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quinta-feira, 23 de agosto de 2012

O jornalismo científico e a escassez da divulgação na América Latina


Além de todos os problemas de comunicação que os países da América Latina enfrentam, a divulgação da ciência e tecnologia, através da imprensa é a maior delas. Essa preocupação resultou no artigo “Problemas de la divulgación científica em Iberoamerica”, do jornalista científico Manuel Calvo Hernando, em que o autor apresenta um pouco de história, atualidade e perspectiva para o jornalismo científico nesses países.
Segundo ele, antes dos anos 60, a publicação científica era praticamente nula na América Latina. A sensibilidade pela questão começou a aumentar quando os Estados Unidos iniciou cursos sobre o assunto. A primeira manifestação pública que mencionou o estímulo ao tema foi feita pelos Chefes de Estado Americano, em 1967, objetivando colocar a ciência e a tecnologia “a serviço do povo”. A partir de então, começaram programas de incentivo científico, mesas redondas e seminários.
Na América Latina, os jornais, hoje, não satisfazem as necessidades básicas, como, por exemplo, educação científica e debate público. Segundo Hernando, a população não é informada sobre esses aspectos científicos que são de extrema relevância para suas vidas atuais e futuras, assim como para a de seus descendentes.  
Um dos principais problemas de divulgação científica na América Latina é a dificuldade da participação popular nas investigações. Segundo o autor, a inexistência de consciência científica na sociedade faz com que a mesma viva alheia a essas questões e os meios de informação acabam não dando muito espaço para o tema, pois não há público para isso, fenômeno que o autor denomina de “círculo vicioso”.
            Mas não é apenas isto que não contribui para o fortalecimento do jornalismo científico. O pesquisador identifica outras preocupações como, por exemplo, falta de criatividade nas técnicas de difusão, decadência da reportagem científica, visão dogmática da ciência e tecnologia, predomínio de grandes institutos e universidades, falta de utilização de empresas como fontes de informação, mantimento de antigos paradigmas, problemas de incentivo e intervenção política.
Em relação ao Brasil, o jornalista afirma que ele se distingue de outros países sobre o assunto, justificando o grande número de seminários, cursos e congressos promovidos no território nacional para divulgação da ciência. Hernando faz referência ao brasileiro José Reis, autor de muitos livros e trabalhos sobre o tema, denominando-o como um dos grandes divulgadores científicos do mundo. Apesar da melhoria na imprensa brasileira, a ciência e a tecnologia ainda são divulgadas com a utilização de formas sensacionalistas, conceitos como ciência neutra e que o conhecimento científico é inacessível à maioria.
Ainda sobre o Brasil, o autor fala sobre a dificuldade de profissionais de comunicação para exercerem essa função. Apesar disso ser uma característica mundial, raramente as instituições de ensino disponibilizam em sua matriz curricular o jornalismo científico, na tentativa de sanar a necessidade. A maioria realiza cursos e seminários sobre essa especialidade.
No México, o autor enfatiza que não existe apenas a divulgação, mas sim uma análise e reflexão sobre o tema. É notória, nas instituições de ensino, a preocupação com o assunto, a fim de utilizar esse conhecimento como uma ferramenta para melhorar a qualidade de vida. Algumas características que ameaçam a situação atual no país são a crença de que esse trabalho é essencialmente filantrópico, carência de formação e profissionais divulgadores da ciência, conceitos culturais e a difusão, muitas vezes, é vista como algo secundário pelos cientistas.
Já na Colômbia não existem escolas para essa especialidade, não tendo critério nem projeções para tratar a notícia no âmbito científico.  Os poucos trabalhos no país acabam sendo sensacionalistas. Segundo Hernando, os problemas de divulgação na América, além da falta de formação e educação científica, são frutos da falta de diálogo entre o jornalista e o cientista, apuração aprofundada, decodificação do discurso científico e colaboração de autores e críticos para qualificar a divulgação.
Para o autor, o jornalismo científico, teoricamente, oferece a oportunidade de conhecer e interpretar de uma forma mais amena esses temas que se encontram por uma questão cultural ou não, mais distantes da população. Resumidamente, a preocupação, não é só do autor referido, mas de inúmeros pesquisadores citados por ele durante o artigo, em relação ao jornalismo científico é imensa.
            Particularmente, acredito que a principal mudança deve ocorrer na educação, na quebra de conceitos e paradigmas. Primeiramente, a ciência deve ser vista como parte da vida da população que, por sua vez, tem direito de entender e participar do processo, em virtude da relevância do assunto em seu cotidiano e futuro. A partir disso, a difusão da mesma se tornará mais acessível. Em relação à dificuldade de formação profissional, isso não é uma característica apenas científica, a especialização jornalística ainda está em desenvolvimento. 

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