Pesquisar este blog

sábado, 6 de novembro de 2010

O Sal como solução, sim ou não?

Desde muito cedo se aprende que o sal de cozinha é um dos grandes vilões das dietas e da boa forma, além de ser o causador de muitas doenças. Basta uma visita a um médico ou ao nutricionista para se tornar um combatente à comida muito salgada. O sal de cozinha é candidato a se tornar um alimento considerado “não seguro” por agências reguladoras de alimentos e remédios em vários países. E não tem sido diferente no Brasil.
Aproximando-se desse modo dos países considerados mais desenvolvidos, o consumo per capita de sal, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) tem sido excessivo no país. No nosso caso, porém, nem sempre foi assim, nas décadas de 1940 a 1960, o sal de cozinha era tido como salvação para muitas doenças, especificamente a malária e o bócio endêmico.
Duas doenças tão distintas como a malária e o bócio endêmico foram alvos das preocupações e ações da saúde pública brasileira no período em questão. Nas décadas de 1940 e 1960 o sal de cozinha foi considerado o instrumento mais adequado para superar esses desafios e transformado em elemento central de programas de saúde.
O primeiro Governo Vargas promoveu iniciativas voltadas para a melhoria da alimentação da população, como restaurantes populares e restaurantes nas empresas, cujo alvo seria o trabalhador urbano e sua família, além de refeições para alunos das escolas públicas nas grandes cidades e incentivo a educação alimentar e pesquisas sobre alimentos. Porém, as populações e trabalhadores rurais não foram incluídos nesta e nas demais políticas sociais.
Há indicações de que as populações do interior não aderiram ao “sal benfeitor”, que seria o sal refinado. Teimavam em utilizar o sal grosso, particularmente para conservação de alimentos, e havia desconfiança em relação ao gosto por causa do iodo. A extrema pobreza e o analfabetismo nas áreas endêmicas também dificultavam a mudança racional do hábito que, mesmo com campanhas educativas, esbarraria na ausência de recursos para comprar e consumir o produto com regularidade.
Nesse contexto especifico, a estratégia brasileira foi efetivamente reconhecida pelas agências da saúde internacional, e integrada na meta de erradicação da malária a partir de 1958. Apesar de semelhantes e quase simultâneas, as experiências de utilização do sal como veículo terapêutico e profilático no Brasil dos anos 1940 e 1950 estavam inseridas em circuitos institucionais e políticos bastante diversos, mas dentro da mesma orientação de superação das endemias rurais como base para o desenvolvimento.
A expectativa de que “salgar o Brasil” rapidamente nos livraria do bócio e da malária acabou sendo frustrada. Críticas aos programas existiram ao longo de sua implementação, mas críticas ao modelo de saúde pública e a maneira pela qual se associava ao desenvolvimento, surgiram mais clara e organizadamente nas décadas de 1960 e 1970.


Matéria produzida em cima do artigo feito por Gilberto Hochman,pesquisador titular da Casa de Oswaldo Cruz/Fundação Oswaldo Cruz,professor do Programa de Pós – Graduação em Historia das Ciências e da Saúde.
Lucian Ceolin

Nenhum comentário: