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quarta-feira, 29 de abril de 2009

Gripe Suína foi prevista há seis anos

A reportagem de Mike Davis, publicada noThe Guardian no último dia 27, traz a crítica ao sistema internacional da Organização Mundial da Saúde e dos governos dos países industrializados que negligenciam os efeitos das pandemias, optando pelo isolamento das regiões afetadas ao invés de tratar e prevenir coletivamente os problemas.
Segundo ele, o H5N1, como é definido o vírus suíno, " é uma ameaça de desconhecida magnitude. Parece menos letal que a Síndrome Respiratória Aguda Grave de 2003 (Sars, sigla em inglês), mas, como gripe, pode ser mais durável que a Sars. Dado que as gripes sazonais domesticadas de tipo-A matam cerca de um milhão de pessoas por ano, mesmo um modesto aumento da virulência, especialmente se combinado com alta incidência, poderia produzir uma carnificina equivalente a uma grande guerra".
A informação é complementada pela advertência feita há seis anos pela revista Science que dedicou um artigo principal à evidência de que "depois de seis anos de estabilidade, o vírus da gripe suína norte-americana saltou para uma auto-estrada evolutiva".
A gripe suína (H1N1) foi identificada pela primeira vez durante a Grande Depressão, e de lá para cá, apenas se desviou ligeiramente do seu genoma original. "No entanto, em 1998 uma estirpe altamente patogénica começou a dizimar porcas numa fazenda da Carolina do Norte, e novas e mais virulentas versões começaram a aparecer quase anualmente, incluindo uma variante do H1N1 que continha os genes internos do H3N2 (o outro tipo de gripe tipo-A que circula entre os humanos) ", relata Davis. A preocupação dos virologistas entrevistados pela revista era de que um desses híbridos viessem a tornarem-se uma gripe humana. Eles acreditam que " o sistema agrícola intensivo da China meridional é a principal fábrica de mutação da gripe: tanto os "desvios" sazonais quanto os "desvios" genómicos. Mas a industrialização da criação de gado rompeu o monopólio natural da China sobre a evolução da gripe. A pecuária, em décadas recentes, tem-se transformado em algo que mais se parece à indústria petroquímica do que a feliz fazenda familiar descrita nos livros escolares. Em 1965, por exemplo, havia 53 milhões de porcos em mais de 1 milhão de fazendas; hoje, 65 milhões de porcos estão concentrados em 65 mil instalações. Foi a transição dos antiquados redis de porcos para vastos infernos de excrementos, contendo dezenas de milhares de animais com sistemas imunitários enfraquecidos". A mesma equipe de investigadores advertiu que o uso promíscuo de antibióticos nas suiniculturas estava a incentivar o crescimento de infecções de estafilococos resistentes, ao mesmo tempo, que os derramamentos de esgotos produziam erupções de E coli e de pfiesteria.
Davis aponta ainda a crítica feita pelos virologistas ao poder dos conglomerados de gado como as Smithfield Farms (porco e vaca) e a Tyson (frangos) empenhados não apenas na obstrução sistemática das investigação como ameaças de reter financiamentos aos investigadores.
"Isto não quer dizer que nunca se encontrem provas flagrantes: já há bisbilhotices na imprensa mexicana sobre um epicentro de gripe em torno de uma grande subsidiária da Smithfield no estado de Veracruz. Mas o que mais importa (especialmente dada a contínua ameaça do H5N1) é a maior configuração: a fracassada estratégia pandémica da OMS , o maior declínio da saúde pública mundial, a camisa de forças da indústria farmacêutica sobre os medicamentos essenciais, e a catástrofe planetária da produção de gado industrializada e ecologicamente demente."

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