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quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Mídia e Ciência: uma relação que ainda gera discórida


Por Camille Wegner

Não é de hoje que a relação entre ciência e jornalismo é um tanto complexa. Complexa por se tratar exatamente de duas áreas distintas que necessitam uma da outra. O jornalista necessita de informações para divulgá-las ao conhecimento do público, no outro lado, a ciência precisa mostrar à resposta de suas pesquisas a sociedade. Olhando assim parece simples, mas como transcrever informações tão técnicas quanto às propostas pela ciência a um público muitas vezes leigo? Para falar deste assunto, a voz a ser ouvida é a dos pesquisadores.
Luiz Carlos Rodrigues Junior é diretor da Unidade de Pesquisas do Centro Universitário Fransciscano e acredita que o público alvo de suas pesquisas é praticamente o meio acadêmico. “É a mídia que procura dentro da comunidade acadêmica o que tem impacto e divulga”, acrescenta. As publicações ocorrem geralmente em revistas científicas nacionais e internacionais direcionadas as áreas específicas de cada pesquisador. Neste caso, a passagem da pesquisa para a mídia (impressa), é feita quase sempre pelo próprio pesquisador, que só recebe correções na origem do inglês (revistas científicas internacionais).
Quando a publicação é para leigos, no caso da divulgação científica, Luiz Carlos afirma que o jornalista tem dificuldade em transcrever essas informações na mídia. “Eu acho que a mídia é boa, é de bastante importância, mas algumas vezes ela transforma a informação que tu passa”, enfatiza.
Ivana Zanella, Coordenadora do Programa de pós-graduação em nanociências da UNIFRA, só publicou pesquisas em revistas especializadas. Quando se trata das revistas internacionais a pesquisadora declara que o processo de aceitação e divulgação da pesquisa é rígido. “Em geral nunca é aceito em primeira instância, eles te fazem uma série de questionamentos”, declara.
Nas publicações nacionais, Zanella só teve experiência na revista DisciplinarumScientia, da própria instituição, mas mesmo assim tem opinião formada sobre a função do jornalista na divulgação científica: “Todos os pesquisadores recebem um incentivo do governo para a realização de pesquisas, então deve ter um retorno a população, neste sentido o jornalista tem muito a acrescentar, pois faz esta ponte entre pesquisadores e sociedade”, ressalta.
Ainda há muito o que discutir a respeito dessa relação, mas uma constatação já pode ser feita: tanto jornalistas quanto pesquisadores precisam entender as necessidades de cada uma das duas áreas e estabelecer assim uma relação pacífica, na qual o objetivo principal é o conhecimento do público sobre as inovações e transformações do mundo.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

A divulgação a serviço da Ciência


por Thales de Oliveira

Pesquisas, experimentos, descobertas. Esta é parte da realidade de um cientista. Mas ela está tão longe assim do cotidiano das pessoas em geral?  De forma alguma! E aí está a importância da informação sobre assuntos científicos.
Os pesquisadores Nikelen Witter e Alexandre Maccari são exemplos positivos da relação entre ciência e jornalismo. Ela é doutora em história pela Universidade Federal Fluminense, ele mestre pela Universidade Federal de Santa Maria. Witter e Maccari encontraram na História a vontade de investigar  assuntos que para muita gente comum pode ser complexo, mas auxilia a vida diária de todos. E dessa forma, suas pesquisas passam a ajudar em determinados temas da nossa atualidade.
Pensar na ciência como suporte e referência para os problemas e acontecimentos pautados pelo jornalismo é um bom caminho para a popularização de assuntos considerados fora do alcance do entendimento da sociedade em geral. Como diz o jornalista Clenio Araújo, em seu artigo sobre divulgação científica, “não faz muito sentido o conhecimento acumulado nas instituições que se dedicam à ciência ficar dentro delas”.  Contudo, ainda há muito que evoluir. O principal obstáculo a ser vencido, segundo Nikelen, é o da “criação de certeza que muitas vezes pauta a forma de escrever do jornalismo e que não é a forma como nós pensamos a ciência.”

Cinema + História + Ciência = Interesse Público


Alexandre Maccari, arquivo pessoal.

Apaixonado por cinema, Alexandre Maccari resolveu pesquisar, pelo viés político-cultural, a chamada “Política de Boa Vizinhança” e as estratégias dos EUA para, através do cinema, aproximar-se dos países da América Latina no período pós Segunda Guerra Mundial.  Maccari analisou em sua dissertação de mestrado os filmes Alô, Amigos (1942) e Você já foi à Bahia? (1945). “Desenvolvi um recorte histórico, cinematográfico e social em torno das sequências que tratavam do Brasil e da Argentina, enfatizando elementos do cinema de propaganda como a musicalidade, a construção do herói e do vilão e o perfil ideológico da produção”, conta.

       Além da divulgação em livros, Maccari conta que sua pesquisa foi divulgada na mídia imprensa, na televisão e no rádio. Completa, ainda, dizendo que foi entrevistado no programa de rádio CDN Entrevista, onde debateu, com outros convidados, durante quase uma hora para uma abrangência significativa da comunidade. Para o pesquisador, seu estudo atingiu um espaço significativo de divulgação, pois até então, eram poucos os trabalhos históricos ligados à pesquisa com cinema. Hoje, com a divulgação de sua pesquisa, seu trabalho ganhou destaque dentro da academia, “além é claro de fomentar o interesse das pessoas em ver os filmes Disney com outros olhos”, completa.

E aí, "Você já foi a Bahia?"


Um estudo do passado da saúde e sua contribuição para o jornalismo de hoje

Em 2009, quando o surto de Gripe A assustou os gaúchos, a historiadora Nikelen Witter recebeu um telefonema para falar sobre o comportamento humano em relação às epidemias. A entrevista foi para o jornal Zero Hora, onde Witter falou sobre a cultura de pôr a sociedade em quarentena, originária do período medieval.

Em sua tese, a pesquisadora estudou a História da Saúde, mais precisamente sobre o comportamento dos doentes no século XIX, em casos de epidemias e no cotidiano fora delas. Além dessa entrevista, a pesquisa de Nikelen serviu como fonte para portais de notícias na internet, outros jornais e revistas.
Nikelen Witter: arquivo pessoal
 Na revista História da Biblioteca Nacional e Revista da Livraria Cultura, ela mesma escreveu suas publicações. “Eu redigi a matéria, mas fui orientada por integrantes da equipe da revista sobre como tornar o texto menos acadêmico”, conta.

Para a pesquisadora, no caso do jornal Zero Hora, alguns de seus termos foram reinterpretados ou forçados para justificar o ponto de vista do jornal. Ainda segundo Witter, isso não teve gravidade, mas quando se é um cientista, as afirmações são feitas com muito cuidado. A estudiosa conclui que “não é incomum os jornais tornarem fatos, assertivas que são relativas”. Ainda assim, Nikelen acredita que a chegada do conhecimento acadêmico, baseado em pesquisas sólidas, ao grande público é um ponto positivo a favor da informação e da ciência. E afirma: "Sou contra o conhecimento ficar encastelado dentro das universidades. A divulgação científica é fundamental para que o grande público se assenhore dos conhecimentos que são produzidos no país e fora dele."
 
Relação entre mídia e ciência

A maior barreira encontrada entre jornalista e pesquisador talvez seja o conhecimento individual de cada um sobre a atividade do outro. O jornalista precisa ser o mais objetivo possível em sua publicação enquanto o cientista, especialista em determinado assunto, busca esclarecer com todo o seu estudo os temas abordados. Por mais que exista esse distanciamento entre os dois profissionais, o interesse da sociedade deve vir em primeiro lugar!

Alexandre Maccari e Nikelen Witter afirmam que não tiveram problemas em sua relação com os jornalistas. Maccari, diz que sua facilidade de comunicação é tão natural, e por isso não teve problemas em suas experiências com a mídia. Já Witter, fala que o respeito entre ambas as partes foi fundamental para o resultado final da divulgação de sua pesquisa.

sábado, 1 de dezembro de 2012

Linguagem acessível: o segredo de uma boa divulgação


Por Paola Schwelm

Em uma análise rápida, a ciência e a divulgação parecem dois setores difíceis de caminharem juntos. Disponibilizar o conhecimento formulado em pesquisas e, ao mesmo tempo, aproximar a linguagem especializada da leiga não é um procedimento simples, mas também não é impossível.
A ciência como uma das formas de melhoria de vida da sociedade é incontestável, entretanto, novidades científicas e temas que parecem distante do cotidiano ainda não tem o espaço desejável nos meios de comunicação.
O engenheiro mecânico e coordenador do Núcleo de Excelência Empresarial da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Alberto Schmidt, sempre trabalhou com pesquisas nas áreas de gestão da qualidade e produtividade, sistemas de garantia da qualidade e sistemas integrados de gestão, acredita que a temática é fundamental para garantir publicações midiáticas contínuas.  “A nossa linha de pesquisa facilita porque o nosso público-alvo são os empresários e os resultados dos trabalhos podem ser implantados de maneira imediata. Mesmo assim nos programamos para que ocorra a divulgação necessária”, explica. 
Nesta mesma perspectiva, o pesquisador exemplifica apontando pesquisas na área de química que, na maioria das vezes, tem um resultado para ser implantado a longo prazo e, dessa forma, não tem o mesmo espaço de outras áreas de pesquisa. A programação que o engenheiro mecânico se refere é a assessoria de comunicação que o Núcleo possui e que Schimidt classifica como essencial neste processo. “Nosso setor de divulgação é planejado para que a informação alcance a sociedade”, enfatiza. 
Em relação à linguagem utilizada, o pesquisador esclarece que os profissionais de comunicação são quem auxiliam na escrita o que, segundo ele, garante uma aceitação ainda maior dos veículos. Schimidt ainda complementa que as revistas científicas não podem ser desconsideradas desse processo. Nestes casos, o texto é composto pelos próprios pesquisadores e apenas corrigido pela equipe de edição.
Quem tem a mesma relação de Schimidt com a imprensa é o  doutor em Ciências Jurídicas e Sociais, pela Universidade del Museo Social Argentino, e de Direito Civil pela Universidade de Buenos Aires, João Marcos Adede Y Castro. Para o promotor hoje aposentado, transformar o texto do especialista em uma linguagem clara é de extrema importância para que a divulgação ocorra. Ciente da necessidade de divulgação das pesquisas, Adede Y Castro conta que ele mesmo escreve resumos, pois entende que seja natural a dificuldade de compreensão do jornalista. Segundo o pesquisador, poucas vezes houve necessidade de um esclarecimento maior via telefone, por exemplo.
As diferenças entre as duas áreas são gritantes, mas planejar e entender a importância da comunicação faz com que a necessidade da divulgação do conhecimento supere as divergências. Tanto ciência quanto comunicação necessitam uma da outra, dessa forma os resultados podem atingir a sociedade, ao mesmo tempo os veículos de comunicação qualificam a informação apresentada aos leitores.