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sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Desvendando os mistérios do autismo

Imagine uma criança bonita e saudável, porém, isolada, distraída e sem vontade de se relacionar. Se você conhece alguém que seja assim, provavelmente conhece um autista. Isso, ao menos, é o que tudo indica. Algumas crianças apesar de autistas apresentam inteligência e fala perfeitas, outras apresentam retardo mental, mutismo ou importantes retardos no desenvolvimento da linguagem. Alguns parecem fechados e distantes.
Desde que o autismo foi descrito pela primeira vez, em 1943, pelo médico austríaco Leo Kanner, vários estudos já foram feitos sobre essa doença, mas ela ainda é um enigma para a ciência. Muito já foi falado e especulado, mas não se tem bem ao certo as causas dessa desordem. Fora da genética, não é conhecido possíveis causas cientificamente viáveis para o autismo. “ Os fatores genéticos respondem por 90 % das causas para a doença”, explica o neuropediatra Leonardo de Azevedo. Os outros possíveis fatores não são conhecidos, e podem ser, por exemplo, resultado de problemas durante a gravidez, como rubéola, toxoplasmose e acidentes.
Um fator que prejudica ainda mais os estudiosos do assunto é que não há apenas um gene relacionado ao distúrbio, mas vários, o que dificulta o trabalho dos cientistas. “ O envolvimento de múltiplos genes pode responder por mais de 90% dos casos de propensão para o autismo”, explica Azevedo. Entre os genes candidatos estão dois responsáveis pelo metabolismo da serotonina, que tem papel na regulação do sono, apetite e da produção de hormônios. Entre eles, a descoberta de um está gerando efeitos mais concretos. Trata-se do gene responsável pelo controle da produção da oxitocina, um hormônio relacionado ao sistema reprodutor feminino, apelidado de ‘hormônio do amor’ e da ‘confiança’ graças a seu papel nas relações interpessoais e nos comportamentos afetivo. A oxitonina tem sido analisada em vários países por seu potencial de tratamento de alguns comportamentos autistas, como a ausência de contato visual e dificuldade de relação com outras pessoas. “Alguns estudos já comprovaram que pessoas com algum tipo de desordem do espectro autista têm menos oxitonina no sangue”, explica de Azevedo.
A oxitonina ainda está em fase de testes para o tratamento de sintomas de autismo. Por enquanto, o tratamento para o distúrbio passa por varias áreas médicas, e o grau de efetividade depende da idade em que é iniciado. A cura, entretanto, está longe de ser descoberta. “ Não sabemos de uma causa especifica para o autismo e, até que isso seja conhecido, será difícil falar de cura”, explica o psicólogo Ami Klin. “ No entanto, há tratamentos comportamentais bastante efetivos que podem ajudar crianças e adultos a superar dificuldades”. Para Klin, o objetivo com esses tratamentos, em sua maior parte sem utilizar medicamentos, não é curar, mas ajudar os portadores dessa desordem no seu relacionamento com os outros.
É difícil dizer qual o melhor tratamento para se tratar do autismo, principalmente porque elas são muito variáveis. Há crianças autistas que simplesmente não falam; outras repetem a mesma frase fora do contexto muitas vezes; há aquelas que não demonstram interesse por absolutamente nada, e outras que escolhem um assunto especifico para se aprofundar. De fato, há uma gama muito grande no autismo. Por isso, tanto psicanalistas como outros médicos e pediatras concordam que o melhor é um tratamento individualizado, de acordo com as limitações apresentadas por cada pessoa.
Como um dos principais sintomas do autismo é a dificuldade de se relacionar e de se comunicar, torna-se um duplo desafio para pais, médicos, neurologistas e psicólogos diagnosticar e tratar crianças que apresentam esse comportamento.
O que, tal qual outras doenças, o diagnóstico precoce é vital para um melhor tratamento. No Brasil, por exemplo, ainda há muitos casos de diagnóstico tardio, o que faz a criança ser tratada de maneira errônea, causando ainda mais estragos em sua vida.
É consenso geral entre os cientistas: quanto antes for feito o diagnóstico do autismo, mais fácil e eficiente é o tratamento e, por conseguinte, a melhora.

Esta matéria foi produzida com base na reportagem publicada na revista Ciência Hoje, edição maio de 2010

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