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sexta-feira, 30 de novembro de 2012

A difícil tarefa de popularizar o conhecimento


Por Camila Cunha
Divulgar ciência na mídia pode não ser uma tarefa muito fácil. Os conflitos surgem devido à divergência de discursos dos jornalistas e de profissionais de outras áreas especializadas. É necessário adequar a linguagem científica para a linguagem jornalística.
Para a jornalista Aline Dalmolin, mestre e doutora em Comunicação pela Unisinos, não foi difícil fazer essa adequação. A jornalista que teve trechos da sua dissertação sobre a reforma editorial executada por Padre Lauro Trevisan na revista Rainha publicada no Diário de Santa Maria, explica a forma como esquematizou sua publicação: “Procurei escrever um texto que articulou as entrevistas obtidas como dados na pesquisa, como se fossem entrevistas, ou seja, utilizando as informações do entrevistado como declarações”. Dalmolin ressalta que para isso solicitou uma nova autorização do entrevistado, visando as questões éticas de publicar as informações fora do âmbito original, no caso sua dissertação de mestrado.   Segundo o advogado, ex-promotor e professor de direito da Ulbra de Santa Maria, João Marcos Adede y Castro, é natural que o jornalista não compreenda a linguagem técnica muitas vezes utilizada em seus diversos trabalhos publicados na mídia. Por isso sempre envia aos jornalistas um resumo de suas pesquisas.
Adede y Castro afirmou que os jornalistas redigiram os textos das publicações sozinhos, apenas contando com as informações que lhes foram passadas. O advogado ainda ressaltou que, em raros casos, os jornalistas telefonaram para pedirem mais esclarecimentos sobre o assunto da pesquisa. Já Dalmolin afirma que o texto foi inteiramente redigido por ela mesma. Os jornalistas só realizaram o trabalho de edição e inclusão de imagens.
São estas questões que geram polêmicas. Será que os jornalistas estão preparados para divulgarem pesquisas de outras áreas sem perder a credibilidade?
Além de disseminar o conhecimento cientifico é necessário interpretá-lo e contextualizá-lo para que o leitor possa entender sua real dimensão. Porém, essa adequação impõe riscos e distorções nos conteúdos cientificos.  
Adede y Castro encara esses “erros” como naturais ao processo, mas no seu caso nenhum destes desvios comprometeu a informação que estava sendo passada.
Aline Dalmolin avalia a relação entre jornalistas e cientistas como amistosa e cordial, atingindo sempre o objeto de passar a pesquisa de uma forma melhor, e mais acessível. A pesquisadora conclui, dizendo que se não existisse essa relação, o público jamais teria acesso a informações importantes que muitas vezes ficam restritas apenas ao mundo acadêmico.
O papel do jornalista é essencial na divulgação e na democratização da ciência, e para que os trabalhos de pesquisadores não fiquem apenas restritos a pesquisadores ou guardados em gavetas. Divulgar pesquisas científicas é popularizar o conhecimento. Apesar de culturas diferentes os trabalhos de jornalistas e pesquisadores devem ser somados.
Graça Caldas em seu artigo sobre divulgação científica(2010) fala sobre essas diferenças que devem ser agregadas: “[...] devem utilizar as diferenças, exatamente, para garantirem a distribuição do saber, do conhecimento, em benefício público, para que a sociedade possa participar ativamente dos processos decisórios sobre assuntos que interferem diretamente no cotidiano”. 

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Divulgação científica e a consciência social da população

    Por Ingrid Bravo

   Por que divulgar ciência? Muitos motivos poderiam ser mencionados. Divulgar ciência ajuda a melhorar a educação e traz conhecimento. A divulgação científica atrai jovens ou entusiastas para o convívio do meio científico e ajuda a desmistificar conceitos equivocados e mitos sobre o papel do cientista ou pesquisador.

   Divulgar ciência não é um trabalho simples, porém, todos os envolvidos com ciência deveriam fazê-lo. Uma pesquisa bem apresentada ao público pode render reconhecimento e, até mesmo, fundos para continuar o trabalho. A população deve ter conhecimento da importância e necessidade dessa ou daquela pesquisa.

    Quando o cientista e/ou pesquisador divulga o seu trabalho, presta contas à sociedade daquilo que investiu. Um pesquisador tem de explorar um modo de divulgar o seu trabalho de maneira clara e precisa. Professora adjunta do Departamento de Fisiologia e Farmacologia do Centro de Ciências da Saúde da UFSM, Liliane de Freitas Bauermann, conta que divulgar o trabalho na mídia comum depende muito do que ele aborda. “Interesse do público é o que facilita ou dificulta a divulgação de qualquer trabalho produzido”, explica.

     Outro papel importante do divulgador é a correção de equívocos, conceitos errôneos e a má divulgação científica. Em nosso meio, existem pessoas que se aproveitam do vazio deixado pela ciência na mídia e se autoproclamam especialistas, quando muitas vezes nem trabalhos possuem. No caso do mestrando do Programa de Pós-graduação em Ciências Farmacêuticas da UFSM, Robson Borba de Freitas, a pesquisa acadêmica o acompanha desde 2008. “Durante minha vida acadêmica desenvolvi trabalhos com produtos naturais, dentre eles as plantas medicinais. O cerne do meu estudo está baseado na investigação de possíveis efeitos tóxicos de plantas medicinais da flora gaúcha”, relata o pesquisador.

            A linguagem superespecializada e os procedimentos rigorosos adotados pelos pesquisadores tendem a afastar a ciência das pessoas. Porém, a pesquisa é um produto social como outro qualquer. Para transladar os resultados de suas pesquisas aos meios de comunicação, Liliane ressalta que a divulgação varia do tipo de mídia. “Revistas, palestras, entrevistas, imprensa, televisão. Dependendo da mídia é a maneira como colocamos os resultados. Deve-se respeitar o formato da mídia. Tenho que ter a capacidade de adaptar os meus resultados conforme as regras da mídia”, ressalta.

            A ciência, no entanto, não deve ser simplificada na pedagogia do “Você sabia?”. Para os pesquisadores, ciência é bem mais que uma compilação de curiosidades. “Em pesquisa, não gosto de falar em desfecho bom ou ruim. Resultado negativo também é resultado, tendo bastante valia no meio acadêmico. Na minha linha de pesquisa, provar através de métodos estatísticos que uma determinada planta é tóxica, mesmo querendo que ela fosse isenta de toxidez, agrega conhecimento a pesquisadores e profissionais da área da saúde que desconheciam tal característica”, explica Robson. Deu para entender por que pesquisar a ciência não é brincadeira?

            A divulgação científica possui múltiplos objetivos e pode ser realizada de forma individual ou em grupo. No laboratório em que chefia na UFSM, Liliane parte do princípio da coletividade. “Todos nos ajudamos. Dá para se dizer que uns são assessores dos outros. Desta maneira, podemos atuar em várias posições. Por exemplo, não tem uma pessoa que faça uma análise bioquímica e só ela domine a técnica, ao contrário, ela ensina outra pessoa e esta outra pessoa assim por diante”, completa a pesquisadora.

            As formas mais tradicionais de divulgação são em forma de textos, vídeos, feiras e palestras, porém também é possível disseminar o conhecimento científico através das novas tecnologias como blogs e portais na internet. Uma preocupação de quem faz divulgação científica é saber como a mídia trata o seu trabalho. Será que esse material científico vai ser de interesse do público em geral? Como avaliar estes interesses?

            Para Liliane, a imprensa traz um pequeno espaço de divulgação, porém, segundo ela, nunca negou atenção para as atividades realizadas no laboratório. “Dentro da instituição que trabalho, atualmente, nosso trabalho vem sendo prestigiado, principalmente, pelo nosso programa de extensão Prevendroga. Quanto à pesquisa básica, a UFSM dispõe de atividades para divulgação.”, diz.

            É fato que os cientistas precisam fazer divulgação científica para que a sociedade forme uma consciência social sobre a atividade científica, mas é essencial o contato dos cientistas com a realidade da sociedade. A partir desse entendimento da realidade e do conhecimento científico, a ciência consegue promover inovações e trazer avanços tecnológicos em prol de todos.

A divulgação científica vista por eles, os pesquisadores


Por Mauren Freitas
     A divulgação científica, também chamada de “popularização da ciência” envolve as atividades que buscam fazer a mediação de informações produzidas na academia para a comunidade em geral, deforma a difundir o conhecimento científico para públicos/leitores não especializados.
     Aos cientistas cabe o papel de pesquisar, tentar transformar o conhecimento acadêmico em prática, em uma forma de conhecimento “palpável” que a população possa usufruir e se beneficiar de alguma forma. Afinal, é a sociedade que financia, indiretamente, os estudos realizados nas universidades, e deve receber o retorno deste investimento. Já ao jornalista, cabe o papel de divulgar os resultados destas pesquisas da ciência. Porém, durante este processo são identificadas algumas zonas de tensões entre jornalistas, os mediadores do processo, e cientistas, os responsáveis pelas descobertas. Mas, por que isso acontece? Quais as principais dificuldades de se transmitir a ciência à sociedade? Com a palavra, eles: os pesquisadores.
     Para o economista, professor adjunto horista do Centro Universitário Feevale Coordenador do Polo de Inovações Tecnológicas e Sociais da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), José Airton Brutti, a mídia divulga o que é do interesse de seu público e que este segmento do jornalismo não é muito popular. “Dá para contar as vezes que os resultados de pesquisas são divulgados na mídia.  Isso só ocorre quando é algo bizarro ou, então, muito inovador. Trata-se do que é interesse e o que não é para aquele meio”. Ainda segundo Brutti, o Brasil produz milhares de artigos científicos por ano, mas o conhecimento científico acaba ficando restrito às academias por falta de interesse editorial e profissionais capacitados para fazer esta transição de conhecimento e linguagem.
    “Gostaria que houvesse maior divulgação na mídia do que é realizado nas universidades, é o meio de repassar o conhecimento à comunidade”, afirma Melânia Palermo Manfron, doutora em Ciências Biológicas pela UNESP, professora de Farmacognosia no Curso de Farmácia da UFSM e chefe do Departamento de Farmácia Industrial da UFSM. Segundo Melânia, o tratamento jornalístico dado às pesquisas carece de alguns critérios, mas ela reconhece e ressalta a importância desta divulgação. “Quando fui convidada para divulgar trabalhos realizados, conversamos um pouco sobre as perguntas que seriam feitas e tudo transcorreu normalmente. O resultado da divulgação foi positivo”, afirma.
    O farmacêutico e doutorando do Programa de Pós-graduação em Ciências Farmacêuticas da UFSM, Ritiel Corrêa da Cruz, traz um questionamento diferente em relação ao tratamento jornalístico dado às pesquisas científicas. “Em pesquisa, se gera muito resultado negativo. Mas, um dos principais problemas que eu identifico é que o atual modelo de divulgação científica só foca no positivo”, afirma o doutorando. Para ele, isto é muito equivocado. Afinal, o resultado negativo faz descobertas tão boas quanto ao resultado positivo, pois ajuda outros pesquisadores a excluir possibilidades e, de certa forma, poupa tempo e recursos financeiros, que seriam investidos de forma equivocada. Cruz faz outra crítica em relação aos critérios jornalísticos de publicação. “A mídia procura os resultados positivos, pois são mais impactantes. Podendo ser tratados de forma mais sensacionalista”.
   Já a professora de Enfermagem do Centro Universitário Franciscano (Unifra) e doutora em Enfermagem pela UFSC, Dirce Stein Backes, acredita no jornalismo como uma ferramenta fundamental para a evolução e popularização da ciência. “O principal papel do jornalista é ajudar a desenvolver essa nova cultura de conhecimento acadêmico, para desenvolver ainda mais a pesquisa. Para isso, precisamos de algo impactante, e o jornalismo é algo extremamente, impactante. Precisamos, nós enquanto pesquisadores, saber aproveitar e usar destas possibilidades de divulgação”.
     Katia Barreto, doutora em Ciências Biológicas pela UFRGS e professora do Departamento de Fisiologia da UFSM, acredita que tudo depende do “alvo” da mídia e considera que o jornalista deve passar a informação de forma que ela seja entendida pelo maior número de pessoas. “Por exemplo, é compreensível que uma notícia do resultado de uma pesquisa muito importante, publicado em uma revista igualmente importante, tenha que ser ‘traduzido’ para um contexto mais próximo do público-alvo”, declara Katia. Quando questionada em relação à linguagem e as discrepâncias evidenciadas pelos pesquisadores nos textos jornalísticos de ciência, a professora acrescenta que não ocorrem distorções graves no sentido de desqualificar a informação original passada pelo pesquisador.
     O fato é que cada um dos pesquisadores ouvidos tem um ponto de vista diferente. Alguns meio parecidos, outros, divergentes. Entretanto, todos convergem, quando aceitam a mídia como um ótimo espaço de circulação e popularização da ciência. O que importa, realmente, é ter-se identificado, de forma primária, os acertos, os erros e os preconceitos que existem entre as classes. Principalmente, a leitura que a mídia faz dos resultados das pesquisas científicas, vista por eles, os cientistas. 

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Marcelo Gleiser: o físico literático


Essa análise foi realizada acerca da coluna do físico Marcelo Gleiser publicada na edição imprensa e na página virtual do jornal Folha de São Paulo. O colunista é professor de física e astronomia do Dartmouth College, em Hanover (EUA). Gleiser venceu duas vezes o prêmio Jabuti, e é autor de diversas publicações, seu livro mais recente está “Criação Imperfeita” onde fala sobre a relação tênue entre religião e ciência, e desmistifica a ideia de que há ordem sob o Universo, defendendo a celebração das imperfeições da natureza.
Foram selecionados os dois últimos textos publicados por Marcelo Gleiser em sua coluna. Gleiser escreve com uma periodicidade semanal. Dessa forma, serão apresentados os textos “A morte do Nada” e “Copérnico traído”, respectivamente dos dias 4 de novembro e 28 de outubro de 2012. Na página da Folha de São Paulo, estão disponíveis mais de 60 textos do colunista. Seu primeiro texto publicado foi “Ciência e inovação no Brasil”, no dia 7 de agosto de 2011. Na edição imprensa, sua coluna é veiculada aos domingos no caderno “Cotidiano” na editoria de “Ciência + saúde” O espaço de sua coluna no impresso faz uma relação com o cotidiano do leitor. Dessa forma, se dá ênfase a ciência com participação constante no dia-a-dia do leitor.
No espaço virtual, seu texto abre espaço para comentários do leitor, bem como o compartilhamento através das redes sociais. “A morte do Nada” possui 18 comentários até o momento da análise, enquanto “Copérnico traído” foi comentado 24 vezes. É comum encontrar um entrelaçamento com o literário na forma de escrever de Marcelo Gleiser, onde o leitor é conduzido por linhas que não tem a complexidade conhecida da ciência e que lhe sugere uma leitura fluida. É preciso salientar, ainda, que o autor não se enquadra em gênero informativo, pois fala de ciência com um tom pessoal onde, talvez, sua forma de escrever refere-se ou assemelha-se às crônicas, gênero tradicional em jornal impresso.
No primeiro texto “A morte do Nada”, Gleiser discute a suposta existência de um espaço vazio ou simplesmente o Nada, sob a atmosfera terrestre. Com uma escrita totalmente configurada na interpretação pela literatura narra, brevemente, a cronologia de estudos sobre a existência de um breu. Contextualizando com teóricos nas áreas de física, astronomia e filosofia, cita grandes nomes da ciência como Tales, Descartes, Aristóteles, Newton e Einstein, desmembrando esses estudos sobrepostos uns aos outros. Nessa publicação, o autor fala sobre a inquietude do ser humano em novas descobertas e em entender-se no seu espaço. Contudo, posiciona-se categoricamente ao encerrar sua discussão com a seguinte frase: “Existimos numa natureza plena-plena de essências e mistérios.”.
Já no segundo texto, “Copérnico traído”, fala sobre os problemas entre ciência e religião nos séculos 16 e 17. Para contar a história da traição a Copérnico, Gleiser narra a história desde a hipótese da circunferência terrestre até a publicação traiçoeira dos manuscritos da sua comprovação teórica. Diferente do primeiro texto analisado, em “Copérnico traído”, o autor não fala apenas da inquietude do ser humano, mas sim da difícil relação entre ciência e religião, ressaltando que muitos cientistas podem ser reconhecidos postumamente como é o caso de Copérnico. A Revolução Copernicana o teve junto a Galileu e Johannes Kepler. Por isso, Marcelo Gleiser termina dizendo que “Copérnico morreu traído, mas é imortalmente celebrado como um dos heróis da história do pensamento.
Seu texto fala diretamente ao leitor em alguns momentos, traz exemplificações relevantes à realidade cotidiana de quem lê sua coluna, além de trazer metáforas em seus textos. O autor intriga a mente do leitor que é conduzido para o que mais lhe parece plausível.


Por Thales de Oliveira

Zoonoses, um mal comum do qual ninguém fala



Pare tudo o que está fazendo, preciso te contar uma história!
Já ouviu falar em zoonoses?


     Há centenas de anos, homens e animais dividem um mesmo território. Desta convivência geram-se boas e más consequências e, entre elas, as doenças. Mesmo que o nome soe estranho em muitos ouvidos, Zoonose nada mais é que um termo para designar doenças e infecções transmitidas de forma natural entre bicho e humano. Apesar destes males serem erroneamente associados aos animais de rua, é importante ressaltar que neste cenário, ambos (homem e animal) atuam como verdadeiros hospedeiros. Entretanto, a transmissão – de fato – ocorre através de vírus, bactérias, fungos e outros microorganismos diversos.
       Hoje as zoonoses são consideradas um risco à saúde pública e sua mutação acompanha o desenvolvimento da sociedade. De um antigo conhecido como o bicho de pé até as novas doenças, como a H1N1, pode-se encontrar uma catalogação de aproximadamente 200 enfermidades.

Os diagnósticos das zoonoses

Alexandre V. Schwarzbold
   No centro do estado são elencadas por sua recorrência algumas doenças consideradas comuns como a leptospirose, a criptococoses, a tuberculose, a toxoplasmose e a histoplasmose. As zoonoses possuem tratamentos, mas nem todas podem chegar à cura, como é o exemplo da leptospirose, que atinge um índice de morte em 10%  dos casos.
     De acordo com o infectologista Alexandre Vargas Schwarzbold, é difícil estabelecer os indicativos de uma zoonose. Segundo ele, “em geral as doenças compartilham de alguns sintomas, que são chamados de sintomas sistêmicos e sugerem uma doença infecciosa que talvez tenha sido transmitida por animal”. Num panorama geral é possível citar a febre, o suor noturno, o emagrecimento, o aumento de gânglios e aumento do baço e do fígado. No entanto é somente com a sorologia laboratorial que se pode diagnosticar, de forma precisa, as zooonoses.

      Santa Maria é um município difícil de contabilizar os casos de zoonoses. De acordo com o médico especializado em saúde pública, Paulo Cesar Schaefer, “é importante o médico ter conhecimento sobre a situação do enfermo, pois o que leva ao diagnóstico é a queixa do paciente”. Entretanto, ele explica que muitos profissionais medicam seus pacientes a partir de seus quadros clínicos, e não detectam a presença da zoonose deixando de registrá-la. Schaefer relembra que “a leptospirose, por exemplo, é muito confundida com a gripe. Se o paciente não expuser o problema de forma clara, sem omissão de fatos, é difícil chegar aos agentes causadores, resultando em um tratamento equivocado”. O especialista ainda fala da falta de investigação médica ao estabelecer um diagnóstico preciso: “Se a medicação receitada surtiu efeito, o caso é dado como encerrado, ou ao menos, controlado”.
      Carlos Flávio Barbosa da Silva, médico veterinário e chefe do setor de vigilância em saúde, complementa a explanação de Paulo Schaefer quando diz que não é possível estabelecer um número exato de casos de zoonose em Santa Maria. Segundo ele, o fato se dá por consequência de um “procedimento conhecido como tratamento empírico”, que por sua vez, ocorre devido aos médicos não registrarem os casos de zoonoses junto ao estado.


Uma forma de controle das doenças


Animais que podem transmitir zoonoses são subdivididos em duas classes

      Segundo pesquisa realizada por Wanderson Kleber de Oliveira, Coordenador Nacional de Doenças Transmissíveis no Departamento de Vigilância Epidemiológica, estima-se que “75% das novas doenças humanas terão um animal ou um vetor envolvido em sua cadeia de transmissão”. Mas apesar do alto percentual de estimativa, estudos acompanham estas evoluções em busca de tratamentos e prevenções.
Durante muitos anos o único recurso para o controle de epidemias foi os Centros de Controle de Zoonoses (CCZ). Unidades de saúde pública, os CCZs previnem e controlam as zoonoses através de sistemas de vigilância sanitária. Promotores de ações educativas, os centros também são responsáveis pelo controle de animais, pelo recolhimento de errantes e pela eutanásia (para portadores de doenças sem tratamento).
     Em Santa Maria o controle destas doenças é um trabalho feito pela Vigilância em Saúde. Mesmo entendendo como necessária a implementação de uma estrutura de um CCZ no município, o chefe do setor de vigilância, Carlos Flávio Barbosa da Silva, ressalta que devemos “parar de pensar um serviço, uma ação ou uma atividade a partir de uma estrutura física”. Segundo o vigilante em saúde, a proteção à saúde deve ultrapassar o elemento físico, afinal, quando se trabalha com zoonose, é preciso conhecer o “perfil da população, a densidade populacional, os hábitos, costumes, posturas, condutas, atitudes e formações”. Silva põe em relevância a formação do povoamento de uma região, pois ao adentrar a natureza, o homem afeta o ponto de equilíbrio do meio ambiente.
     Esta má ocupação geográfica e a falta de estrutura municipal deixam espaço para o aumento de doenças. Deste modo, para remediar a propagação destas doenças, hábitos de higiene podem ser necessários. Tratar o esgoto, manter a casa limpa e destinar adequadamente os lixos, são mudanças que ajudam garantir a saúde do homem e do animal.



Soluções aplicadas pela administração pública

Vereador Manuel Badke

     Além das manifestações da comunidade é também de interesse do governo garantir a saúde da população. Manuel Badke, presidente da Câmara Municipal de Vereadores de Santa Maria, explica que a cidade está em processo de adaptação às novas leis.
     Três novidades devem se instalar na cidade e a primeira a ser posta em prática é a microchipagem. Animais considerados domésticos deverão ser registrados em um cadastro público e receber um chip. Com a nova lei, o chip funcionará como uma espécie de identidade que remeterá o animal ao seu dono e atribuirá a ele todas as responsabilidades de possíveis acontecimentos como o abandono e maus tratos. Outras novidades serão: a Central do Bem Estar do Animal e a criação do Conselho Municipal de Proteção Animal.  Um novo conceito de ação preventiva, de acordo com Badke, os novos projetos visam garantir os direitos e os cuidados com os animais, além estimular o zelo coletivo pela autoavaliação do comportamento social.



*Dados estatísticos foram solicitados para o Hospital Universitário de Santa Maria e para a Vigilância Sanitária de Santa Maria. Até o fechamento desta matéria não foi possível obtê-los.



Prevenção por vacinação

De acordo com a informação prestada pela central de vacinas de Santa Maria, no portal da saúde do governo nacional é possível encontrar as vacinas para crianças, adolescentes, adultos e idosos ( http://portal.saude.gov.br) e na página da prefeitura de Santa Maria, estão disponíveis os contatos dos postos de saúde (http://www.santamaria.rs.gov.br/saude).




Conheça as principais Zoonoses:


Zoonoses e Doenças
Parasitárias
Agente Etiológico
Principais Fontes de Infecção e Reservatórios
  Vias de Transmissão
Criptosporidiose
 Cryptosporidium spp
 Mamíferos
 Ingestão de água e alimentos contaminados com oocistos
 Doença de Chagas
 Trypanosoma cruzi
 Mais de 200 espécies de mamíferosprincipalmente o gambá Didelphis sp
 Contato com as fezes dos vetores biológicos (hemípteros) principalmente dos gêneros Triatoma, Panstrongylus e Rhodnius contendo tripomastigotas
 Giardíase
 Giardia intestinalis
 Carnívoros
 Ingestão de água e alimentos contaminados com cistos
 Larva migrans cutânea
 Ancylostoma braziliensis
 Canídeos
 Solo contaminado com ovos do parasita e através da pele (larvas)
 Larva migrans visceral
 Toxocara canis
 Canídeos
 Fecal-oral (solo contaminado com ovos do parasita)
 Leishmaniose tegumentar
 Leishmania braziliensis
 Roedores (principais), preguiça, tamanduá,
canídeos, eqüídeos
 Vetores biológicos flebotomíneos Lutzomyia spp (mosquito-palha)
 Leishmaniose visceral
 Leishmania chagasi
 Canídeosprincipais reservatórios
 Vetores biológicos flebotomíneos Lutzomyia spp (mosquito-palha)
 Toxoplasmose
 Toxoplasma gondii
 Felídeos e animais endotérmicos
 Ingestão de oocistos esporulados na água e alimentos contaminados, carnivorismo (cistos teciduais-bradizoítas) ou transplacentária (taquizoítas)



 Zoonoses e doenças infecciosas
 Agente Etiológico
  Principais Fontes de Infecção e Reservatórios
 Vias de Transmissão
 Brucelose
 Brucella abortus B. suis,B. ovis e B. canis
 Ungulados e carnívoros
 Ingestão de pastos contaminados com brucélas através de fetos abortados, placenta e líquidos uterinos. Exposição por meio das mucosas genital e conjuntival, da pele e das vias respiratórias
 Febre maculosa
 Rickettsia rickettsii
 Capivaras.Principal reservatório suspeito
 Através de picadas de carrapatos, possivelmente do gênero Amblyomma spp
 Histoplasmose
 Histoplasma capsulatum
 Morcegos e aves
 Através da inalação dos esporos dos fungos em ambientes fechados, cavernas principalmente
 Leptospirose
 Leptospira interrogans.Diversos sorovares
 Roedores e carnívoros
 Por meio de contato de mucosas ou pele com água, fômites ou alimentos contaminados com urina dos animais (fontes de infecção)
 Raiva
 Lyssavirus
 Morcegos e carnívoros
 Através da mordedura de animais raivosos
 Salmonelose
 Salmonella spp
 Répteis, aves e mamíferos
  Através da ingestão de salmonelas viáveis
 Tuberculose
 Mycobacterium
tuberculosis e M. bovis
 Mamíferos: Herbívoros, carnívoros e primatas
 
 Através da inalação de esporos no meio ambiente, principalmente fechado.
Fonte: Portal da Educação.


Por  Aline Zuse e Rúbia Keller

Carlos Alberto dos Santos e as inovações científicas e tecnológicas

Esta análise observa dois textos da coluna do físico Carlos Alberto dos Santos, professor visitante sênior da Universidade Federal da Integração Latino-americana (Unila), Do Laboratório para a fábrica, publicada na primeira sexta-feira do mês, no site Instituto Ciência Hoje, desde abril de 2007. Os textos do físico apresentam casos de inovação tecnológica.

Analisamos os textos Eletrônica Biodegradável e Alice, Bob e a comunicação quântica, dos dias 5 de outubro e 2 de novembro, respectivamente, quanto aos critérios jornalísticos.

No texto Eletrônica Biodegradável, o físico explica sobre um novo tipo de circuito eletrônico que se dissolve em contato com líquidos. Com relação aos critérios jornalísticos, pode-se dizer que Carlos Alberto dos Santos escreve como um jornalista. Os temas da ciência, geralmente, são difíceis de serem entendidos, porém o físico escreve com uma linguagem de fácil entendimento para quem não tem conhecimento sobre o assunto. Por ser físico e compreender bem como o circuito eletrônico funciona, Carlos Alberto explica de forma didática o processo do trabalho e seus resultados.

Com uso de exemplos, Carlos Alberto explica sobre a fabricação de um circuito eletrônico biodegradável composto de resistores, indutores, capacitores, transistores e diodos, ou seja, um chip biodegradável. Todos esses componentes se dissolvem em água ou em fluidos corporais, pois têm dimensão nanométrica. O assunto é atual e relevante para os cientistas e também médicos.  O próprio colunista explica de forma simples: “Qual médico ou paciente não ficaria satisfeito, por exemplo, com a possibilidade de implantar um dispositivo com finalidade diagnóstica ou terapêutica em algum órgão do corpo sem a necessidade de uma segunda intervenção cirúrgica para retirá-lo depois de cumprida sua função?”.

Já na última matéria, Alice, Bob e a comunicação quântica, Carlos Alberto fala sobre as aplicações de um dos mais inusitados fenômenos da física quântica e o arcabouço teórico por trás delas. O físico utiliza dois personagens fictícios, Alice e Bob, para ajudar a explicar as aplicações práticas de um fenômeno da física quântica, denominado pelo físico austríaco Erwin Schrödinger de entrelaçamento quântico.

Com o uso desses dois personagens, Carlos Alberto desenvolve uma explicação sobre o que acontece quando dois sistemas quânticos são preparados de forma que haja interação entre eles. Favorecendo a formação de um sistema composto, os personagens (Alice e Bob) deixam de ser independentes, e por isso o sistema é dito entrelaçado ou emaranhado.

Em relação ao uso dos critérios jornalísticos de relevância, atualidade e interesse social e humano, o colunista discorre sobre a teoria quântica, sendo a base para o desenvolvimento da criptografia quântica, em que o emissor e receptor podem criar e partilhar informações que permitem controlar a operação de um algoritmo para codificar e decodificar mensagens.

O físico ainda relata outro exemplo em que a comunicação quântica se faz presente, dessa vez relacionada ao teletransporte. A computação quântica, além da criptografia e do teletransporte, também se baseia nos preceitos gerais da comunicação quântica. Em maio do ano passado, a empresa canadense D-Wave Systems anunciou a venda de um computador quântico para a empresa norte-americana Lockheed Martin Corporation. Segundo o colunista, “ao que sabe, foi a primeira comercialização desse tipo de produto, vejamos o que virá”.

Após a leitura dos textos, foi possível perceber que o físico Carlos Alberto dos Santos consegue transmitir, de forma simples, o conhecimento a respeito de assuntos de ciência e tecnologia. As análises de pesquisas são feitas com o intuito de mostrar relevância para outros “mundos” como o da medicina, utilizada no texto da Eletrônica Biodegradável. Os temas são atuais e o físico mostra possuir conhecimento sobre os temas tratados em cada texto.

Carlos Alberto dos Santos nasceu em Areia Branca (RN) em 1947. Formou-se em física pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) e tem mestrado e doutorado em física pela UFRGS, com estágio de pós-doutorado no Centro de Estudos Nucleares de Grenoble, na França.


Por Ingrid Bravo.

Onde ler sobre mobilidade sustentável



No portal UOL, mais precisamente nas páginas da editoria de ciência, está indicado o blog Mobilidade Sustentável, de Lincoln Paiva. Como o próprio nome denuncia, a página apresenta as atitudes e impactos do homem e da sociedade no meio em que vivem, assim como apresenta as alternativas propostas para sanar ou reduzir os problemas no meio-ambiente. Também discute políticas públicas e de acessibilidade: “as desvantagens de termos o carro como principal meio de transporte e o dilema da mobilidade. Quanto melhor a situação da economia, maior a demanda por transporte”. 
Lincoln Paiva, responsável pela página, é ambientalista e consultor de mobilidade sustentável. Membro da Sustainable Low Carbon Transport-SLoCat, coordenada pelo Depto. de Desenvolvimento Socioeconômico da ONU, é também membro da Cities-for-Mobility, rede mundial de mobilidade urbana coordenada pela cidade de Stuttgart, na Alemanha e idealizador do projeto MelhorAr de Mobilidade Sustentável em São Paulo, entre outros.
Apesar da extensão de seu currículo -o que faz o leitor esperar por grandes matérias de compreensão quase nula- Lincoln Paiva recheia as páginas de seu blog com matérias curtas e de fácil compreensão. Baseada nas duas últimas matérias publicadas, “A incrível revitalização de bairros de Guangzhou através da reconstituição de antigos rios e canais que haviam sido aterrados”, de 02/10/2012; e a “AT&T entra no mercado de bicicletas públicas gratuitas através de sistemas Smart Phone”, de 5/10/2012, percebi que a acessibilidade textual serve como um chamariz ao leitor pela escassez de termologias científicas e também pela linguagem simples. As dificuldades dos temas que apontam os títulos logo são diluídas em matérias convidativas, que atiçam gradativamente o interesse de qualquer indivíduo ao longo da leitura. Por outro lado, Paiva não se atém a maiores detalhes que, supostamente, devem atormentar os internautas fiéis, uma vez que a falta deles pode gerar certa decepção, e o assunto naturalmente gera um público seleto.
Os critérios jornalísticos, mesmo que haja, não são facilmente destacados, justificado pelo fato de Lincoln Paiva atuar em outra área. Embora as pautas sejam de interesse geral (no geral), abordando Brasil e mundo, os títulos desnecessariamente extensos podem gerar falsa expectativa. Nem mesmo uma espécie de lead, recurso jornalístico típico de organização, é empregado no desenvolvimento da matéria, fazendo com que o leitor encontre informações de primeira instância nas últimas considerações. O blog aborda assuntos da atualidade em conjunto com matérias frias, onde algumas não são vistas comumente em jornais ou revistas. Todavia, não pode ser considerado pioneiro, tanto pela abordagem sucinta quanto pela extensão de assuntos pautados por outras mídias.
O blog traz, na tipicidade do veículo, ilustrações que corroboram e ilustram as matérias e, por ser uma plataforma on-line, desenrola temas de maneira rápida e fácil, indicado para leitores que optam por leitura dinâmica e agilidade na informação. Mobilidade sustentável é um canal de informações que instiga a procura por maiores conhecimentos.
 Por Rúbia Keller

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Melhoria genética em gado leiteiro, uma realidade em Caçapava do Sul

Em Caçapava do Sul, no ano de 2009, os criadores de gado leiteiro holandês se uniram para desenvolver um projeto de melhoramento genético da raça. A partir daí, houve um aumento de 23% na produção leiteira da cidade. Taxas de reprodução também subiram - cerca de 9% - assim como os índices de gordura do leite, o que resultou numa elevação do valor de mercado do produto.

Sandro Diaz, médico veterinário, especialista em reprodução animal e criador de gado de leite, foi quem teve a iniciativa de apresentar aos produtores de Caçapava do Sul um estudo que mostrasse as possibilidades de melhoria genética para as raças leiteiras. O produtor rural José Luiz Duarte via tal melhoramento morfológico como algo fora do alcance para os produtores da região. Para lidar com os animais defeituosos, Duarte utilizava um sistema de descarte, que acarretava em queda nos lucros, algo que foi revertido após a implementação dos programas de melhoramento genético. “No começo esta proposta do Sandro me causou um pouco de desconfiança, sou criado na moda antiga, mas hoje vejo os resultados e que a tecnologia usada de maneira certa auxilia em todas as áreas”, completa José Luiz Duarte.

O processo de reestruturação do gado em Caçapava começou pela otimização na alimentação do rebanho e estudos de solo, com a finalidade de descobrir a viabilidade do plantio das pastagens existentes. Depois da escolha das pastagens mais adaptáveis, foi feito um levantamento sobre as qualidades nutricionais de cada planta. Aliado a isso, foi desenvolvida uma ração balanceada que supria as necessidades nutritivas do animal e aumentasse seu potencial produtivo. Após tomar todos os cuidados com a alimentação, o rebanho já estava pronto para que fosse iniciada a segunda etapa do programa: homogeneizar o cio das vacas para que elas tivessem seu pico produtivo nas épocas do ano em que o produto tem mais valor de mercado. Para isso, foi utilizado um dispositivo colocado no cólon do útero das vacas que em determinado período forçava o animal a entrar no cio. Por fim, a última etapa é a alteração morfológica que permite a correção de defeitos genéticos que comprometiam a produção leiteira das matrizes. O processo escolhido foi o casamento genético, que consiste em analisar as qualidades que o touro e suas crias trazem em seu DNA com a probabilidade de sanar os defeitos morfológicos das matrizes.

A parceria entre os criadores da raça holandesa em Caçapava do Sul resultou em investimentos para pesquisas na área das alterações morfológicas, o que possibilitou o diagnóstico de defeitos genéticos que prejudicavam a produção leiteira. João Alberto Gonçalves, criador de gado leiteiro na cidade desde 1992, acompanhou a evolução do processo de melhoria genética do gado holandês, e avalia que, nos últimos 20 anos, houve um grande salto de qualidade no rebanho e na produção leiteira da região. “A utilização de tecnologias como a inseminação casada e os dispositivos para sincronização de cio dos animais, aliados às pesquisas na área de nutrição fazem com que a produtividade por animal tenha crescido de maneira bastante considerável”, afirma João Alberto Gonçalves.


Dados gerais

- O Projeto Mestiço Leiteiro Brasileiro (MLB) foi o primeiro programa a testar progenitura para gado leiteiro no Brasil. Os primeiros testes de progênie eram organizados da seguinte maneira: produção e distribuição de sêmen, acompanhamento dos registros zootécnicos em fazendas colaboradoras, controle leiteiro e processamento de amostras para sólidos do leite em laboratório central. Também foi elaborado um software para a inclusão e validação das informações.

- O Programa de Melhoramento de Zebu para Leite (na época, o programa não pôde ser implantado devido à exigência da ABCZ de realizá-lo apenas com matrizes registradas, que eram apenas 500, número considerado insuficiente para as pretensões do programa) foi uma iniciativa da ABCZ (Associação Brasileira dos Criadores de Zebu), que contou com o interesse de instituições de pesquisa, como a EPAMIG (Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais). O projeto para zebuínos tinha como objetivos:
1. Promover e coordenar a implantação de um Programa de Seleção a nível nacional para produção de leite.
2. Obter material experimental para estudos visando o aperfeiçoamento da metodologia de seleção de gado de leite.
3. Proporcionar oportunidade para os técnicos conhecerem diretamente os problemas encontrados na aplicação prática de um programa de melhoramento.

- O Programa de Teste de Progênie do Gir Leiteiro tinha como principal finalidade avaliar as características de produção de leite e seu teor de gordura. Houve então a ampliação para Programa Nacional de Melhoramento do Gir Leiteiro (PNMGL) e novos testes foram feitos, como: avaliação de características teores de proteína, lactose e sólidos totais do leite.

- O Programa Nacional de Melhoramento do Guzerá para Leite (PNMGuL), foi uma parceria entre Embrapa Gado de Leite, Universidade Federal de Minas Gerais, Centro Brasileiro de Melhoramento do Guzerá e criadores de Guzerá e ABCZ.

Por Maurício Nascimento e Raul Kurtz

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Pesquisa analisa diagnósticos da Equinococose cística

Você já ouviu falar da Equinococose cística ou Hidatidose?
Um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Santa Maria – UFSM pode ajudar a entender melhor. A equipe pesquisa sobre o “Diagnóstico da Equinococose cística por meio de análises de cistos bovinos provenientes da região central do Rio Grande do Sul”, no Laboratório de Parasitologia Humana e Biologia Molecular. A pesquisa é coordenada pelos professores Mário Luiz de La Rue e Sônia de Avila Botton que orienta a equipe composta por discentes pós-graduandos e estudantes de iniciação científica. O trabalho recebeu o 3º lugar como apresentação oral destaque no 5º Congresso Internacional de Bioanálises, 7º Congresso Sul Brasileiro de Biomedicina e 12ª Semana Gaúcha de Biomedicina, promovido pela Universidade Feevale de Novo Hamburgo.

O que é a Equinococose cística
Também conhecida como Hidatidose, a Equinococose Cística é uma infecção que pode ser adquirida em contato com os animais,e  causada por um parasita pertencente à Classe Cestoda. Do gênero Echinococcus, seu ciclo de vida envolve dois hospedeiros. O verme adulto vive no intestino delgado do cão, sendo seu hospedeiro definitivo (HD). Os ovos do parasito contaminam o meio ambiente, incluindo os alimentos de mamíferos domésticos e silvestres, considerados os hospedeiros intermediários (HI). Este parasito pode, acidentalmente, contaminar humanos considerados hospedeiros acidentais (HA), através da ingestão de ovos do parasita junto a alimentos contaminados ou no contato com cães contaminados, de forma a abrigar a forma larvária do parasito.

A Equinococose é uma enfermidade de ampla distribuição geográfica, sendo encontrada em regiões consideradas endêmicas de várias partes do mundo. Os locais mais comuns de se encontrar a Equinococose, geralmente, são as pequenas e médias propriedades produtoras de carne, especialmente ovina, caprina, bovina e suína, onde a criação e o abate dos animais ocorre, na maioria das vezes, de forma artesanal e não apresenta inspeção veterinária. Basicamente, quatro espécies do gênero Echinococcus foram encontradas no Brasil: E. vogeli (Raush & Bernstein, 1972), E. granulosus (Batsch, 1786), E. ortleppi (Lopez-Neyra & Soler Planas, 1943) e E. oligarthrus (Diesing, 1863).



A prevalência da equinococose em seres humanos varia segundo as regiões geográficas, mas estima-se que cerca de meio milhão de pessoas estão infectadas pela fase larvária do E. granulosus na América Latina. O contágio ocorre acidentalmente quando o ser humano ingere ovos do parasita presente em verduras cruas contaminadas. No caso das crianças, o contágio pode ocorrer ao levar os dedos à boca após o contato com cães contaminados. Dessa forma, o parasita continua o ciclo biológico no interior do organismo humano, quando corre a formação dos cistos.

Estudo realizado pela Secretaria da Saúde do Estado do Rio Grande do Sul demonstrou que na zona rural da área endêmica o número de indivíduos sorologicamente positivos variou de 0,02 a 0,09% em relação à população total. O diagnóstico da equinococose cística é pressuposto a partir de sinais clínicos, tecnologias de imagem (tomografia, ultrassonografia) e alguns testes de imunodiagnóstico que o médico poderá realizar o diagnóstico.

Entenda a pesquisa
A pesquisa “Diagnóstico da Equinococose cística por meio de análises de cistos bovinos provenientes da região central do Rio Grande do Sul” teve como objetivo analisar amostras de cistos em órgãos de bovinos oriundos de frigoríficos da região central/RS para identificar a presença de Echinococcus spp. Segundo a mestranda responsável pela pesquisa, Danieli Urach Monteiro, foram escolhidas amostras bovinas, pois são as mais encontradas nesta região. “Na região da fronteira encontramos mais amostras ovinas, mas são de difícil acesso. Estudar na região central é muito importante, pois não é uma região endêmica, então os cuidados com esta zoonose são menores e, mesmo assim, encontramos foco desta parasitose”, explica.
As coletas foram feitas em frigoríficos desta região e encaminhadas ao Laboratório de Parasitologia e Biologia Molecular para análises macroscópicas, microscópicas e de biologia molecular.

  Cisto de fígado bovino positivo para Echinococcus spp. 
 Protoescóceles vivas e mortas (corada com eosina 0,1%)

Segundo Danieli, é possível perceber na análise macroscópica (figura A) os cistos com formatos e tamanhos variados. “Os cistos são puncionados com seringa e agulha, e o líquido do interior é observado ao microscópio óptico com objetiva de 100x. Na microscopia, verificou-se a presença de líquido com substância arenosa no seu interior. Do total de 371 amostras de cistos analisadas, encontrou-se 340 (91,6%) amostras negativas e 31 (8,4%) de amostras positivas para o cisto hidático”.

Verifica-se a necessidade de orientações para a população local sobre as injúrias e o ciclo de vida do Echinococcus spp., esclarecendo os riscos à saúde pública. Dessa forma, busca-se promover ações voltadas à prevenção e controle da EC nas localidades avaliadas.

Relevância desta pesquisa para nossa região

    Após um ano de pesquisa e muitos outros trabalhos sendo realizados com as amostras, os resultados são relevantes. “Em virtude da importância da equinococose cística na saúde pública, espera-se que os resultados obtidos permitam avançar os estudos e elucidações na epidemiologia da doença. Através da identificação e caracterização molecular do cisto hidático, conseguimos mapear regiões potencialmente endêmicas no RS, a fim de definir a epidemiologia da parasitose, auxiliando na prevenção da doença”, analisa a mestranda responsável pela pesquisa, Danieli Urach Monteiro.

Por Ingrid Bravo.