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quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Tópicos sobre divulgação científica, segundo Manuel Calvo Hernando

1. Criação de uma ciência coletiva
  •  Frente ao risco de ver a ciência subjugada pelo poder, ou vice-versa, é necessário subordinar o poder com cuidado. Para isso é preciso,, segundo Laurent Fabius “Desenvolver uma cultura científica e tecnológica de massa”. Segundo ele essa ideia desempenha um papel essencial na mídia impressa e radiofusão. Em outras palavras, ciar uma consciência coletiva científica necessariamente fortalece a sociedade democrática.
  •  Os jornalistas e os comunicadores devem fornecer uma informação verdadeira e sugestiva em ciência e tecnologia. Para isso, os cientistas também têm a obrigação de dedicar uma parte do seu trabalho e seu tempo, interagindo com o público através da mídia ou por outros meios que hoje são agrupados para o nome de Ciências da Comunicação Pública. Além disso, conforme Mª Gabriela S. Martins da C. Marinho, III Congreso Brasileño de Periodismo Científico, 1991, tem-se dito que a difusão da ciência deve ser considerada como uma fase do processo científico.
  • Este vínculo entre ciência e sociedade vem de longe. Os cientistas sabiam que sua obrigação era servir o povo, embora nem sempre o fizessem, especialmente em grandes sistemas políticos autoritários.
2. Coesão: característica entre os grupos sociais
  • A divulgação científica e técnica cumprem ou deveriam cumprir, uma função de coesão e fortalecimento da unidade dos grupos sociais, permitindo ao indivíduo participar de alguma forma nos objetivos e tarefas de uma parte da sociedade que têm o poder científico e tecnológico. É o que Albertini e Bélisle chamam de função social de integração. Trata-se se acabar com o distanciamento entre a ciência e o senso comum. Como complemento se destaca uma função social da divulgação científica: conseguir que os cientistas e o público se compreendam melhor.
3. Fator de desenvolvimento cultural.
  • Os primeiros que escreveram sobre a necessidade e os problemas da popularização da ciência, como Pradal (1968), já determinou que a divulgação é uma necessidade cultural. Hoje, quase por unanimidade acredita-se que a divulgação da ciência e da tecnologia é necessária para o desenvolvimento cultural de um povo.
4. Aumento da qualidade de vida.
  •  A popularização da ciência não é apenas um fator de crescimento do próprio trabalho científico, mas uma contribuição para a melhoria da qualidade de vida e um meio de disponibilizar o gosto por conhecer sistemas e utilização de recursos da natureza e uma melhor utilização do progresso da ciência e da tecnologia.
  • Este tipo de divulgação contribui a uma forma particular de mediação cultural e supõe uma atividade que seleciona, reorienta e adapta um conhecimento específico para transformá-lo com destino a um contexto distinto. 
  •  A divulgação tem uma dimensão econômica, já que pode facilitar a transferência de conhecimentos, pode acelerar o processo de desenvolvimento industrial e pode também promover uma cultura empresarial que ajuda a incentivar a competitividade.
5. Política de comunicação científica.
  •  Estudos como o de Dorothy Nelkin ("La ciencia en el escaparate"), refletem que em uma sociedade cada vez mais dependente do conhecimento tecnológico, é extremamente importante contar com uma informação honrada, crítica e exaustiva sobre ciência e tecnologia.
  •  Nas sociedades em desenvolvimento, a divulgação da ciência tem a dupla responsabilidade de informar sobre a investigação que se faz no próprio país e a referente à ciência mundial, levando em conta sua influência nos indivíduos e nos grupos sociais.
6. Comunicação de risco
  • Esta comunicação pode ser, pelo menos, de dois tipos: um de natureza persuasiva e outro para informar ao público sobre como tentar reduzir os riscos em casos de desastres.
  •  Relacionada com esta função de divulgação, está a necessidade de estabelecer novas relações de comunicação entre governos, indústrias e sociedade, para estabelecer um novo sistema de relações, que nos permita desfrutar dos benefícios da tecnologia com o mínimo de risco. 
  •  Isso implica o dever dos meios de comunicação, de transmitir não somente as informações de atualidade, mas também, as que são úteis ao indivíduo e a sociedade, em uma linha de serviço ao público, para oferecer uma informação diferenciada.
  • Tendo em conta todas essas circunstâncias a Royal Society de Londres juntamente com outras instituições estabelece o Commitee on the Public Understanding of Science, COPUS. Se trata de romper as barreiras entre os cientistas e os meios de comunicação, mediante iniciativas diversas. Entre elas um programa de bolsas para que cientistas da indústria, universidades ou de centros oficiais trabalhem durante oito semanas em um jornal, televisão ou rádio.
7. Função complementar de ensino
  • A divulgação científica não substitui a educação, mas pode contribuir para o desenvolvimento da educação permanente e ajudar o público a adotar uma determinada atitude perante a ciência.
  •  A divulgação científica como pedagogia tem seus limites, que são resumidos por Pierre Sormany (Conferencia CCP, Madrid 21-24 mayo 1991): “É unidirecional e não interativa, pode dar lugar a construções pseudocientíficas e pode fortalecer o mito da ciência inacessível, ao invés de promover um autêntico equilíbrio no reparo do conhecimento.”
  • Ao mesmo tempo, suas ambições excedem os objetivos da educação convencional, no sentido de que os jovens se interessem mais pela ciência. 
8. Divulgação e educação
  • Em seu estudo clássico, "El reparto del saber", Roqueplo (1974), estabelece quatro tipos de relações entre os divulgadores do ensino (primeira e segunda): uma relação de complementaridade e relações de dependência direta, negativa e inversa.
  •  A relação de complementaridade se deriva da necessidade de especialização nos docentes e do atraso dos programas escolares com relação ao progresso da ciência. A divulgação complementaria então, a educação com flexibilidade e imaginação.
  •  A relação de dependência direta: A divulgação dó será acessível a quem recebeu um ensino suficiente para obter um benefício real desta atualização de conhecimento. De outra maneira, a divulgação corre o risco de incrementar a “brecha do conhecimento”, entre quem aproveita a divulgação nos meios informativos e quem não a faz efetivamente, por falta de preparação.
  •  Em terceiro lugar, uma relação de dependência negativa: originada pela falta de curiosidade dos cientistas pelo que está fora de seu campo e o bloqueio das pessoas quando se houve fala em ciência.
  • Relação de dependência inversa: cooperação entre investigador e escritor, e adaptação mútua daquilo que caracteriza em um ou outro estranhamento.
9. Combater a falta de interesse
  • Uma dimensão importante da divulgação científica é combater a falta de interesse da opinião pública sobre esses temas. Há muitos meios de combater esta falta de interesse, e cada divulgador terá de descobri-los.
  • Se trata de exaltar o mistério do universo científico em suas diferentes dimensões, mas sem rebaixar a nobreza e a dignidade desta palavra que impede ou dificulta seu uso em términos domésticos, familiares ou de distração.
10. As mensagens da ciência
  • Devemos ter presente a utilidade da ciência, sua capacidade de melhorar nossa vida. A obrigação de científicos e escritores é transmitir ao público uma mensagem da utilidade da ciência como serviço ao homem.
  • Devemos nos esforçar em apresentar o raciocínio científico, onde o método, como sabem todos os cientistas, é com frequência mais importante que o próprio resultado. Os jornalistas científicos norte-americanos da última geração creem também que não se basta informar os descobrimentos, e sim, aprofundar mais nos efeitos da ciência sobre o indivíduo e a sociedade.
11. Função de divulgador: uma comparação
  • Uma comparação de Pierre Auger resume de modo transparente a função geral do divulgador neste último nível: “É sabido que os gestos e as ações dos profissionais, vistos de longe, são geralmente incompreensíveis para um observador que não este em jogo”.

12. Desdramatizar a ciência
  • Tratando de conciliar a democratização com a seleção, o rigor com a simplicidade. Almodóvar (1992) fala de "dramatizar a ciência", referindo-se a suas experiências de divulgação científica por televisão, em programas de grande público que não tem caráter científico, e sim  unicamente cultural.
  • Para interessar o público em certos temas, as vezes distantes de sua experiência cotidiana, é muito importante tratar de desdramatizá-los, de dispensar sua carga acadêmica e formal, para convertê-los em algo acessível a sua mentalidade e sua capacidade de compreensão.
13. Aprender a comunicar
  • O passo seguinte deveria ser a aprendizagem, por parte dos cientistas, de não somente comunicar-se entre si, que hoje é essencial, mas para informar seus concidadãos os resultados do seu trabalho e, até mesmo, o processo em cada caso, o que leva a uma melhor compreensão do homem e do universo.
  • Contrariamente ao que parecia, a atividade da divulgação da ciência é das que mais exige criatividade e imaginação de seus cultivadores. Por um lado, deve-se extrair a substância, suas matérias, do fechado âmbito cientifico e deve, por outra parte, alcançar, interessar e se possível, entusiasmar o público com seus resultados.
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    Por Camille Wegner

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