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terça-feira, 5 de agosto de 2014

Carta Capital pergunta: queremos ser normais ou bem comportados?


Einstein
Se medicado, Einstein seria um gênio?

Matéria publicada na edição dessa semana 04/08, na revista Carta Capital  questiona a tendência à medicalização e os seus efeitos na sociedade moderna.



“Foco” é a palavra de ordem nas escolas e no mercado de trabalho. Para vencer na vida, a dispersão de atenção para outros interesses além das tarefas do dia a dia é não apenas mal vista: é diagnosticável como um transtorno mental passível de cura. De acordo com uma ala da psiquiatria, essa ideia de “transtorno” parte de duas premissas. Uma é semântica. Ela suaviza a ideia de “doença mental” e passa a ser usada como uma espécie de identidade psíquica por meio de nomenclaturas como “TOC”, “TDAH”, “hiperatividade”, “bipolaridade”, “ansiedade” e “transtornos de humor”.
A outra dita que, por trás da desordem, existe uma ordem. Nesta ordem, o estudante estuda e o trabalhador trabalha. Em nome dela nos medicamos. Cada vez mais e, segundo especialistas, sem que sejam levados em conta os impactos, para as crianças e suas famílias, do diagnóstico e da medicação.
Quem analisa os índices de tratamento à base de drogas psicoativas imagina que o planeta enfrenta hoje uma “epidemia” de transtornos mentais. Nos EUA, uma em cada 76 pessoas são hoje consideradas incapacitadas por algum tipo de transtorno – em 1987, este índice era de uma em cada 184 americanos. O número de casos registrados aumentou 35 vezes desde então.
Segundo o Instituto Nacional de Saúde Mental dos EUA, 46% da população se enquadrariam nos critérios de doenças estabelecidos pela Associação Americana de Psiquiatria. Tais diagnósticos criaram um mercado poderoso de medicamentos psicoativos – o que significa medicar tanto pacientes com crises agudas de ansiedade até crianças diagnosticada com grau leve de “hiperatividade” ou “espectro de autismo”, a chamada síndrome de Asperger. Essas crianças precisam manter o “foco” na sala de aula se quiserem ter alguma chance de passar no vestibular.
A pressão sobre elas em um mundo cada vez mais competitivo cria um consumidor fidelizado: a criança que hoje precisa de medicamento para se manter em alerta será, no futuro, o adulto dependente de medicamentos para dormir. Essa pressão, apontam estudos, tem origem na sala de aula, passa pela sala da direção, chega aos pais como advertência e desemboca na sala do psiquiatra, incumbido da missão de enquadrar o sujeito a uma vida sem desordem.
Mas como cada categoria de transtorno mental é construída e delimitada? Quais pressupostos fazem com que determinados comportamentos e/ou estados emocionais sejam considerados normais e outros, não? Quem definiu que uma criança com foco na sala de aula é normal e uma desconcentrada é anormal? Qual é, enfim, a “ordem” que a prática psiquiátrica visa a garantir?
Essas questões serão temas de debates em um ciclo de encontros do Café Filosófico CPFL, sob curadoria do professor livre-docente em Psicopatologia do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp Mário Eduardo Costa Pereira, a partir de 8 de agosto. As palestras serão gravadas todas as sextas-feiras ao longo do mês, às 19h, e os interessados de todo o País podem acompanhar as gravações e enviar perguntas ao vivo pelo portal. Além de Costa Pereira, participam do módulo o psiquiatra infanto-juvenil e professor da Uerj Rossano Cabral Lima, o professor da Universidade da Califórnia Naomar Almeida Filho e o psiquiatra da infância e adolescência e consultor do Ministério da Saúde Fernando Ramos.
Se for esta a normalidade que tanto buscamos, o mundo teve sorte por não ver visionários como Bill Gates, Einstein, Newton e Beethoven em uma sala de aula nos dias atuais. Todos eles tinham dificuldade em socialização, comunicação e aprendizado. Sofriam, em algum grau, de espectro de autismo, e seriam facilmente transformados em bons alunos, diagnosticados, tratados e medicados. O mundo perderia quatro gênios, mas ganharia excelentes funcionários-padrão, contentes e domesticados.
Serviço:
O que é transtorno mental?
Palestrante: Mário Eduardo Costa PereiraLocal: Instituto Cpfl Cultura (Rua Jorge Figueiredo Corrêa, 1.632, Chácara Primavera, Campinas – SP);Data: 8 de agosto de 2014;Horário: 19h;Transmissão online pelo cpflcultura.com.br/aovivo;Entrada gratuita, por ordem de chegada, a partir das 18h. vagas limitadas;Informações: instituto cpfl  (19) 3756-8000 ou em www.cpflcultura.com.br;

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Abertas as inscrições para evento que discutirá o mal-estar na cultura contemporânea na perspectiva da psicanálise


Estão abertas as inscrições para o evento que vai discutir, do ponto de vista psicanalítico, o mal-estar na cultura contemporânea. O evento de acontece de 27 de outubro a 1º de novembro e visa abordar esta temática através de interlocuções entre profissionais e com outros saberes e práticas, tendo como foco pensar e articular as discussões psicanalíticas para além da universidade. Tal proposta justifica também a escolha de um espaço público realização do evento. Ele acontecerá na Biblioteca Pública Municipal de Santa Maria, parceira na iniciativa.
Segundo os organizadores que integram o curso de especialização em Clínica Psicanalítica da Ulbra em Santa Maria, "cada época possui características peculiares que são determinadas pelas especificidades de seu tempo. Da mesma forma, a contemporaneidade se apresenta com registros socioculturais e simbólicos que emergem de condições e possibilidades que permitem constituírem-se configurações políticas, sociais e culturais vigentes em nossos dias. O homem produziu, ao longo da história, valores, regras sociais, leis, tendências culturais, padrões de condutas e comportamentos. Em consequência desses dispositivos pertencentes ao seu tempo, produziu também formas de subjetividade, tanto individuais quanto sociais. Desde Freud, a psicanálise vem se interrogando sobre a cultura e seus fenômenos vigentes, principalmente no que diz respeito ao sujeito que ela produz e que sofre os efeitos de suas (re)configurações. O "mal-estar" (unbehagen) - termo que remete a um “sentir-se desprotegido”, a uma “falta de abrigo” – permeia a cultura e leva o sujeito a ter de se haver com esse lugar de eterna incompatibilidade entre suas necessidades individuais e as exigências socioculturais".
As inscrições podem ser feitas diretamente no site do evento e podem participar profissionais e estudantes interessado em Psicanálise. Mais informações também no site.

INFORMAÇÕES GERAIS DO EVENTO
 
Datas:
27/10/2014 - das 17:00 às 22:00
De 28 à 31/10/2014 - das 19:00 às 22:00
01º/11/2014 - das 13:30 às 18:30
 
Local:
Biblioteca Pública Municipal
Av. Presidente Vargas, nº 1300
Santa Maria - RS
 
Público:
Profissionais e estudantes interessados e engajados com a proposta da Psicanálise
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