Pesquisar este blog

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

"Vai ter aula ou vamos assistir filme?"

“O professor não vem. A atividade de hoje é filme”. A frase é comum, mas muitos professores trabalham para que a sétima arte seja usada em todo o seu potencial educacional. Em um processo que vai desde a escolha dos filmes, até a problematização final, o cinema pode ser uma excelente ferramenta para falar, sobretudo, de temas densos.

Em 2014, foi aprovada a lei 13006, que torna obrigatória a exibição de, no mínimo, duas horas mensais de cinema nacional nas escolas de ensino básico brasileiras. A nova lei, em vigor desde 26 de junho, deixa a sensação de que assistir cinema em sala de aula é uma prática comum, o que não é de todo verdadeiro. A forma como a sétima arte deve ser trabalhada em sala de aula não é consenso entre professores. Entretanto, independentemente de como usá-lo, um número expressivo de docentes acredita em seu potencial.

Para o professor Bebeto Badke, a "caixa preta" leva o aluno
para dentro de outra realidade. (Foto: Guilherme Benaduce)
Em 1936, Edgar Roquette-Pinto, considerado o pai da radiodifusão no Brasil, afirmava que “O ideal é que o cinema e o rádio fossem, no Brasil, escolas dos que não têm escolas”. Mesmo com a ampliação do sistema educacional, de uma forma diferente do que Roquette-Pinto imaginou, as mídias têm papel cada vez mais importante na formação intelectual e cultural das novas gerações. No ensino formal, a forma mais corrente é o uso de filmes que complementem a disciplina, servindo como uma ilustração daquilo que já foi trabalhado.

Diversos fatores são levados em conta, na hora de escolher um filme para uso em aula. O programa, a disciplina e a própria instituição fazem diferença. Para trabalhar o tema da Segunda Guerra Mundial, em uma aula de história, por exemplo, poderia ser usado A Lista de Schindler, de Steven Spielberg. No caso de uma instituição de ensino católica, uma possibilidade seria Irmão Sol, Irmã Lua, de Franco Zefirelli, que trata da vida de São Francisco de Assis.

O jornalista e professor da disciplina de Cinema no Centro Universitário Franciscano, Bebeto Badke, opta por películas que acredita serem pertinentes ao universo de hoje e, ao mesmo tempo, que ele julgue interessantes. Para ele, a “caixa escura” leva o aluno para dentro da obra, extrapolando à sala de aula. Bebeto explica que, muitas vezes, os alunos esquecem-se de si quando assistem a um bom filme. “Por isso, o cinema é uma ferramenta excelente para tratar sobre temas mais espinhosos, como drogas e preconceito”, evidencia. Bebeto conclui explicando que a disciplina de Cinema é um caso especial. Como o próprio formato cinematográfico é a pauta, não há temas que não possam ser abordados.

O cinema e a educação em Santa Maria

No segundo semestre de 2014, a professora
Valeska de Oliveira visita instituições com o
projeto Cinema Itinerante. (Foto: acervo Gepeis)
Em uma pesquisa realizada em 2014, o Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação e Imaginário Social (Gepeis) da Ufsm abordou mais de 650 professores de todas as redes de ensino sobre cinema e educação. Nos resultados, foi apontado que 94% dos professores de Santa Maria acreditam na importância desta relação e 57% deles usam, de fato, filmes em sala de aula. Entretanto, apenas 15% deles acreditam que o cinema seja uma forma de cultura.

Segundo a professora e coordenadora do Gepeis, Valeska de Oliveira, não é necessário que o professor trabalhe apenas com filmes que tenham relação direta com sua disciplina. Valeska garante que o cinema, como sétima arte, pode ser usado para ampliar o repertório cultural dos alunos. Para ela, todo o professor que busca estimular a percepção dos alunos, deveria se sentir livre para mostrar outros filmes. Para a professora, a formação cultural também é parte do papel do docente.

Outra mudança necessária, segundo a professora Valeska, é abandonar a explicação antes de exibir um filme. A prática, que acontece, sobretudo, no ensino superior, direciona a visão de quem assiste. Deixar que os estudantes  visualizassem as películas e propusessem suas próprias questões, retiraria o controle das mãos do docente. Esta nova concepção de ensino demanda, entretanto, um preparo dos professores, que, muitas vezes, oferecem resistência a mudanças.

Vamos fazer um filme?

A partir do momento em que os professores usam filmes em sala de aula, a demanda dos alunos por produção é questão de tempo. O cinema é uma das mídias contemporâneas, nas quais as novas gerações estão enredadas, logo, pode ser uma saída para movimentar as escolas. Para suprir esta demanda, o Gepeis desenvolve um projeto de formação continuada, em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), chamado “Enredos da vida, telas da docência: os professores e o cinema”.

A pesquisa "Enredos da vida, telas da docência: os professores e o cinema"
parte de três instâncias da relação do professor com o cinema. (Ilustração: OLIVEIRA, 2014)
Além das discussões sobre as vivências dos professores com o cinema, a iniciativa engloba a produção de curtas. O objetivo é que os estudantes possam participar da criação dos filmes e, depois, ver o resultado pronto e discuti-lo. A professora Valeska defende o protagonismo dos alunos por fazer com que se descubram potenciais até mesmo desconhecidos dos educadores. “O cinema não é um salvador, mas serve para exercer a imaginação criativa”, conclui a coordenadora do Gepeis.


Por Guilherme Benaduce e Tamires Rosa

Nenhum comentário: