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sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Infecções parasitárias pré-históricas




Descobrir a origem e a evolução das infecções parasitárias, por meio de informações obtidas pela identificação e análise de vestígios de parasitos em material arqueológico e paleontológico, é o objetivo da paleoparasitologia. Essa ciência permite saber mais sobre a história das doenças e da medicina, sobre as migrações humanas e sobre a vida dos nossos antepassados.
O bacteriologista inglês Marc A. Ruffer deu início a paleoparasitologia no século 20. Ele encontrou ovos de parasitos em múmias egípcias e pode determinar doenças que atingiam até faraós. Os achados só se multiplicam após a introdução de novos métodos de reidratação de material extraído de antigas fossas, nos anos 60.
Houve um grande avanço no diagnóstico de infecções parasitarias do passado com o uso de técnicas desenvolvidas pela biologia molecular. Essas técnicas são capazes de detectar fragmentos de genes de parasitos em arqueológicos, como ossos conservados pela mumificação natural ou artificial.


Análise de material e restos orgânicos
A paleoparasitologia enfrenta um problema: a identificação da origem zoológica do material examinado. As fezes fossilizadas encontradas nos sedimentos arqueológicos, por exemplo, podem ter sido produzidas por humanos ou por animais.
Em outros casos as fossas e locais de depósito de dejetos usados em tempos medievais na Europa, podem conter fezes humanas, de seus animais domésticos e de pequenos animais silvestres que circulavam em torno de moradias. Sendo assim, é preciso saber separar o material de origem humana daquele proveniente de outros animais.
Estudos estão contribuindo para a solução do problema. Na Universidade de Reims, na França, técnicas de biologia molecular foram usadas nas primeiras tentativas de diagnóstico e separação de espécies em material arqueológico. No Brasil, a equipe do Instituto Oswaldo Cruz que trabalha com DNA ancestral em conjunto com o Laboratório de Paleoparasitologia, vem desenvolvendo um método que poderá separar as duas espécies por meio de análises genéticas.

Parasitos em populações das Américas
Os resultados dos estudos feitos na Europa mostram que a abundância de ovos de vermes intestinais, principalmente A. lumbricoides e T. trichiura, aumentou à medida que as cidades e suas populações cresceram sem cuidados sanitários adequados.
Nas Américas, os estudos revelam duas situações distintas. Nos locais em que os americanos nativos formavam aglomerações ou nas grandes cidades astecas e incas, a transmissão das infecções parasitárias era muito fácil, e mais ovos são encontrados. Já entre os povos nômades, ocorria o contrário.

Indígenas infectados
Estudos em grupos de indígenas da atualidade revelam que eles ainda mantêm hábitos alimentares ancestrais, envolvendo duas comunidades tradicionais, os xavantes da aldeia Pimentel Barbosa, em Mato Grosso. E os suruís da Terra Indigena Sete de Setembro, na divisa dos estados de Rondônia e Mato Grosso, entre Cacoal (RO) e Aripuanã (MT)
O contato dos xavantes com a sociedade não indígena tornou-se permanente nos anos 40. Com o tempo, esse contato provocou diversas alterações na vida indígena, como o aumento da mortalidade por doenças infecciosas e parasitárias. A caça é um elemento fundamental na cultura dos xavantes, assim como os suruís.
Muito dos animais capturados são hospedeiros naturais de parasitos, incluindo vermes intestinais. Portanto é comum encontrar parasitos de animais nas fezes desses grupos indígenas. Ovos de parasitos de animais já foram encontrados em material arqueológico humano nos Estados Unidos e na Europa.

Verônica Barbosa

Texto produzido com base na matéria publicada na revista Ciência Hoje de Janeiro/Fevereiro de 2008.

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