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quarta-feira, 22 de abril de 2009

A ERA DA MANIPULAÇÃO GENÉTICA E O PAPEL DO JORNALISMO DE CIÊNCIA

Perder um filho, um marido ou alguém muito próximo de forma abrupta não é uma tarefa fácil de lidar. Do mesmo modo, saber agir diante de uma perspectiva difícil como uma doença que pode comprometer de forma definitiva a vida de um indivíduo ou levá-lo à morte, também não é.

Por mais conhecido que seja o ciclo da vida, as pessoas não estão prontas para perderem aqueles que as cercam e muito menos prontos simplesmente para morrer, deixar de existir. Quando o ser humano se vê sob uma dessas perspectivas, logo tenta contornar a situação. E com a evolução científica e tecnológica que vem se instaurando de forma cada vez mais rápida e dando ênfase a esses aspectos, a ciência tornou-se aliada nesse processo.

Hoje é possível - se um indivíduo é diagnosticado com alguma doença que interfira em seu ciclo reprodutivo, ou que vá ser submetido a tratamentos como quimioterapias ou radioterapias-, congelar espermatozóides ou óvulos para uma futura reprodução assistida. Essa técnica também tem sido aliada de casais que planejam primeiro sua carreira profissional e uma possível estabilidade para depois aumentarem a família. A nova tendência social tende a fazer com que as mulheres optem por ter filhos cada vez mais tarde, o que torna o procedimento mais arriscado. Com o congelamento do material genético, é possível alcançar uma gravidez segura mesmo em idade mais avançada, já que o material coletado mantém-se com a idade que tinha quando foi reservado.

Um episódio que vem sendo divulgado é o da menina norte-americana, nascida partir de um sêmen congelado há 22 anos atrás. O pai, submetido a um tratamento de radioterapia quando jovem coletou o material genético antes de se submeter ao tratamento, visando à possibilidade de ter filhos futuramente.

Também tem se tornado cada vez mais comum a utilização de sêmen de homens já falecidos. É o caso do juiz norte-americano que concedeu o direito a uma mãe, de congelar o sêmen do filho morto em uma briga. A mãe alegou que o sonho do filho era ter três filhos e que faria o possível para realizá-lo. A notícia ganhou as páginas dos jornais internacionais.No Brasil, em especial, os meios de comunicação on-line divulgaram notícias praticamente idênticas, e tiveram como fonte a agência brasileira BBC. Portais como UOL, GLOBO.COM, TERRA e FOLHA ON-LINE publicaram os mesmos conteúdos. Sites menores, como a GAZETA DO POVO e o JORNAL PEQUENO, também publicaram essa mesma versão dos fatos.

O que se questiona é até que ponto esse tipo de procedimento e essas novas formulações familiares irão interferir no modelo social futuro. No meio de tantas inovações e mudanças onde e como ficam os meios de comunicação, responsáveis por levar de forma direta ou indireta essas questões às rodas de conversa?

Embora seja uma notícia de âmbito internacional, onde a infra-estrutura impossibilita uma cobertura direta, é possível haver desdobramentos dessa temática, procurando fontes nacionais sobre o assunto, questionando os métodos e a ética envolvida, enfim, analisando aquilo que é noticiado.

Na edição de 14 de fevereiro, o jornal ZERO HORA, publicou uma reportagem sobre essa temática, focando no planejamento da fertilização. Além de citar diversos cases com histórias de pessoas que se utilizaram dessa evolução da ciência médica, a edição também explicou os procedimentos e apresentou tabelas com dados relevantes.

Comunicação e o Jornalismo de Ciência

Outro caso registrado pela mídia foi o de uma mãe que deu a luz a um bebê através de um espermatozóide de seu marido falecido há sete anos. Vítima de uma doença grave, o marido permitiu a coleta e posterior utilização do material. Sete anos após o incidente, sua esposa resolveu utilizá-lo.
Na era da manipulação genética de embriões humanos em que bebês são concebidos para doarem material genético compatível com parentes que sofrem de alguma enfermidade, ou que podem ser gerados depois da morte ou da infertilização de um dos genitores, os meios de comunicação mantém sua função primordial: informar a sociedade sobre fatos, de alguma óptica, abrangentes. Os jornalistas são o elo entre a informação bruta e a sociedade e cabe a eles lapidar e conectar tais conhecimentos, até que estejam adequados para divulgação.

A manipulação genética como técnica é uma ferramenta capaz de mudar os rumos da evolução humana e, como temática, deve ser trabalhada de forma ampla, sendo levada ao conhecimento do público que está distante de questões como ciência e tecnologia, uma vez que se trata de um assunto comum a todos e de extrema relevância.

Todos esses exemplos não deixam de refletir a tendência dos meios de comunicação de se focarem na personificação dos casos, abstendo-se do processo de obtenção de tal êxito e mais do que isso, não parando para refletir e questionar sobre aquilo que é veiculado. Mesmo no caso específico do jornalismo científico, há essa personificação, claramente disposta por dois fatores: melhor ilustrar uma temática que ainda não é muito conhecida pelo grande público, criando um elo de identificação, e o próprio despreparo e falta de conhecimento dos profissionais responsáveis por essa área, que ao desconhecer os processos envolvidos e relacionados a reprodução humana, acabam ficando presos ao modelo de personificação em que um caso específico ganha muito mais destaque do que o contexto que o gerou.

Por Mariana Silveira e Bruno Barichello

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