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quinta-feira, 9 de abril de 2015

O que pensa o homem do campo sobre o manuseio de defensivos agrícolas

Estudos revelam que em todas as regiões do país há resíduos tóxicos em concentrações acima do recomendável, seja nas plantações, no solo, nas águas ou nos peixes.
Foto: Raul de Brito
Na atualidade, agrotóxicos fazem parte de um conjunto de tecnologias usadas nas atividades agropecuárias e que permitiram um significativo aumento na produtividade. Sem tecnologias como essas, o preço dos alimentos seria mais elevado, pois a oferta seria bem menor. Contudo, as consequências para o meio ambiente e para a saúde do produtor e do consumidor evidenciam que esse modo de produção pautado mais na quantidade do que na qualidade é perigoso.
O engenheiro agrônomo e plantador de soja nos municípios de Restinga Seca e São Sepé, Luis Emílio Venturini, acredita que esses produtos, desde que aplicados de forma correta, respeitando as indicações técnicas, não trazem grandes malefícios à saúde do consumidor final.
Para ele, a contaminação do inseticida na cultura de soja, produto que ele e sua família cultivam, ocorre em menor proporção em relação a outras culturas.  “No caso da soja, penso que a contaminação do consumidor final ocorra em níveis muito baixos e não tenha efeitos diretos na manifestação de enfermidades”, fala.

Uso de EPI’s

Os EPI’s, equipamentos de proteção individual, servem para evitar acidentes do trabalho e doenças ocupacionais e devem ser adequados à atividade que o trabalhador desenvolve (BRASIL, 2005). Botas impermeáveis, luvas, respiradores ou máscaras e protetor visual são alguns dos EPI’s que devem ser usados pelo trabalhador do campo para prevenir contra intoxicações e acidentes que podem colocar sua vida em risco, e sua utilização é necessária em todas as etapas de uso dos defensivos agrícolas, desde o início do preparo da calda até a limpeza dos equipamentos de pulverização após a aplicação.
Mesmos com as recomendações, muitos agricultores ainda não se protegem. A não adoção desses equipamentos e a falta de cuidados está relacionada à pouca informação que dispõem.
Foto: Raul de Brito
Raul de Brito é produtor rural em Restinga Seca. Ele e sua família produzem arroz em grande quantidade para comercialização. Mas não usam roupas adequadas e nem os equipamentos recomendados quando vão aplicar os defensivos na lavoura. Esta prática é recorrente de seu avô e ele conta ser o jeito que sabem fazer desde que começaram.
“A nossa prática é esta. Conhecimento que vai passando de geração em geração. Nunca tivemos problemas graves de intoxicação. Se dá alguma coceira ou alergia é normal, porque passamos muito tempo em contato com as plantas”, justifica Raul.
E mesmo os que possuem informação e sabem que o manuseio incorreto prejudica a sua saúde, caem na premissa de que nada acontecerá. Luis Emílio comenta que durante o processo de manipulação dos defensivos procura tomar cuidado, pois tem consciência de que são substâncias bastante prejudiciais a saúde.
Entretanto, conta que já manipulou um produto com as pernas descobertas e teve problemas. “Durante a manipulação acidentalmente deixei cair o produto em uma perna, lavei com água abundante por um longo período e, mesmo assim, tive reação alérgica, sendo que a pele ficou com sensação de formigamento por alguns dias”, lembra.

Água x agrotóxico

Foto: Raul de Brito
Entre as preocupações da contaminação por agrotóxicos, está a preservação da água utilizada para o plantio.
A família de Raul de Brito produz arroz irrigado. Segundo ele, a contaminação é uma preocupação, pois não há como medir a quantidade de defensivo que pode ser passada para a água.
“Pelo fato de o arroz irrigado ser produzido com lâmina d’água, e essa água retornar aos rios, ter voltar para sua nascente, existe, sim, um risco maior de contaminação nessa cultura do que nas outras”, explica.
Conforme Raul, a lavoura de sua família está próxima às margens do Rio Jacuí, o que facilita o escoamento dos defensivos usados na cultura e agrava a situação ambiental. Apesar de possuir licenciamento ambiental para a rizicultura, Raul salienta que não há fiscalização.
Foto: Raul de Brito


 Fiscalização


Grande parte dos produtores desenvolvem a atividade de forma autônoma, a qual não sofre fiscalização por parte de autoridades da área sobre o uso dos EPI’s. Ao contrário do que é previsto para empresas formais, eles não dispõem de informação ou exigência sobre a adoção e nem sofrem penalização pela não uso. “A fiscalização existe, mas é deficitária, atendendo geralmente casos de denúncia”, explica Luis Emílio.

Deborah Alves e Tiago Vieira

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