitamento materno. “O leite materno protege contra infecções e alergias, bem como é bom para o desenvolvimento de uma dentição saudável”, explica a acadêmica de nutrição Cassiana Della Pace. 
O encontro com as mulheres é sempre uma conversa informal, onde elas podem tirar dúvidas com as integrantes do projeto.

                                                         
As acadêmicas que integram o projeto possuem a função de entrevistar as gestantes e também realizar um perfil epidemiológico das mesmas. A ideia principal é sempre a orientação, para facilitar e melhorar a forma como as puérperas cuidam de seus bebês. Já que a quase totalidade das mulheres atendidas são adolescentes com pouca escolaridade, geralmente moradoras da periferia da cidade e que quase sempre não planejaram uma gravidez.

                                                                             

Mesmo com tantas dificuldades a serem enfrentadas. As mães inexperientes aceitam muito bem a inclusão no projeto. Com as dicas da equipe elas se sentem mais seguras e preparadas para as próximas etapas que estão por vir.
                                                                                                                                    
                                                        
Nesse contexto, o Pró Pet Saúde se constitui um projeto relevante na área social e da saúde, pois tem por intuito sanar várias questões que geralmente surgem em mulheres que ainda estão a ingressar no exercício da maternidade.


Por Armando Agostini e Fernando Rodrigues

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Cyberfutebol: a tecnologia que revoluciona a paixão mundial

Foi-se o tempo em que futebol era apenas no apito e com a bola na rede. Hoje em dia, atletas e chuteiras dividem as atenções com a poderosa tecnologia. Modernas câmeras, sistemas de captação de sons e imagens, linhas de impedimento virtuais e até mesmo bolas de futebol com chip (imagem). Essa é atual realidade do “cyberfutebol”.
                                                                                                                                             Imagem: A Gazeta - Ed. de Arte - Genildo

A sociedade está mudando, procurando meios de se modernizar cada vez mais. O futebol, por sua vez, tenta acompanhar esse desenvolvimento, plantando em meio aos atletas novas tecnologias e adaptações que viabilizem um maior controle da partida e facilite seu desenrolar em todas noções.Os árbitros do” cyberfutebol” já não ficam só com o apito na boca e seus cartões no bolso. Monitores cardíacos, controladores de distância e equipamentos eletrônicos de comunicação passam a ser por estes utilizados. O principal dele, que podemos constatar uma notável mudança ao árbitro de futebol e ao jogo em si, é o radiocomunicador, que foi primeiramente inserido na Europa, onde é conhecido como “oreilletes”.
Sandro Meira Ricci, árbitro brasileiro, é um dos que aderiu
aos Headsets / Foto: site ResenhaGol 

A Federação Paulista de Futebol (FPF) já utiliza desde 2008 outra praticidade do digital nos jogos sob sua jurisdição. Trata-se da súmula eletrônica. Em busca pela excelência, o trabalho demonstra agilidade e transparência em suas ações.Logo ao chegar no estádio, o árbitro da partida lança em um sistema a relação de atletas de cada clube. Imediatamente, ele já recebe à sua frente todas informações sobre os jogadores, e sabe se alguém está suspenso, “pendurado” por cartões, se possui a idade mínima e se está em condições de jogo, por exemplo. Até mesmo a assinatura do capitão do time à súmula é eletrônica, com leitura biométrica.Ao término do jogo, o árbitro novamente lança as informações no sistema, com os detalhes da partida, e em poucos instantes, a súmula completa do jogo já está disponível no site e no sistema da FPF. As imagens, por sua vez, também já ficam disponíveis automaticamente, viabilizando uma maior contextualização do jogo e uma interatividade com o público.Essas imagens também passaram por um processo muito longo de modernização, mesmo que, por vezes, tenham passado despercebidas. Antigamente, não se tinha um retorno imediato do treinamento de certa equipe ou do jogo propriamente dito. Não havia mesas virtuais com jogadores holográficos simulando esquemas táticos de jogo.Câmeras e sistemas que, além de auxiliarem na transmissão do jogo, ajudam a compreendê-lo, como as lentes que ficam na linha do último defensor para captar a linha de impedimento, e lançá-la virtualmente para o telespectador saber no exato momento se ele existiu ou não.Todos sabemos que essas diversas inovações não se fazem imprescindíveis ao decorrer normal de uma partida de futebol. As antigas técnicas manuais não impediriam um jogo de acontecer, mas há de se acreditar que a obtenção rápida da informação e a praticidade do controle de um jogo não seriam as mesmas de hoje.A tecnologia só vem a acrescentar nessa paixão mundial que é o futebol. Por vezes, nos deixam com raiva, ao ver que aquele gol que nosso time levou era irregular, ou que o jogador foi expulso só porque o auxiliar informou o árbitro por um “oreillete”. Mas no fim, todos temos de concordar que essa maravilha que revolucionou o cyberfutebol foi um gol de placa.
Por Ezekiel Dall'Bello

Trata-se de um sistema de comunicação wireless, dotado de headsets (aparelhos eletrônicos de comunicação para ouvido) para interligar de três a 5 pessoas, no caso, o árbitro principal e seus auxiliares. Além de serem transmissores pequenos e leves, esse sistema tem como vantagens, ainda, a comunicação contínua entre os árbitros, a possibilidade de mãos livres, filtro de ruídos, transmissão digital e multi-canal.




Grupo orienta cuidadores de pacientes com Alzheimer

Alunos e professores de sete cursos da Unifra fazem reuniões quinzenais para orientar cuidadores e familiares dos portadores da doença
Alunos, professores e cuidadores fazem reuniões quinzenais
O guia contém informações em tópicos e ilustradas

“Dá um desespero ver a tua mãe não te reconhecer”. O relato do cuidador Luis Airton Hunhoff deixa claro um dos primeiros sintomas do Alzheimer: o esquecimento. A doença afeta o sistema nervoso e causa problemas na memória, no raciocínio e na comunicação. O Alzheimer não tem cura nem tratamento definitivo, mas é possível controlar os sintomas para melhorar a qualidade de vida do portador. É por isso que existe a AMICA (Assistência MultidisciplinarIntegrada aos Cuidadores dos Portadores da Doença de Alzheimer), um projeto de extensão do Centro Universitário Franciscano que abrange alunos e professores de sete cursos.
Hunhoff participa do grupo há quase sete anos nas reuniões quinzenais de troca de informações e experiências. “Essa troca é muito válida porque nos ajuda e nos emociona. Eu passei por muitas dificuldades, mas aqui aprendi muito quando minha mãe passou por algumas fases da doença e eu já tinha conhecimento do que fazer por causa dos relatos de amigos do grupo que haviam vivenciado esse problema”, ele conta.

O projeto

O grupo surgiu na Unifra em 2006, quando Maria Elisabeth, que cuida da mãe, estava à procura por um lugar em Santa Maria para que pudesse fazer reuniões e trocar experiências. "Então nós buscamos oferecer um espaço de esclarecimento, informação e reflexão sobre as experiências de quem enfrenta a doença", conta a coordenadora do grupo AMICA, professora Tereza Cristina Blasi, do curso de Nutrição.
Hoje o grupo conta com a atuação dos cursos de Nutrição, Farmácia, Enfermagem, Fisioterapia, Terapia Ocupacional, Odontologia e Psicologia. Os professores e alunos são responsáveis por elaborar materiais explicativos de cada área e orientar os cuidadores que chegam em busca de ajuda. "O trabalho é gratificante nas reuniões. Às vezes, ainda visitamos os pacientes em casa para uma melhor orientação. É um crescimento pessoal e profissional, pois além de aprendermos com eles, produzimos conhecimento científico ao realizar pesquisas sobre a doença", relata a professora Tereza Cristina.

Guia prático para os cuidadores

Um dos resultados das pesquisas do grupo foi lançado na Feira do Livro de Santa Maria deste ano, o guia ilustrado "Doença de Alzheimer: guia prático multidisciplinar para os cuidadores". 
A produção tem 36 páginas informativas com tópicos e desenhos para facilitar a compreensão do cuidador. 
O guia é um complemento de informações aos encontros do grupo AMICA
Alguns cuidados na alimentação, na higiene e atividades diárias são fundamentais e estão explicados no livro.
“Quando a doença é diagnosticada, a lesão no cérebro já é muito grande e não tem mais como reverter. Com medicamentos, alimentação adequada e alguns cuidados, é possível controlar os sintomas”, explica a professora Tereza Cristina. E complementa: "por isso, é muito importante saber como lidar com o paciente. Agora, com o Guia, esses cuidadores terão mais um tipo de apoio".

As três fases do Alzheimer

Fase inicial:
- perda leve de memória;
- alterações de personalidade e humor;
- conversa mais superficial.
O que fazer: estimular a memória com atividades prazerosas e manter móveis e objetos familiares no mesmo lugar para servir como referência.

Fase intermediária:
- avanço dos sintomas da fase inicial;
- dificuldade de comunicação;
- repetição das mesmas palavras e frases;
- dificuldade para mastigar e engolir.
O que fazer: usar frases curtas e simples para haver compreensão e fornecer pistas para lembrança da rotina e de acontecimentos importantes.

Fase avançada:
- incapacidade de desempenhar qualquer atividade sem ajuda;
- perda de controle da bexiga e intestino.
O que fazer: manter a pele do paciente sempre limpa e seca e estimular a troca de posição na cama, de duas em duas horas, para evitar o desenvolvimento de lesões na pele, ativar a circulação e movimentar as articulações. 

As informações foram retiradas do livro “Doença de Alzheimer: guia prático multidisciplinar para os cuidadores”, feito pelo grupo AMICA e organizado pelas professoras Adriane Blümke, Nadiesca Filippin e Tereza Cristina Blassi. 


Encontros AMICA
Quinzenais, às quintas-feiras
Horário: 17h
Endereço: Rua dos Andradas, 1750, prédio 17
Sala: 231, 2° andar

Mais informações 
E-mail: amica@unifra.br ou grupoamica@gmail.com
Telefone: 3220-1202
www.facebook.com/GrupoAmica

Por Fabiana Lemos

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Abordagem sistêmica no cuidado à saúde

   Na tarde hoje, dia 1° de Outubro, no Salão de Atos do Conjunto III do Centro Universitário Franciscano, a professora e doutora Adriana Dornelles Carpes, do curso de Farmácia, reuniu reflexões extremamente importantes para a formação acadêmica, no que diz respeito à “Abordagem sistêmica no cuidado à saúde”, tema da palestra. O evento dá continuidade às atividades do XVIII Simpósio de Ensino, Pesquisa e Extensão (SEPE), que iniciou hoje (confira a programação aqui).

O que quer dizer abordagem sistêmica?

A história da “Abordagem sistêmica” nasceu com Ludwig Von Bertalanffy, biólogo austríaco, que propôs o termo abrindo para uma ideia de estudo e pesquisa na ciência, contrapondo princípios da visão cartesiana, que diz que todo objeto de estudo deve ser isolado o máximo possível para observar todos fenômenos em torno deste em específico. Assim, pesquisa tem que ser algo restrito ao objeto pesquisado. Porém, Ludwig afirma em sua “Teoria Geral dos Sistemas” que, quando este objeto não está isolado dos meios, ele também apresenta outras respostas.

Tabagismo
Adriana Dornelles/Foto: Divulgação

Ele sugeriu que se deve estudar sistemas globalmente, de forma a envolver todas suas interdependências, pois cada um dos elementos, ao serem reunidos para constituir uma unidade funcional maior, desenvolvendo qualidades que não são visíveis quando analisados de forma isolada.
   Nessa perspectiva, a professora acredita que "no processo formativo, sempre há uma ideia do ponto de chegada. A vida traz incertezas, e frequentemente o trajeto necessita de mudanças. O profissional é um eterno aprendiz, estando sempre no processo de construção do conhecimento.”

Cuidados com a saúde

A professora Adriana Carpes diz que falar de saúde e doença, é falar de condição de vida no dado momento do sujeito. E isso teve variação ao longo das épocas. Na idade média, as doenças eram associadas a causas sobrenaturais, ligadas diretamente à religião, que explicava esse processo de adoecimento vinculado a fenômenos da natureza, como os astros.
Logo, com o surgimento da filosofia, que visa a compreensão da existência, buscou-se a explicação desses problemas e sobrepujou-se as respostas do que era justificado pela religião. Assim, a filosofia assumiu um status maior da explicação dos problemas de saúde.
Já na idade moderna e contemporânea, entrou a visão cartesiana nos processos que envolviam o adoecimento, e a religião foi descartada como causa explicativa das doenças. Essas três épocas exemplificadas  mostram que sempre houve um caráter detentor da verdade na condição de explicar esses processos de adoecimento.



Quais os ganhos da racionalidade da ciência?

Conforme a palestrante, a racionalidade da ciência acompanha a evolução da sociedade há muito tempo. O surgimento do fogo na pré-história, por exemplo, representou um significativo ganho nas atividades diárias do homem, aumentando, inclusive, sua expectativa de vida. A ciência, apesar de desconhecida, estava presente nos modos de obtenção de fogo até o seu emprego, que justificam os consideráveis ganhos na época, como o declínio de infecções alimentares (pois os alimentos passaram a ser cozidos e assados, não mais crus), o aumento da defesa contra outras tribos e predadores, a ajuda no combate ao frio e a luz durante a noite.
Em contrapartida, Adriana nos traz para uma época totalmente distinta, onde podemos citar o surgimento da Penicilina em 1929, pelo escocês AlexanderFlaming. Trata-se do primeiro antibiótico que se tem relato, ajudando consideravelmente no tratamento de doenças, sendo um fungo que interage com os micro-organismos bactericidas, inibindo sua atividade e, consequentemente, protegendo a pessoa. A mais pura ciência sendo aplicada nos cuidados à saúde.

Abordagem sistêmica no cuidado à saúde

Adriana Dornelles destaca que "o complicado objeto do nosso cuidado são as pessoas, sendo necessário refletir certas posturas que estamos tendo. Os profissionais de saúde não estão contemplando a abordagem sistêmica. Se a pessoa é nosso objeto, devemos destinar à ela todo conhecimento, buscando melhorar todas suas condições. E não deve-se esquecer que este ser é multi-dimensional, necessitando de muita atenção, como a fatores psicológicos, sociais, espirituais e biológicos."

Palestra foi o segundo evento do XVIII SEPE
Foto: Ezekiel Dall'Bello
Partindo de tal pressuposto, considerando que a saúde é a interação de várias dimensões humanas, como estilo de vida, bens e serviços, biologia e ambiente, levantamos questionamentos, ela questiona: " Será que a formação do profissional da saúde está abordando todas essas dimensões, inerentes ao tratamento das pessoas?"

Para a professora  é preciso "abrir a cabeça" para todas possibilidades a fim de compreender a ciência da saúde humana, cedendo espaço na mente para a compreensão daquilo que vai além do ofertado pela faculdade.  Segundo ela, os processos de hoje podem não ser os mesmos de amanhã. É indescritível e, em parte, inimaginável a mudança epidemológica da sociedade em três décadas. "Se há 30 anos atrás as crianças morriam desnutridas, hoje sofremos com a obesidade. Será que o profissional que se formou da década de 70 está apto, apenas com sua formação, para tratar com a obesidade? Será que esse problema era estudado na formação acadêmica da época?", questiona.
 Para Adriana, a resposta se dá através da multidisciplinariedade (uma matéria complementando a outra) e logo, por meio da interdisciplinariedade (pensar junto os diferentes conteúdos). E defende ser irracional a “parte” representar o “todo”, pois antes do médico ser especialista, ele era um “generalista”, conhecedor de várias matérias. Hoje, domina e admite, em muitos casos, apenas sua especialização. "Onde se perdeu esse profissional completo? Os seis anos da graduação foram jogados fora, trocados pelos dois de especialização?", indaga.


O “X” da questão

O que Adriana Carpes tenta  traduzir é que a abordagem sistêmica visa impedir que os profissionais se formem ou continuem atuando com as mentes fechadas para outros campos ou para as diversas dimensões que situam o ser humano. As consequências, segundo ela, é a limitação das atividades do conhecimento e, particularmente, do tratamento de doenças e cuidados com a saúde. Bem como, ainda, a dificultação de ampliar os horizontes nos campos de conhecimento estudados ou à restrição de alguma atividade por sua segmentação.
Para finalizar o alicerce da abordagem sistêmica nos cuidados com a saúde, utilizou-se a palestrante de valiosos conceitos de escritores que conseguem sintetizar referida linha de pensamento, dos quais se segue Edgar Morin, esclarecendo o que há de vago e resumindo o que já é preciso.

 “...Efetivamente, a inteligência que só sabe separar fragmenta o complexo do mundo em pedaços separados, fraciona os problemas, unidimensionaliza o multidimensional. Atrofia as possibilidades de compreensão e de reflexão, eliminando assim as oportunidades de um julgamento corretivo ou de uma visão a longo prazo. Sua insuficiência para tratar nossos problemas mais graves constitui um dos mais graves problemas que enfrentamos...” (MORIN, 1999, p. 13 a 14)

      No trecho acima, Morin afirma que a ciência segmentada limita o entendimento das questões fundamentais que norteiam nossa existência, caracterizando-a não como uma solução, mas como um problema de pensar frente ao problema enfrentado, seja de saúde ou social. Abaixo, o autor ratifica tal afirmação ressaltando que a ciência, a despeito de seu profundo estudo, especialização e pesquisa, nem sempre é enquadrada como fator benéfico à sociedade, mas também um limitador a esta, que por vezes se vê refém de um ou outro profissional, pois o conhecimento é monopolizado e não-conjuntural.          

“...Assim, os desenvolvimentos disciplinares das ciências não só trouxeram as vantagens da divisão do trabalho, mas também os inconvenientes da superespecilização, do confinamento e do despedaçamento do saber. Não só produziram o conhecimento e a elucidação, mas também a ignorância e a cegueira...” (MORIN, 1999, p. 14)


Por Ezekiel Dall'Bello.