O que você faz no curto intervalo de tempo de 5 segundos? Talvez, ler uma pequena frase. E enquanto você lê este período, uma criança morre de fome.
Segundo relatório da FAO (Organização das Nações Unifas para a Agricultura e Alimentação), morrem de inanição, anualmente, pelo menos 5 milhões de crianças no mundo.
A problemática da fome sempre foi muito discutida mundialmente e principalmente, no Brasil. Um nome conhecido por se dedicar a um tema então considerado tabu, é o do escritor Josué de Castro. Autor de Geografia da fome (1946) e Geopolítica da fome (1851), o também médico, professor e cientista social, mostrou-se um pesquisador empenhado em combater a desigualdade e a injustiça social. Para Josué de Castro, “nenhuma calamidade é capaz de desagregar tão profundamente e em um sentido tão nocivo a personalidade humana como a fome, quando alcança os limites da verdadeira inanição”.
A socióloga Anna Maria de Castro, filha de Josué de Castro, explica que, segundo seu pai, a fome e a miséria são fenômenos criados pelo próprio homem. “Josué via dois caminhos: o caminho do pão e o da bomba. Ao mencionar esse dilema, deixou claro seu repúdio à economia armamentista”, declarou à revista Ciência Hoje. Para ele, a fome era produto das relações econômicas que fizeram com que apenas uma parcela da população tivesse acesso aos bens produzidos. Ou seja, a fome decorre da ação do homem.
Josué de Castro acreditava que as ciências deveriam se unir. Quando começou a carreira médica, logo percebeu que a medicina não daria conta de explicar o problema da fome. Essa inquietação fez com que direcionasse seus estudos às outras ciências, como a geografia, a ecologia e as ciências sociais. Isso o fez perceber que a fome não era um problema natural, e assim colocou-a entre as ações do próprio homem, tornando obrigação da sociedade buscar a diminuição de seus drásticos efeitos.
![]() |
José de Castro e Openheimer |
Na 30ª Conferência Regional da Organização das Nações Unidas, sediada no Brasil em 2008, foram divulgados números que mostraram a diminuição da subnutrição nos últimos anos: de 59 para 51 milhões de pessoas. Essa redução pode ter se dado através de programas como o Fome Zero, lançado em 2003, e o Bolsa Família, lançado em 2004. “Claro que é preciso mais do que a adoção de políticas públicas para enfrentar um problema como a fome no Brasil”, explica Anna Maria de Castro. “Entretanto, é preciso registrar que se trata do primeiro momento em que um governo elabora uma política e a considera como prioridade”, completa a socióloga.
Anna Maria Castro concorda com o pai, que afirmava que um dos maiores desafios para solucionar o problema da fome no país é fazer a reforma agrária. Para os estudiosos no assunto, só se pode reverter esse problema com uma reforma, na qual grande parte da população possa ter acesso à terra e aos insumos agrícolas necessários à produção de alimentos. “Não podemos construir um país com segurança e soberania alimentar enquanto verificarmos a existência de grandes propriedades, verdadeiros latifúndios, visando sobretudo, ao atendimento do mercado externo”, comenta Anna Maria Castro.
Liciane Brun
Matéria produzida a partir de entrevista de Anna Maria Castro, concedida à revista Ciência Hoje.
2 comentários:
O programa Bolsa Família, do Brasil, é parte de sua política social e atua baseada em amplos subsídios a alimentos, transportes, moradia e saúde. Esse exemplo deve ser aplicado em paises como Africa do Sul, conhecido por ser muito pobre. O Egito já estuda o programa para implantar já que o mesmo, cumpre um objetivo social relevante e atende um universo significativo de pessoas.
E pensar que enquanto eu escrevia essas palavras, inúmeras crianças desprovidas de auxilio e solidariedade, morriam sem piedade alguma. É triste! Porém, tem que ser públicado. Abs. Henrison
Postar um comentário