Pesquisar este blog

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Transporte clandestino: embarcações levam espécies exóticas por toda costa brasileira

Os cascos de navios são os maiores transportadores de espécies marinhas nativas ou exóticas pela costa brasileira. Seres esses conhecidos como incrustantes, que se fixam aos cascos das navegações trazendo problemas não só econômicos, mas também ecológicos.
Além de diminuir a velocidade e destruir graduavelmente os cascos dos navios, esses organismos ao serem transportados de sua distribuição geográfica original para outro local, podem adaptar-se ao novo ambiente, desenvolvendo-se consideravelmente e disputando espaço com as espécies nativas, ameaçando a sobrevivência destas.
Os incrustantes mais encontrados nas embarcações são: as cracas, os briozários, as algas, os hidrozoários, as esponjas, as anêmonas e outros. No Brasil um exemplo do problema é o mexilhão Prena perna.
Esse mexilhão comestível presente em diversas áreas do litoral brasileiro e por muito tempo considerado uma espécie nativa, na verdade é uma espécie exótica, pois estudos da bióloga Rosa Cristina C. L. Souza revelaram que não há vestígios desses moluscos em sambaquis (deposito de conchas e artefatos humanos no litoral feito por antigas populações indígenas).
Existem poucas pesquisas sobre o transporte das espécies nas embarcações brasileiras. Uma delas foi com o cargueiro salineiro Frotargentina e a lancha balizadora Tubarão, da Marinha Brasileira. No cargueiro foram constadas seis espécies nativas e uma exótica, cracas e macroalgas foram os organismos mais encontrados no casco do navio. Já na lancha Tubarão foram identificadas 43 espécies incrustadas, na sua maioria cracas brasileiras nativas e exóticas, o mexilhão Perna perna, o poliqueto, hidrozário, briozário e macrolagas.
A diferença no número de organismos do cargueiro para a lancha se dá a partir de sua pintura. No navio Frotargentina a pintura anticrustante é à base de TBT (tributil estanho) um regente que antes mesmo do seu banimento os principais fabricantes decidiram parar de produzi-lo, pois, causa problemas hormonais em alguns moluscos, levando o surgimento de estruturas sexuais masculinas nas fêmeas.
Na lancha o aumento de organismos, em relação ao cargueiro deveu-se principalmente ao tipo de tinta incrustante livre de estanho, mas menos eficiente que as tintas com TBT.
Novas fórmulas estão sendo desenvolvidas, inclusive no Brasil, empregando-se biocidas extraídos de organismos marinhos, o que permitirá uma nova perspectiva no combate às incrustações, com tintas eficientes, mas de baixa toxidade.
Como os crescentes investimentos no setor naval tendem a aumentar o numero do fluxo de embarcações dentro do país, é urgente conheçamos a biologia e a ecologia das espécies incrustadas para fundamentar as decisões sobre a preservação e a solução de possíveis casos de introdução de espécies em seus cascos, visando proteger os ecossistemas marinhos da costa brasileira.

Diego Diniz

Fonte: Revista Ciência Hoje, Jan/Fev 2008,

Nenhum comentário: