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sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Alguns benefícios e a dúvida sobre a sustentabilidade local

Os problemas ambientais, econômicos e sociais referentes à construção de usinas hidrelétricas no Brasil não é algo recente. Vários problemas têm sido associados aos empreendimentos de energia no país, entre eles a perda da biodiversidade animal e vegetal.
A maioria dos empreendimentos energéticos implantados na Amazônia, nos últimos anos, trouxeram benefícios (controle de cheias, irrigação, piscicultura e outros) que não se pode negar, entretanto os efeitos negativos (desestruturação de comunidades tradicionais, aumento na incidência de doenças, etc.) tiveram um impacto muito maior sobre a sociedade.
Em 2008 a energia elétrica brasileira ofertou 80% de geração hidrelétrica, 19,9% de termelétrica, contra somente 0,1% de energia eólica. Estes dados são do Balanço Energético Nacional, do Ministério de Minas e Energia. A geração de energia pelo meio “mais limpo”, ou seja, a geração de energia a partir da biomassa e dos ventos, corresponde a apenas 5,4%, já a energia “mais suja”, a partir de combustíveis como carvão e material nuclear chegam a um total de 94,6%.
Quanto à transmissão e distribuição da energia no Brasil, verifica-se que há uma perda excessiva comparada a outros países: em 2007 os desperdícios atingiram 20,28% do total gerado enquanto na União Europeia a média de perda dos países-membros chegou a 6,5%. Até mesmo em comparação com países latino-americanos o Brasil fica muito acima da média, no Chile as perdas são de 5,6%, na Argentina 9,9%, no Peru 9,9% e na Colômbia 11,5%, segundo dados fornecidos em outubro de 2008 pelo Tribunal de Contas da União.

Novas hidrelétricas a caminho
A construção de duas novas hidrelétricas (Jirau e Santo Antônio) sobre o rio Madeira, em Rondônia, no município de Porto Velho, conseguirão que os empreendimentos injetem grande quantidade de energia, porém, trazem inúmeros transtornos sociais e ambientais. O custo inicial do projeto (incluindo as duas hidrelétricas) estima-se em R$ 18,4 bilhões. Logo no início da construção houve uma grande mortandade de peixes devido às obras no rio. Encontrou-se também um grupo indígena isolado em área próxima à usina de Santo Antônio que em pesquisas anteriores não haviam sido identificados. Outro problema seria a possibilidade de alagamentos na Bolívia, causados pelas barragens.
Quanto à questão econômica, os impactos nas populações das áreas afetadas pelos projetos são amplos. Em Porto Velho, a população economicamente ativa é de aproximadamente 159 mil pessoas, sendo que 31 mil estão desempregadas. Portanto, a implantação das hidrelétricas nessa cidade terá forte impacto no mercado de trabalho devido ao fato de que se estima uma migração expressiva (cerca de 100 mil pessoas) de trabalhadores, o que irá gerar maiores demandas por saúde, educação, transporte, moradia, segurança, etc.
Durante a construção, a mão de obra permanente será de 1,5 mil trabalhadores, e entre o primeiro e o terceiro anos está prevista a contratação de cerca de 15 mil trabalhadores temporários.
O instituto de pesquisa EIA/Rima estima que o pescado na região caia 50% nos cinco primeiros anos.
Em pesquisa feita pela bióloga, Adriana R. C. W. Barcelos, junto à população ribeirinha, verificou-se que: 91% das famílias disseram que não gostariam de deixar seu espaço, 61% reconheceu que não saberá o que fazer se tiverem que se mudar para a cidade e 81% afirmou não concordar com o projeto.
A violação dos direitos de indígenas, ribeirinhos, pescadores, moradores em geral das áreas onde ocorre a implantação de usinas hidrelétricas na Amazônia, como as duas citadas no rio Madeira, deixam várias dúvidas sobre a sustentabilidade socioambiental da região.
Pedro Pavan
Matéria produzida a partir de artigo publicado na revista Ciência Hoje, novembro de 2009.

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