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quinta-feira, 25 de agosto de 2011

As barreiras enfrentadas pelos superdotados



    Trabalhar com a inclusão dos superdotados no Brasil não é tarefa fácil para os educadores, nem mesmo para os doutores que se especializam em pesquisar quem possui altas habilidades, como é o caso de Susana Pérez Barrera, prestes a se tornar doutora na área.     
    Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), no Brasil existe cerca de oito milhões de superdotados, o que representa 3,5% a 5% da população. No país existem apenas seis doutores formados com foco na superdotação. Nas pesquisas em educação, há registro de apenas um único trabalho sobre superdotados. Segundo Susana, existe um preconceito na sociedade. “A própria legislação valoriza mais a inclusão de alunos com deficiência, poucos reconhecem que o aluno com altas habilidades também precisa de educação especial”, afirma a educadora.
Mas o problema começa desde cedo, quando os pais percebem a diferença no aprendizado do filho. Geralmente, a criança já está na escola e é nesse ponto que há uma fragilidade. O professor não está preparado para lidar com essas situações, explica Susana. “O aluno superdotado não consegue se concentrar nas aulas fica entediado e desinteressado. Em geral, o professor acha que ele está desmotivado”, diz Pérez, que preside o Conselho Brasileiro para Superdotação. Ainda explicando as falhas encontradas em sala de aula, ela diz que o professor não percebe que o desinteresse da criança provém justamente da incapacidade do mestre de propor algo que o estimule.
No Brasil, um dos métodos adotados para trabalhar com os superdotados é o sistema da aceleração curricular, que consiste em adiantar o aluno, “pulando” um ano de seus estudos regulares. A legislação brasileira permite que isso aconteça, porém Susana explica que isso prejudica os alunos. “Ao acelerar o estudante, ele pode sofrer com problemas em sua socialização e na parte emocional”, afirma a educadora. Dessa forma, o aluno acaba perdendo o contato com colegas da mesma idade e o convívio em grupo. Porém, existe outro método mais adequado para trabalhar, que se trata do Método do Enriquecimento. O aluno com altas habilidades freqüenta sua turma regularmente e no horário inverso recebe atendimento individual com um professor especializado. Assim, o superdotado não sofre com a “exclusão” social.
Outro problema encontrado é a identificação das crianças superdotadas. “Os portadores de deficiência vão para rua manifestar, exigir seus direitos, enquanto pessoas com altas habilidades não, devido ao preconceito”, afirma Susana, que ainda faz uma pergunta: “Quem é que chega e diz: sou superdotado, tenho meus direitos?”
Geralmente são os pais que procuram orientação para seus filhos, quando crianças. No Brasil não há escolas especiais para alfabetizar e formar superdotados. Na visão da educadora Susana Pérez, é um ponto positivo. “Nenhuma experiência deu certo, houve rejeição às instituições de ensino que dispuseram dessa técnica, pois as crianças não se adaptaram”, pondera. O aluno não pode ser discriminado porque possui habilidades aquém dos seus colegas. A legislação brasileira obriga que as instituições de ensino prestem atendimento especial aos alunos superdotados.
A educadora, por fim, acredita que a maneira encontrada para mudar essa realidade no país, seja por meio de parcerias. “Um aluno do ensino fundamental não tem acesso a laboratórios que o estimulem a estudar”, diz. Essa ferramenta só está disponível em universidades. É nesse ponto que entra a integração com o ensino universitário. “Uma articulação do ensino básico com as faculdades seria fundamental”, avalia Susana, que acredita que essa é a melhor forma para lidar com a questão dos superdotados no Brasil.

Foto: revista Ciência Hoje

Por Mateus Barreto e Bruna Kozoroski

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