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quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Efeito rizosfera auxilia na recuperação de ambientes

Bactérias e fungos associados às raízes de plantas podem contribuir para degradar poluentes. É o que comprovam as pesquisas realizadas a respeito da rizosfera, região do solo onde as raízes das plantas se desenvolvem e que fica pouco abaixo da superfície. Neste local concentram-se micro-organismos, entre eles diversas bactérias, que utilizam substâncias orgânicas (açúcares, ácidos orgânicos, entre outros) liberadas pelas raízes. Estas substâncias são fonte de carbono e energia para o crescimento e reprodução das bactérias.
O estudo da simbiose (relação mutuamente vantajosa entre dois ou mais organismos vivos de espécies diferentes) entre bactérias e plantas revelou mecanismos capazes de degradar poluentes, com menor custo e prejuízo ao meio ambiente. No Brasil, a importância do processo já está sendo confirmado. Um exemplo é a Empresa Brasileira de Agropecuária (Embrapa), no Rio de Janeiro.
Na região entre os municípios de Barra Mansa e Japeri, no início dos anos 2000, foi constada a existência de cerca de mil voçorocas, enormes valas produzidas pela erosão de áreas onde a vegetação original foi destruída (retirada de florestas, queimadas ou pela ocupação desordenada do terreno). Cada voçoroca equivalia à perda de cerca de 20 mil toneladas de solo, levadas para o rio Paraíba do Sul o que causou um imenso impacto ambiental na região (equivalente ao lançamento de 2 milhões de caminhões de aterro no rio).
A solução encontrada pela Embrapa foi justamente a de utilizar o efeito rizosfera na recuperação das áreas afetadas. Foram instalados obstáculos com materiais alternativos nas voçorocas e o plantio de mudas de leguminosas, já com bactérias fixadoras de nitrogênio em suas raízes. E o resultado foi satisfatório: a redução de emissão de sedimentos foi de 90% no primeiro ano e 98% após cinco anos.
As interações entre raízes e micro-organismos – efeito risosfera- permite não apenas um aumento da biomassa e da atividade bacteriana no solo, mas também uma ação seletiva no desenvolvimento das bactérias. Ou seja, é possível utilizar o efeito para alterar a diversidade dos grupos bacterianos, favorecendo um ou mais grupos com finalidades específicas, como combater os efeitos de poluição ambiental, entre eles os derramamentos de petróleo.

A técnica da biorremediação
É possível recuperar ambientes contaminados por óleo através da biorremediação. Uma técnica que utiliza micro-organismos capazes de degradar esse poluente e transformar suas moléculas em outras mais simples, que serão aproveitadas em seu metabolismo, gerando biomassa e energia.
Para reforçar esse processo, pode ser utilizado a fitobiorremediação – emprego de plantas associadas a comunidades de bactérias capazes de remover, capturar ou degradar substâncias tóxicas. Os micro-organismos contidos nestas plantas são capazes de consumir os poluentes e de se associar as raízes, o que permite sua remoção e/ou degradação tanto na superfície como no solo.
A técnica, ao ser aplicada em local poluído por petróleo, não perturba o ambiente e ajuda a recuperar a cobertura vegetal, contribuindo ainda para o controle da erosão.

O Brasil e as pesquisas
A fitobiorremediação - utilização de plantas com a finalidade de remover ou minimizar substâncias tóxicas do ambiente- ainda é pouco explorada no Brasil. Em geral, as pesquisas existentes descrevem experiências realizadas em laboratórios. Exceto em 2000, quando consórcios de bactérias capazes de degradar ambientes foram identificados no solo do de manguezal da baía da Guanabara. Na ocasião, estudou-se a aplicação das bactérias nas áreas onde viviam, quanto ao fato de ajudar na limpeza de derramamentos de óleo, um feito inédito na América Latina.
Em 2004, através de um estudo concluiu que a árvore conhecida como mangue- vermelho é a mais adequada para o reflorestamento de ambiente impactado por óleo. A rizosfera possibilitou a essas plantas superar os efeitos da contaminação do solo e obter nutrientes para crescimento do caule e aumento no número de folhas.
No ano de 2006, uma pesquisa também realizada na baía da Guanabara, avaliou os consórcios bacterianos na degradação de óleo. Concluiu-se que aplicação de bactérias na superfície do solo, nas áreas onde ocorreu o derramamento de petróleo, não é a opção mais adequada, já que a dispersão destas no solo não é significante.
Já um estudo mais recente, realizado em 2008, utilizou a fitobiorremediação para recuperar manguezal afetado por petróleo, usando três espécies vegetais que vivem nesses ambientes: mangue-vermelho, mangue-branco e mangue-preto. Durante o experimento detectou-se diferentes taxas de crescimento e mortalidade. O mangue-vermelho mostrou maior melhor desenvolvimento para a fitobiorremediação.
Os estudos realizados sobre a associação de consórcios de bactérias e espécies vegetais de manguezais tem indicado que a técnica é promissora. A frequência com que os derramamentos de petróleo atingem ambientes costeiros, apesar das medidas de prevenção adotadas pelas empresas, justifica a busca por métodos simples de limpeza. A utilização das plantas associadas a bactérias e micro-organismos em áreas contaminadas, contribuem para maior eficácia e menor perturbação do ambiente natural.


Andressa Scherer
Esta matéria foi produzida com base em artigo publicado na Revista Ciência Hoje, edição agosto de 2010.

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