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sexta-feira, 5 de maio de 2017

Fazer jornalismo científico na internet é possível

         

O Blog Hypercubic  - nasce de uma mente inquieta e curiosa. 
O cientista, blogger e jornalista Renato Pincelli desde criança se interessava por ciência, lia revistas como a extinta Globo ciência, além da coleção de livros da série Curiosidades e enciclopédias
Largar os livros e sentar em frente da TV na infância de Pincelli só acontecia quando O Mundo de Beakamnn estava na telinha, um  programa de televisão educativo e estrelado pelo ator americano Paul Zaloom, que atuava como o Professor Beakman. Nessa produção audiovisual destinada ao público infantil experiências cientificas eram ensinadas e por meio de uma abordagem divertida  conceitos  apresentados, além disso Albert EinsteinIsaac NewtonBernoulli e outros reis da ciência apareciam nos episódios tornando tudo mais divertido, dinâmico e interessante.
Renato Pincelli é jornalista científico
Pincelli é um fã nato de ciência, em sua infância ir na locadora era sinônimo de mais um documentário assistido em sua lista de muitos.Aos dez anos, sempre alugava um VHS de desenho animado, uma comédia e um documentário da National Geographic”, relata o jornalista científico Pincelli. Ele conta que sempre viu um ar cientifico no desenho animado do Coyote e o Papa-léguas, pois uma brincadeira com os nomes científicos dos personagens no começo de cada episódio e o processo de tentativa e erro de capturar a ave fugitiva é um fato marcado.
Quando Pincelli é questionado sobre qual seria a melhor definição para ciência, ele cita Carl Sagan numa entrevista com Charlie Rose: "Ciência é uma maneira de questionar o universo de maneira cética, sabendo da nossa falibilidade humana". Depois disso o blogger completa: “Sagan queria dizer que quem não sabe fazer perguntas céticas, quem não questiona os donos da verdade acaba virando massa de manobra para qualquer aventureiro político ou charlatão religioso que surge. Mais do que criar tecnologia ou colecionar conhecimento, a ciência é uma maneira que temos para evitar sermos enganados, inclusive por nós mesmos.
Alguns anos se passaram, então Pincelli deixou de ser apenas consumidor de conteúdo científico e tornou-se também produtor. A paixão pela ciência desde cedo, deu frutos, o Blog Hypercubic, um site de ciências que além de informações dessa área, traz também conteúdos de opinião, curiosidades e cultura desde o ano de 2007.  Cada dia mais o blog avança e conquista espações e reconhecimento, a página do Facebook já tem quase dois mil seguidores e no ano de 2012 o jornalista científico recebeu o III Prêmio Bê Neviani, como vencedor na categoria blogs. 
No ano de 2011 o site deixou de pertencer ao formato blogspot e inseriu-se no Sciencia Blogs, um espaço online que abriga a maior rede de blogs de ciência do mundo. Este espaço busca aproximar a sociedade das descobertas e pensamentos da ciência. O entrevistado acredita que na plataforma é possível discutir Ciência de forma aberta e inspiradora, além transformar vozes das mais variadas localidades em vozes globais, pois nesse ambiente virtual é possível encontrar conteúdo em diferentes línguas como: inglês, português e alemão. Hoje Pincelli sente-se satisfeito por integrar essa rede e traduz seus sentimentos nas seguintes palavras: “vejo essa mudança como um amadurecimento, uma semi-profissionalização do meu trabalho e tenho orgulho de ser um scienceblogger”.
Com uma linguagem engraçada, descontraída e nada formal o autor do blog, de 23 anos, tem um texto curioso e dinâmico. O design é esteticamente bonito. Combinando três tons de verde, seu ícone é um hipercubo, ou seja, um volume maior que um cubo comum. A disposição do site é organizada e traz alguns tópicos como: Adicione a sua dimensão, ou seja, um espaço para troca de conhecimento entre o público e o produtor de conteúdo para a internet, lá é possível enviar opiniões sobre as postagens, criticas, textos para serem publicados, histórias curiosas, quadrinhos etc.
O blog tem o nome de Hypercubic, pois o cientista lia alguns estudos sobre a quarta dimensão geométrica, ele explica que na matemática um hipercubo é uma versão quadridimensional de uma figura simples, o cubo. Diferente do cubo, o hipercubo tem um espaço interno, um volume muito maior. “Eu achei que a definição de hirpercúbico seria uma boa analogia para a internet em geral. Eu via meu blog como uma caixa hipercúbica onde podia colocar minhas ideias e interesses. Mantive o nome em inglês por questões puramente fonéticas. Achei que hypercubic soava melhor que hipercúbico”, esclarece Pincelli.
Na hora de produzir conteúdo além do prazer em poder compartilhar o que o interessa, Renato Pincelli traduz textos em inglês, pois enxerga que boas produções se perdem por não possuírem versões em português. Ele Gosta de escrever ou estudar sobre um pouco de tudo. “Acho que essa curiosidade generalizada é fundamental para o jornalista científico. No entanto, os interesses variam com o tempo. Houve uma época em que mantive uma coluna semanal sobre patentes bizarras, mas fui parando aos poucos quando isso deixou de me interessar. As áreas que mais rendem ultimamente são astronomia e nanotecnologia, mas também gosto muito de física, biologia, história, arqueologia, linguística”, conta o cientista.
O autor do Hypercubic prefere trabalhar sozinho e no seu ritmo que determina dois ou três posts por semana. Hoje relata que gostaria de apoio, de uma equipe maior já que inicia novos projetos em sua vida acadêmica. Para organizar os conteúdos que serão dispostos no blog, Pincelli faz uma seleção de notícias relevante, escolhe a partir de e-mails que assina de sites que apresentam comunicados científicos, como o Phys.org, o ScienceDaily ou o Sci-News.
Hyppercubic e a origem do Chá
“Quando escolho algo, penso em apresentar uma pesquisa que seja interessante, mas não necessariamente revolucionária ou bombástica, afinal todo mundo acabaria escrevendo sobre isso”, explica o autor do blog.
Não é uma tarefa fácil trabalhar com ciência, muito menos com a divulgação desta. Um modelo de jornalismo científico a ser seguidos aos olhos de Renato Pincelli é o trabalho de Mauricio Truffani no Direto da Ciência, que pauta uma área pouco explorada, a da política científica e, também, busca esclarecimentos de alguns escândalos acadêmicos.  Um apelo de Pincelli é que haja equilíbrio e não uma produção científica voltada totalmente a academia ou outra  com uma linguagem simplista, que torna a pesquisa científica e seus processos irrelevantes, assim  muito faz a Ciência Hoje, da SBPC e por vezes a Superinteressante.      
Para encerrar Pincelli ressalta que o papel do jornalista científico é semelhante ao de um tradutor, pois ambos trabalham com o incompreensível para determinado público e recodificam isso para torná-lo mais acessível. “Um bom jornalista científico deve, além de muita curiosidade, ter certo pendor para a tradução, tradução não apenas de texto, de jargão, mas de ideias e noções que muitas vezes são abstratas e distantes demais do cotidiano. O papel do jornalista científico é pegar esse material bruto e digeri-lo, tornando-o mais palatável para o leitor. É preciso simplificar, encontrar analogias que existam no dia-a-dia do leitor. Ao mesmo tempo, não se pode simplificar demais. A dificuldade do jornalismo científico é essa: encontrar um equilíbrio entre a simplificação que esclarece e a que imbeciliza”.

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