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quinta-feira, 13 de junho de 2013

As mulheres e a pesquisa científica


     Por Nayara Lunkes, Camila Porciuncula e Dérveson Martinelle

       Segundo pesquisas organizadas pelo diretório de grupos de pesquisa (DGP) do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/MCTI), no decorrer dos anos tem se percebido o visível aumento de mulheres no âmbito da pesquisa.  Em 2010,  de 128 mil pesquisadores cadastrados na base de dados, cerca de 49% eram mulheres. Uma comparação pode ser feita  no ano de 1995, em que,  de cada 100 pesquisadores 39 eram mulheres.
   O DGP retrata também as divisões da pesquisa dentro do universo de especializações e áreas. As ciências humanas (59%) e sociais (55%), lideram em maior poder de representação de pesquisadoras mulheres. Já nas áreas exatas, os homens são mais representativos com (64%), sobretudo nas engenharias e na computação (66%).
Noticiência traz parte da história de vida de algumas das pesquisadoras  do Rio Grande do Sul que buscam oferecer sua contribuição para o avanço da ciência.

Debora Missio Bayer , investigadora na área de Hidrologia

Foto de Nayara Lunkes
A menina Débora saiu de uma pequena cidade do noroeste do estado do Rio Grande do Sul. Foi em Tucunduva que Débora Missio fez seu curso primário até o terceiro ano do segundo grau. Sua mãe professora de matemática e seu pai, sem curso superior, deram incentivo à menina e mais dois irmãos que procuravam passar em uma Universidade Federal. Uma oportunidade para o ingresso na faculdade surgiu com o Programa de Ingresso ao Ensino Superior (PEIES) da Universidade Federal de Santa Maria, que realizava três provas nos últimos anos do ensino médio. Débora se saiu bem e resolveu encarar o curso de matemática, pois sua afinidade era mesmo com  as ciências exatas. Ela cursou um semestre do curso e resolveu, pela sua aptidão em cálculos, fazer vestibular para engenharia civil. Passou e seguiu até o final do curso.
Durante o curso foi convidada para ser voluntária de um projeto orientado sobre construção civil. Mesmo já trabalhando com a pesquisa, a aluna não recebia bolsa auxílio. Foi quando passando por um corredor da Universidade viu uma seleção na área de hidráulica para bolsista do Programa Institucional de Bolsas para Iniciação Científica (PIBIC). Entregou o currículo e foi selecionada. Depois daí, ela mudou a sua visão sobre pesquisar.
No final do curso Débora casou-se com o doutorando em estatística Fábio Mariano Bayer e, então, se torna Débora Missio Bayer. Por estímulo da pesquisa que já havia feito durante a graduação e pelo seu atual marido, resolve seguir os estudos e passa em um mestrado em Saneamento Ambiental na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), onde Fábio havia passado no doutorado em estatística.
No mestrado ela estudou contaminação de áreas alagadas com óleo diesel, porém sem muita afinidade pela área decide inscrever-se em no doutorado em hidrologia para que pudesse continuar a linha de pesquisa na mesma área do doutorado, aproximando-se do que mais gosta, e voltar ao Rio Grande do Sul. Hoje ela se divide entre Porto Alegre onde faz seu doutorado, e Santa Maria onde seu marido mora.Com o doutorado finalizado, ela pensa em ser professora em Universidade Federal, e levar suas pesquisas na área de hidrologia em pararelo às aulas e orientações.
“Na Universidade Federal temos que  atender o ensino, pesquisa e extensão. Então ser professor Universitário antes de ser pesquisador você é professor.”
     Sobre a mulher na pesquisa, Débora não viu em seu período acadêmico e pesquisas , muita discriminação com as mulheres. Porém quando estagiava na graduação, havia um certo cuidado por parte dos professores nas obras gerenciadas pelas futuras engenheiras civis. Ela conta que sempre foi respeitada, mas que precisou ter pulso firme, pois muitos  homens trabalhavam no local.

Sibila Rocha – doutora em Comunicação

Foto de Nayara Lunkes
     “A questão do crescente número de mulheres na pesquisa não é um fato isolado,e está ligado ao ingresso das mulheres nas Universidades. Essa busca da mulher pelo mercado de trabalho também as leva para as Universidades. E nesse local é onde existe a construção do conhecimento científico.
Sibila é santa-mariense e vem de uma família em que os pais fizeram curso superior. Seu pai foi um dos primeiros médicos de Santa Maria, e sua prioridade era o estudo. Sua mãe também santa-mariense saiu na década de 40 e foi para Pontifícia Universidade do Rio Grande do Sul (PUCRS) estudar história.
Sibila iniciou seu curso de jornalismo na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), fazendo parte da primeira turma do curso.
“Esse interesse pela pesquisa vem também com os programas de pós graduação. Pois a graduação é um conhecimento horizontalizado, já o mestrado e o doutorado são conhecimentos verticalizados, em que você deve contruir uma nova proposta.”
Como não havia muitos cursos de pós graduação, ela decide ingressar no mercado de trabalho. Mas na década de 80 ela decide voltar a estudar pela necessidade de entender os processos pelos quais ela era responsável, e aí vem sua primeira especialização na Faculdade de Comunicação Social (Famecos) em Porto Alegre. Foi no final da década de 80 que também foram instaurados os Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC), esses que remeteram as primeiras reflexões sobre pesquisa.
Sibila resolve seguir na vida acadêmica e vai para o Rio de Janeiro na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), fazer mestrado. E foi quando passou a conviver com pessoas que pensavam em pesquisa, com professores que eram autores de livros, e ela se sentiu ainda mais motivada em seguir em suas pesquisas. Em seguida,decide fazer doutorado na Universidade do Vale dos Sinos (Unisinos).
Sobre a mulher na pesquisa, diz:
“A mulher na minha época não tinha só que querer mas tinha que mostrar que sabia e podia fazer pesquisa.”

Marlove Fatima Brião Muniz - doutora em Fitotecnia

Foto de Nayara Lunkes
Nascida em Candiota interior de Bagé, em uma família de agricultores, Marlove não tinha incentivo ao estudo. Porém, o que os jovens da época pensavam era ir estudar em uma cidade maior e poder ter uma vida melhor.
Em seis irmãos, três meninos e três meninas,  as moças foram estudar e os meninos ficaram para ajudar na lavoura.  Procurando uma perspectiva de um futuro melhor, as meninas faziam magistério e trabalhavam.
Marlove decide fazer vestibular e faz sua inscrição para agronomia, em uma turma composta de 50 alunos, e na qual apenas duas mulheres faziam parte. Ela conta que não tinham muito incentivo de pesquisa mesmo dentro da academia, a intenção era apenas ter uma graduação. Quando chegou o fim do curso Marlove se deparou com o mercado de trabalho. Fez alguns concursos mas não conseguia chegar até o final, pois para trabalhar na lavoura, os selecionados sempre eram homens.
Foi então que surgiu uma possibilidade com a abertura das bolsas de incentivo a recém-formados pelo CNPq. Inicia-se a partir dai o convívio com a pesquisa e pesquisadores em Pelotas na Embrapa envolvida por essas bolsas, onde ficou por três anos.
Em Pelotas surgiu o interesse de fazer mestrado e seguir estudando. No final do mestrado ela opta por conhecer outros lugares e, com uma bolsa, ela decide ir para Goiânia na Embrapa. Depois de dois anos ela passa em um doutorado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (URGS) em Porto Alegre. A carreira de pesquisadora estava iniciando junto da carreira de docente também. Durante o doutorado foi para Santa Catarina a convite para lecionar em uma Universidade particular. Porém, com uma perspectiva de estabilidade em 2002 fez concurso para a UFSM em Santa Maria e passou.
Ela hoje continua atuando como professora no curso de agronomia e sua linha de pesquisa é patologia de sementes.

Amanda Eloina Scherer – pós-doutora em Linguística

Foto de Yuri Weber
Em Santa Maria, Rio Grande do Sul, no ano de 1951, nascia Amanda Eloina Scherer. Ainda jovem foi seduzida pela linguagem e os diversos desdobramentos da língua portuguesa.
Ela conta que seu interesse surge em Mariluz, no município de Imbé, onde passava as férias, quando criança, junto de seus primos e tios numa casa que pertencia à família.
O que mais chamava a sua atenção era uma senhora, avó de seus primos, que aparentemente não falava. Comunicava-se através de sinais, mas à noite Amanda ouvia a voz desta senhora que falava em alemão com os netos. Fora reprimida por uma ditadura que extinguiu o idioma alemão no Brasil e, então, a partir daí, não sabendo o português, comunicava-se através de gestos.
É desse momento que surge o interesse pela língua, de forma mais específica: como a língua constitui o sujeito e como o sujeito é constituído pela língua. E ainda, situações extremas, como esta, podem levar ao mudismo no mundo da língua.
Após concluir os estudos, a jovem Amanda ingressava no curso de Letras da Universidade Federal de Santa Maria. Não sabia ela, que construiria uma história que serve de exemplo para qualquer estudioso.
Em seu doutorado trabalhou com três campos do conhecimento dentro da linguagem: semiótica, lingüística e comunicação.
Desde 2000 é pós-doutora, tendo estudado na Universidade de Rennes, na Bretanha, França. Ali pesquisou sobre história de vida e dinâmica de linguagem, história de vida de professor versus história de vida profissional, e como isso se mistura na vida do sujeito docente.
Antes de iniciar sua carreira na Universidade, Amanda foi diretora de escola municipal, coordenadora pedagógica da escola Hugo Taylor, trabalhou no Colégio Cilon Rosa, na Escola Duque de Caxias e foi diretora da extinta Aliança Francesa de Santa Maria.
Em agosto de 2013 ela completa 42 anos de profissão. Nos 31 anos de UFSM, 20 destes foram dedicados ao ensino do francês. Há 12 anos trabalha no departamento de Lingüística. Além de ensinar Lingüística na graduação, ministra mais duas disciplinas na pós-graduação: História do conhecimento lingüístico e Estudos da significação. Também na graduação já esteve à frente de disciplinas como Francês 1-8, Literatura Canadense, Literatura Africana (sempre ligada ao francês), Linguística Geral, Linguística Contemporânea, Língua e patrimônio, Análise de discurso, História das ideias linguísticas, entre outras.
Em 2013 Amanda Scherer foi a professora homenageada pela Feira do Livro de Santa Maria. Segundo ela, foi uma surpresa muito grande receber tal homenagem, e diz sentir-se muito feliz, pois o “professor é um sujeito imprescindível para a sociedade. Sem professor não há escola, sem escola não há escrita, sem escrita não há leitura, sem leitura não há livro, sem livro não há feira”. 
Hoje sua pesquisa tem dois campos: o sujeito e a relação com a língua (Ex.: na minha língua é melhor) e a história de instrumentos lingüísticos que ajudam a sustentar a idéia de língua materna (história do dicionário no Brasil, história da gramática no Brasil e manuais de ensino de língua).
“Ao todo são 37 anos de UFSM, quatro anos de graduação, 31 anos de magistério e dois anos de especialização.”
“Falando eu me significo e significo o outro.”

Daniela Aline Hinerasky, doutora em Comunicação.

Arquivo Pessoal
Daniela Aline Hinerasky, 34 anos natural de Faxinal do Soturno, começou a sua trajetória como pesquisadora quando era bolsista do programa especial de treinamento no segundo ano de faculdade, cursado na UFSM, e durante esse tempo como uma de suas prioridades em ser pesquisadora sempre acreditou nela mesma em ser uma grande profissional de jornalismo. Logo depois, Daniela fez sua monografia e seu foco foram as “Tendências de Programação da RBS Tv”. Ela estudava as comunidades imaginadas dos produtores culturais na emissora, e seu objetivo foi mostrar o ponto de vista de quem trabalha no grupo dessa comunidade gaúcha a quem eles se referiam.
Depois de formada resolveu fazer um projeto não apenas estudando a parte dos profissionais e sim a programação oferecida. A RBS tem o interesse de mostrar programas mais urbanos, tradicionalistas uma tendência urbana voltada para o gaúcho da fronteira. Essa programação grande parte voltada para os jovens como “Patrola” e “Curtas Gaúchas” com esses temas tendo o interesse de identificar a representação do gaúcho que não é apenas viver na fronteira como na cidade.
Em 2002 Daniela começou seu mestrado na URGS, sendo um passo marcante na trajetória como pesquisadora, foi ai que ela resolveu se dedicar realmente a isso. Durante o seu doutorado resolveu pesquisar também sobre  “Cobertura Jornalista da São Paulo Fashion Week”, e desde então faz suas pesquisas no jornalismo e da comunicação da moda. Em 2007 criou o blog “Retalhos”. Essa prática de blogar está lhe inserindo no meio da cibercultura em constante adaptação onde tem uma grande adoração também, trazendo sempre novos interesses. Quando decidiu escolher o seu tema do doutorado, teve o incentivo da família, pois seu avô foi alfaiate mais de 30 anos, sua vó era costureira, e assim fechando um ciclo de sua geração. 
     Daniela teve uma grande oportunidade de fazer seu estágio de doutoramento na capital de Paris, onde pode concluir sua tese se tornando especialista nesse assunto. Hoje ela participa de conferências em cursos em diversos estados e também retornando a Paris no “GEMODE( Groupe d’étude sur la Mode) Grupo de estudos de moda”.
Daniela é também professora dos cursos de comunicação da UNIFRA e diz do grande incentivo que a instituição lhe deu no término de suas pesquisa.





Como levar a ciência a público 


O conhecimento tecnológico e científico - veja.abri.com.br

                 Para a produção de textos científicos, segundo Cláudio Bertolli Filho, em seu artigo "Elementos fundamentais para a prática do jornalismo científico" alguns critérios devem ser considerados, como interesse humano e social, impacto e critérios de noticiabilidade. A colunista  e  geneticista Mayana Zatz [1], mantém tais cuidados em  suas matérias, como pode-se analisar em a “Clonagem da ovelha Dolly abre caminho para futura prevenção de doenças mitocondriais” e “Bebes normais devem ter seus genomas sequenciados?” publicadas no site da revista Veja, na editoria de ciência e disponíveis no  link .

           Os critérios utilizados nesses textos, em específicos, apresentam questões fundamentais na construção de um texto de qualidade e relevância para o campo jornalístico no âmbito da ciência e tecnologias. Entre tais aspectos, a cientista se preocupa em apresentar as informações de maneira diferenciada, tendo a atenção de escrever de forma bem simples e coloquial, para que a notícia possa chegar até a população em geral e ser compreendida corretamente.Em todos os textos publicados pela autora há uma série de subtítulos ligados ao tema com explicações e coleta de dados. 

                No texto sobre a clonagem da ovelha Dolly, a autora esclarece como esta descoberta abre novas possibilidades na medicina contemporânea  Para chegar a tais possibilidades, a autora contextualiza e explica os principais fatos com relação à clonagem para depois instruir como o procedimento pode prevenir doenças mitocondriais. Mas, a pesquisadora não se baseia somente no lado positivo da descoberta, ela também alerta para alguns problemas que ainda precisam ser resolvidos. Mesmo assim, Mayana deixa claro, neste texto, que torce para que a metodologia utilizada na clonagem da ovelha Dolly possa, sim, prevenir as doenças mitocondriais. Ou seja, o comprometimento de mostrar que existem várias alternativas a partir da clonagem expõem a ética profissional da autora na publicação de um avanço que poderia lhe trazer maior visibilidade, antes mesmo, de levar a público o devido conhecimento. Esta, é uma das questões que envolvem e polemizam o universo científico, e que muitas vezes acabam por desmerecer a importância de tais informações chegarem ao grande público.

            Já na outra postagem, sobre a questão de sequenciar ou não os genomas de bebês normais, a autora é bem mais crítica. Aqui, além de falar sobre os benefícios dessa técnica, ela questiona o leitor sobre outras possíveis soluções. Quando a pesquisadora se refere aos benefícios, enfatiza que todos eles são a longo prazo e, assim, declara não ser totalmente a favor do desenvolvimento dessa descoberta.
É importante lembrar que em todas as suas postagens, a pesquisadora interpela o leitor para saber a sua opinião sobre o assunto e, também, promover a interação com a sua coluna no site.

        Dentro da visão científica pode-se entender que Mayana Zatz procura não só satisfazer as necessidades do leitor, como também oferecer a ele conhecimento sobre ciência de uma forma coloquial e dinâmica. A capacidade de afirmar uma relação de familiaridade com o público torna a leitura e o entendimento das informações mais acessível, bem como, o interesse pelo cenário científico e tecnológico algo muito mais natural. 

Por  Mariane B.Dall'Asta e Yuri Nascimento



[1] Mayana Zatz possui graduação em Ciencias Biologicas pela Universidade de São Paulo (1968), Mestrado em Ciências Biológicas (Biologia Genética) pela Universidade de São Paulo (1970) Doutorado em Genética pela USP (1974) e pós-doutorado em genética humana e médica pela Universidade da California UCLA (1977) É Profa. Titular de Genética do Instituto de Biociencias da USP. Foi Pró-reitora de Pesquisa da USP (2005-2009).É Coordenadora do Centro de Estudos do Genoma Humano e do Instituto Nacional de Células-Tronco em doenças genéticas, É membro da Academia Brasileira de Cièncias e da Academia de Ciências dos Países em Desenvolvimento - TWAS e Presidente Fundadora da Associação Brasileira de Distrofia Muscular (ABDIM).
É colunista da revista VEJA onde já publicou mais de 250 artigos científicos para leigos. É autora do livro "Gen ÉTICA: escolhas que nossos avós não faziam". Tem grande interesse em questões éticas relacionadas com o Genoma Humano, testes genéticos e células-tronco. Desde agosto de 2010 faz parte do corpo de revisores (BORE) da Revista Science. Participou ativamente da aprovação das pesquisas com células-tronco embrionárias pelos parlamentares (2005) e STF (2008).