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sexta-feira, 3 de abril de 2009

EM BUSCA DA PERFEIÇÃO

Um mundo onde seres humanos são geneticamente criados para serem perfeitos, precisamente saudáveis e esteticamente belos é o itinerário perfeito para uma aventura de ficção científica. Há muito tempo que os homens sonham e brincam com essa questão: dominar a própria espécie. Quando Andrew Niccol produziu o roteiro do filme Gattaca (1997) não devia imaginar que pouco mais de uma década depois disso parte de suas idéias se tornariam possíveis de serem executadas. No entanto, a seleção genética de embriões já é uma realidade palpável e concreta e como tal, merece a atenção da comunidade jornalística.
O jornalismo científico voltado para a temática da reprodução humana é focado basicamente nas questões relativas à reprodução assistida. Dentro dessa categoria tem-se abordado de forma significativa a manipulação de embriões através de seleção genética. Essa sub-temática refere-se basicamente a interferências e testes para que embriões selecionados dêem origem a fetos com determinadas características especificas.
É possível, por exemplo, que um bebê nasça sem o gene responsável pela propensão do câncer de mama ou que tenha características específicas que são necessárias para compatibilidade em algum transplante a ser realizado com parentes próximos.
Dois casos têm sido difundidos pela mídia: o do bebê espanhol Javier, concebido especialmente para um transplante de células medulares ao irmão que sofre de uma grave anemia congênita e o de uma recém-nascida britânica gerada de forma a evitar a pré-disposição a determinados tipos de câncer. Esses episódios específicos servem de pano de fundo para a imprensa discutir de forma mais aprofundada a respeito da seleção genética de embriões.
Numa análise de
publicações referentes ao assunto, percebe-se que determinadas notícias priorizam a personificação da temática, na tentativa de criar um elo de identificação entre leitor e informação científica, uma vez que tecnologia e ciência são questões ainda pouco presentes na teia comunicacional da sociedade.
Outras notícias, no entanto, trabalham de forma contrária, tendo como foco o processo propriamente dito e utilizando esses casos palpáveis apenas como ilustração para o tema.
Dentre esses
textos, observa-se o caráter didático de alguns, tentando se aproximar o máximo possível de uma linguagem coloquial e comum a todos, explicando os termos e processos envolvidos.
Manipulação de embriões é o tipo de assunto que merece cuidado extra na hora de ser informado. Trata-se de questões referentes ao processo de seleção e evolução da espécie e trabalha-se de forma direta com pontos que podem vir a definir os rumos da espécie humana. Ou seja, aborda-se um assunto de interesse geral que envolve assuntos delicados e que ainda não foram pensados sob vários aspectos. Nesse contexto, é fundamental que o jornalista ao difundir esse tipo de informações, mantenha uma posição de mediador entre variados pontos de vista e que haja como um indivíduo reflexivo e questionador, perguntando-se a respeito das questões biológicas, éticas e sociais envolvidas.

Foto: Fotosearch
Por Mariana Silveira, Bruno Barichello, Rejane Fiorenza

6 comentários:

Pricila Lameira disse...

Estas questões sobre seleção e evolução da espécie mexem não só com a temática da ciência como até mesmo a religiosa. É claro que é um avanço da ciência os bebes poderem nascer sem os genes responsáveis pelo câncer, e por outras doenças, mas esta não é uma evolução natural. Mas não sou a favor de se conceber uma criança somente para transplantes em parentes, como o caso do bebê Javier.

Itu disse...

Algumas tendências das pesquisas cientificas são realmente questionáveis. O conhecimento em si não e necessariamente algo ruim, mas pode ser extremamente perigoso se não usado com inteligência. A muito tempo já, existe uma duvida... se a ciência chegar num ponto em que seja possível criar seres humanos geneticamente perfeitos, não acontecera uma "divisão de classes", em que os que são melhores geneticamente serão considerados superiores aos "imperfeitos"? Ou então poderíamos culminar numa sociedade semelhante a aquela descrita em "Admirável Mundo Novo", que diga-se de passagem, eu acho assustadora. E por fim, existem outros campos da ciência que mexem com os mecanismos da vida, que estão cutucando em coisas perigosas. Como por exemplo, algumas pesquisas que tem como objetivo estender artificialmente a vida. Um geneticista da Universidade de Cambridge já chegou a afirmar que a primeira pessoa a viver mais de 1000 anos já deve ter nascido... parece um comentário exagerado, mas se for verdade, levanta questões bem quentes... será que essa pessoa teria 1000 anos de vida saudável? Seu cérebro manteria suas faculdades por todo esse tempo? E por fim... as pessoas querem mesmo viver 1000 anos? Ou isso e apenas resultado da maneira trágica com que encaramos a morte?

Itu disse...

Achei o nome do geneticista. É Aubrey de Grey.

HISTÓRIA UNIFRA disse...

No meu entender, o homem não deveria entrar em um campo onde pensa ser Deus, fazendo experiências com seres humanos. Claro que devemos procurar meios para que algumas doenças sejam previamente detectadas, mas não de uma maneira que vai de encontro com a vida, ética e religiões. A imprensa mostra apenas a ponta do um grande iceberg. Com certeza ainda teremos muitas surpresas “genéticas” com o passar do tempo, porque não sabemos realmente o que acontece no interior dos laboratórios.

Gilberto Rezer

Mariana Silveira disse...

A manipulação de embriões é uma questão bastante complicada, que envolve fatores que vão da ética, a saúde. "Fabricar" um feto como se fosse um "produto" moldado ao bel prazer de seu consumidor é realmente questionável. Existem casos em que esse tipo intervenção deve ser feita? Quais são os limites dessas intervenções? Quem irá controlar isso? Se pararmos para refletir, perceberemos que é uma temática bastante ampla e polêmica. Mas será que a sociedade, de um modo geral, tem consciência do que está sendo feito e tem uma opinião formada a esse respeito? Dificilmente... Além de assuntos relacionados a ciência e tecnologia ainda se manterem distantes das rodas de conversa, ao que parece, os meios de comunicação não tem cumprido seu papel. As notícias divulgadas, na maior parte dos casos, informam de algum avanço na área, ou tratam as questões de forma personificada, apontando o exemplo de algum fato real. Com essa dinâmica não há espaço para reflexão, para a dúvida, para o questionamento e consequentemente para a criação de um posicionamento sobre isso. Numa época em que tem se tornado corriqueiro encontrar notícias falando de mães que obtém sêmen de filhos mortos para que eles possam ter filhos de forma induzida no futuro, bebês concebidos exclusivamente para salvar a vida de um irmão doente, ou fetos que nasceram sem pré-diposição a determinadas doenças, parece imprescindível que a sociedade passe a se informar e a opinar sobre tais feitos.

Unknown disse...

Esse tema também envolve questões dúbias. Acredito que o maior problema é o fato de que primeiro se avança, avança e avança em uma determinada pesquisa para que, apenas depois de o assunto chegar a uma encruzilhada de questionamentos, sejam discutidos os poréns de se continuar e criadas leis que regulamentem o futuro desses trabalhos científicos de forma adequada. Da mesma forma, existem profissionais que tem em vista buscar benefícios para a humanidade, enquanto outros ambicionam reforçarem suas situações financeiras, criando um embate ético. Outro problema, os pesquisadores, de maneira geral, parecem possuírem uma certa dificuldade de assimilação ou bloqueio intencional de pensar questões práticas como a discriminação genética e o mal uso de suas descobertas.
E para piorar a situação, inspirado na falta de regulamentação para as descobertas científicas, outros campos, como a religião, decidem opinar sobre o que deve ou não ser feito, confundindo ainda mais qualquer tentativa de se posicionar quanto às pesquisas realizadas.
E deixo a minha opinião, se para salvar um filho da morte, ou de problemas futuros, eu tivesse que recorrer a métodos eticamente corretos, e religiosamente condenáveis, optaria, sem sombra de dúvidas, pela primeira opção. Fé e religião são elementos que se separaram desde a Idade Média.