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quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

O forró na contemporaneidade

Felipe Trotta, professor da Universidade de Pernambuco, doutor em Comunicação e Cultura pela UFRJ, apresentou ao Grupo de Trabalho "Mídia e Entretenimento", no encontro da COMPÓS, um trabalho sobre o forró, gênero musical nordestino, que se espalhou pelo Brasil. O trabalho intitulado "Música popular, moral e sexualidade: reflexões sobre o forró contemporâneo", trouxe uma abordagem sobre a expressão do forró como um ritmo que se caracteriza pela evidente presença da sensualidade. O forró é desenvolvido principalmente por bandas de conjuntos musicais, que apesar do estilo vulgarizado, vendem milhões de discos. No entanto, o artigo apresenta as contradições e os discursos dessa negociação moral, quase imoral, pelos exageros do forró. Na música popular, na canção popularesca brasileira, o sexo constitui-se como uma referência quase sempre presente, sendo adotada em maior ou menor grau. Trotta focaliza o forró como sendo um gênero de grande manifestação regional, que se divide em dois principais tipos: o tradicional, que recebe elogios da crítica e o das bandas eletrônicas, que são frequentemente criticadas, por fazerem uma música de baixíssima qualidade. Assim, as bandas para se destacarem, acabam por apelar para o erotismo grosseiro e, de muito mau gosto, com uma música apelativa que está maculando a cultura brasileira. Os artistas de ambos os sexos, são apresentados ao publico como objetos de desejo, com um erotismo, misturado com música ruim, com a exploração do corpo, onde falta moral. O autor também faz referência ao forro tradicional de Luiz Gonzaga, caracterizado por ser uma música pura, singela, ao som da sanfona, trazendo as imagens do sertão e do artista, com letras que revelam a saudade e o amor ao local de origem. Exemplifica também o paraibano Jackson do Pandeiro, artista de grande projeção musical, evocando a mesma distinção entre costumes rurais e urbanos. O forró não precisa ser prostituido. O forró verdadeiro se dança aos pares, se dança junto, estimulando o namoro e a paquera. O forró, a dança, assim como a briga é um momento de comprovação do vigor física. Hoje em dia, o forró está mais picane, alterou os padrões originais e está excvessivamente erótico. Destaca-se que os comportamentos sexuais, as negociações em torno da sexualidade falada, cantada, vista, encontram na música popular um espaço propício para ganhar dinheiro, mesmo que seja com um gênero explicitamente sexual, pretenrindo-se a música tradicional e de bom gosto pelo gênero vulgar. Esse fenômeno é complexo e gigantesco, em virtude do fato que o forró alcança no cenário musical nacional, um grande destaque pela sua popularidade nos estados do norte e nordeste, principalmente. Apesar da vulgaridade explícita, são muitos os admiradores e, nesse contexto, a mídia não se manifesta contrária à falta de qualidade e coloca no ar qualquer porcaria do gênero, desde que venda seus Cds.
Por Marion Bittencourt

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

O infotainment: um novo gênero televisivo

Cada vez mais o telespectador passa a fazer parte da produção de programas humorísticos, reality shows, novelas, e porque não fazer parte também dos telejornais? Os receptores buscam pautas, procuram fontes e, principalmente, interagem com a redação, ligam, criticam, opinam e participam quase que diretamente da construção de uma notícia. Em artigo publicado recentemente na XVIII COMPÓS, a pesquisadora Itania Maria Mota Gomes da UFBA, busca responder à questão e fala da informação com entretenimento. No artigo apresentado, ela descreve como o mundo globalizado interage com as informações repassadas, como cada vez mais a televisão só pensa em grandes audiências, e em como a informação se funde com o entretenimento não se preocupando se as informações são ou não corretas.
O termo também serve para alienar o telespectador aos acontecimentos, na política, na educação, na economia e na sociedade. Para Itania, o termo neologismo Infotainment, traduz o embaralhamento de fronteiras entre informação e entretenimento, e tem ocupado boa parte da energia produtiva de profissionais e investigadores de algum modo ligados à Cultura Midiática. No artigo a autora salienta que infotainment se refere a programas jornalísticos que “apelam” ao popular, enfatizando a criminalidade, a tragédia, a transgressão, o grotesco, a sexualidade, a cobertura da vida de celebridades ou a transformação da gente comum em celebridade.
O infotainment pode também ser encarado como um novo gênero televisivo. Para Itania os gêneros são formas reconhecidas socialmente a partir das quais produtores e telespectadores se localizam em relação ao conjunto da produção televisiva. Ou seja, cada vez mais os telespectadores passam a fazer parte de construção da realidade.


Bárbara Weise

Seria o fim da produção fonográfica?


Um trabalho realizado na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/SP), pelo pesquisador Eduardo Vicente, busca refletir sobre a pergunta acima. Intitulado, Viva a Morte da Indústria Fonográfica? Impasses e perspectivas em um cenário de crise, o trabalho provoca discussão sobre o panorama atual da produção fonográfica, especialmente no Brasil. O atrito entre as grandes gravadoras, selos independentes e artistas autônomos e a questão da pirataria digital é um dos pontos levantados pelo autor.
De acordo com a pesquisa, o surgimento das gravadoras independentes ocorre a partir de 1970, nos EUA, dando início à concorrência com grandes gravadoras. Esse processo tem início no Brasil um pouco mais tarde e, pode-se dizer, que foi um dos primeiros elementos a contribuir com a “derrocada” na indústria fonográfica.
Historicamente, o controle do mercado, vem da atuação e das estratégias das grandes empresas musicais. O que ocorreu ao longo do tempo, segundo a pesquisa, foi a afirmação de selos independentes, que atendem um novo mercado, na produção de novos artistas. O curioso é que o sucesso de artistas locais – antes invisíveis para o público em geral – garantiram a estabilidade das pequenas empresas, com ritmos que compreendem o axé, o funk, a música religiosa, sertanejo e pagode.
O segundo, e decisivo ponto, é o avanço da tecnologia ofertada pela Internet, que disponibiliza o download de CDs e DVDs na íntegra e, dessa forma, colabora para o crescimento da pirataria e a queda das grandes empresas fonográficas. Conforme o trabalho, não é o fim da indústria musical (apesar de suas constantes perdas e concorrência com a mídia digital), mas significa certamente, a perda da autonomia da cena musical como um todo.

Telejornalismo e o conhecimento do cotidiano

O título acima refere a uma das pesquisas realizadas por Alfredo Vizeu, pesquisador da área de telejornalismo e professor da Universidade Federal de Pernambuco(UFPE). O trabalho analisa a influência do telejornalismo no cotidiano e na forma como o público percebe o mundo a partir dele. A hipótese apresentada é a de que os telejornais brasileiros desempenham de forma central processos de conhecimento do mundo.

O autor busca pistas para a compreensão de como são construídas as realidades sociais dentro de uma redação. O trabalho é dividido em quatro etapas:" a construção social da realidade, características do campo do jornalismo, a teoria construtivista da notícia e as representações sociais no jornalismo."

Ao apontar que o jornalismo adota certos valores-notícias, afirma que são eles que determinam o que será ou não publicado. Nesse cenário leva-se em consideração determinados fatores como a importância - a quantidade de pessoas envolvidas, proximidade geográfica e o envolvimento de pessoas famosas -, e o interesse ou as histórias inusitadas e os aconntecimentos excepcionais. Para o estudo foram utilizados, dentre outros, autores como Bakhtin, Bordeau e Goffman

O autor relata como os critérios de noticiabilidade influenciam no "produzir notícias" , como se dá a organização do trabalho dentro de uma redação e as rotinas produtivas dos profissionais. Todas a aplicações também se referem ao telejornalismo, que é visto pelo autor como uma possibilidade das pessoas terem conhecimento do que acontece no mundo, uma forma de contato com outras realidades a partir do que é veiculado.

A construção de identidades coletivas

Com o surgimento dos meios de comunicação e com os avanços tecnológicos permitiram aos usuários o acesso à informações e a construção das identidades. Sobre essa questão Rousiley C. M. Maia, da UFMG, publicou a pesquisa sobre Identidades Coletivas, negociando novos sentidos, politizando as diferenças, no IX Compos, no ano de 2000.
O consumo de informações midiáticas provoca no receptor das mensagens a produção de sentido. A pluralização de conteúdos divulgados pela mídia permite ao leitor escolher assuntos nos diferentes segmentos da sociedade, que seja de seu interesse e, assim, constrói sua própria identidade. A diferença aqui se faz presente na medida em que as pessoas buscam consumir conteúdos de seus gostos e desenvolvem uma capacidade crítica e reflexiva. A diversidade cultural é resultante desse processo de construção de conhecimento.
O autor constata por meio da pesquisa que as identidades coletivas estão relacionadas aos grupos sociais que possuem tradições em comum ou que compartilham mesmos interesses. Portanto, os laços sociais são reforçados pelo sentimento de união e cooperação entre os integrantes. O reconhecimento dos membros se deve pelo sentimento de solidariedade, por lutaram e reinvindicarem pelos mesmos objetivos.

Vanessa Barbieri Moro

Divulgação científica: inovação x promoção

O modelo de jornalismo científico no Brasil, não é muito diferente do americano. Editoras e emissoras fazem uso de uma linguagem informal para atrair o público. O uso de metáforas e hipérboles também é evidenciado nesses veículos. O consumidor deste tipo de publicação tem referências científicas o tempo todo referenciadas pelas fontes. Uma matéria de ciência busca levar a sociedade dados descobertos em pesquisas criteriosas. As instituições financiadoras destas pesquisas também atendem a investimentos nas indústrias.
A publicação de pesquisa cientifica em uma revista de status envolve a representação dela diante do veiculo, os interesses editorias, além dos acordos com laboratórios. Ou seja, os rigores científicos podem ser pensados no Brasil como um investimento para a pesquisa que vai trazer lucro para todos os âmbitos e não pelo cunho inovador dentro da ciência. “Ao apresentar-se perante a esfera pública apenas como fonte de inovação, palavra de ordem e pedra-de-toque da hora, a pesquisa científica se barateia e subordina a uma lógica alheia, a da rentabilidade imediata, exilando-se voluntariamente do seu próprio território, a cultura” afirma o pesquisador Marcelo Leite no artigo “O Atraso e a Necessidade: Jornalismo científico no Brasil”.
Além disso, a linguagem que o jornalismo utiliza para simplificar a linguagem cientifica é muito criticada pelos pesquisadores. A fim de tornar o discurso mais acessível aos leitores, muitas vezes o jornalista distorce a interpretação em relação ao assunto pesquisado ou desvia os interesses do autor.
A mídia, ao mesmo tempo em que dá espaço para o campo das ciências, é usada como pilar de muitas instituições privadas diante da esfera pública. No artigo Os equívocos do Jornalismo Científico no Brasil, professor Wilson da Costa Bueno afirma que “o jornalismo científico, que temos por aqui, com as exceções de praxe (e não são muitas) continua pouco investigativo, refém das pautas externas e de temas muitas vezes deslocados da nossa realidade. Certamente, a falta de uma “cultura de comunicação” nas nossas principais universidades, empresas e institutos de pesquisa; e a falta de consciência dos editores e empresários da comunicação, que buscam pautas óbvias, oficialescas, contribuem para isso”.
Sendo assim, o jornalista que trabalha para a divulgação da ciência que centralizar sua demanda de instituições que querem a visibilidade da sua marca e não reconhecimento por um trabalho importante, bem sucedido e utilidade pública, certamente será criticado. “O equívoco maior está na prática de um jornalismo científico que vive a reboque de fatos sensacionais, que não atende à sua função pedagógica e que não está comprometido com o processo de democratização do conhecimento" diz Bueno.