Além de todos os problemas de comunicação que os países da
América Latina enfrentam, a divulgação da ciência e tecnologia, através da
imprensa é a maior delas. Essa preocupação resultou no artigo “Problemas de la
divulgación científica em Iberoamerica”, do jornalista científico Manuel Calvo
Hernando, em que o autor apresenta um pouco de história, atualidade e
perspectiva para o jornalismo científico nesses países.
Segundo ele, antes dos anos 60, a publicação científica era
praticamente nula na América Latina. A sensibilidade pela questão começou a
aumentar quando os Estados Unidos iniciou cursos sobre o assunto. A primeira
manifestação pública que mencionou o estímulo ao tema foi feita pelos Chefes de
Estado Americano, em 1967, objetivando colocar a ciência e a tecnologia “a
serviço do povo”. A partir de então, começaram programas de incentivo científico,
mesas redondas e seminários.
Na América Latina, os jornais, hoje, não satisfazem as necessidades
básicas, como, por exemplo, educação científica e debate público. Segundo Hernando,
a população não é informada sobre esses aspectos científicos que são de extrema
relevância para suas vidas atuais e futuras, assim como para a de seus descendentes.
Um dos principais problemas de divulgação científica na América
Latina é a dificuldade da participação popular nas investigações. Segundo o
autor, a inexistência de consciência científica na sociedade faz com que a
mesma viva alheia a essas questões e os meios de informação acabam não dando
muito espaço para o tema, pois não há público para isso, fenômeno que o autor
denomina de “círculo vicioso”.
Mas
não é apenas isto que não contribui para o fortalecimento do jornalismo
científico. O pesquisador identifica outras preocupações como, por exemplo,
falta de criatividade nas técnicas de difusão, decadência da reportagem
científica, visão dogmática da ciência e tecnologia, predomínio de grandes
institutos e universidades, falta de utilização de empresas como fontes de
informação, mantimento de antigos paradigmas, problemas de incentivo e
intervenção política.
Em relação ao Brasil, o jornalista afirma que ele se distingue
de outros países sobre o assunto, justificando o grande número de seminários,
cursos e congressos promovidos no território nacional para divulgação da
ciência. Hernando faz referência ao brasileiro José Reis, autor de muitos
livros e trabalhos sobre o tema, denominando-o como um dos grandes divulgadores
científicos do mundo. Apesar da melhoria na imprensa brasileira, a ciência e a tecnologia
ainda são divulgadas com a utilização de formas sensacionalistas, conceitos
como ciência neutra e que o conhecimento científico é inacessível à maioria.
Ainda sobre o Brasil, o autor fala sobre a dificuldade de
profissionais de comunicação para exercerem essa função. Apesar disso ser uma
característica mundial, raramente as instituições de ensino disponibilizam em
sua matriz curricular o jornalismo científico, na tentativa de sanar a
necessidade. A maioria realiza cursos e seminários sobre essa especialidade.
No México, o autor enfatiza que não existe apenas a
divulgação, mas sim uma análise e reflexão sobre o tema. É notória, nas
instituições de ensino, a preocupação com o assunto, a fim de utilizar esse conhecimento
como uma ferramenta para melhorar a qualidade de vida. Algumas características que
ameaçam a situação atual no país são a crença de que esse trabalho é
essencialmente filantrópico, carência de formação e profissionais divulgadores
da ciência, conceitos culturais e a difusão, muitas vezes, é vista como algo
secundário pelos cientistas.
Já na Colômbia não existem escolas para essa especialidade,
não tendo critério nem projeções para tratar a notícia no âmbito
científico. Os poucos trabalhos no país
acabam sendo sensacionalistas. Segundo Hernando, os problemas de divulgação na
América, além da falta de formação e educação científica, são frutos da falta
de diálogo entre o jornalista e o cientista, apuração aprofundada, decodificação
do discurso científico e colaboração de autores e críticos para qualificar a divulgação.
Para o autor, o jornalismo científico, teoricamente, oferece
a oportunidade de conhecer e interpretar de uma forma mais amena esses temas
que se encontram por uma questão cultural ou não, mais distantes da população. Resumidamente,
a preocupação, não é só do autor referido, mas de inúmeros pesquisadores
citados por ele durante o artigo, em relação ao jornalismo científico é imensa.
Particularmente,
acredito que a principal mudança deve ocorrer na educação, na quebra de
conceitos e paradigmas. Primeiramente, a ciência deve ser vista como parte da
vida da população que, por sua vez, tem direito de entender e participar do
processo, em virtude da relevância do assunto em seu cotidiano e futuro. A
partir disso, a difusão da mesma se tornará mais acessível. Em relação à
dificuldade de formação profissional, isso não é uma característica apenas
científica, a especialização jornalística ainda está em desenvolvimento.
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