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quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Ciência brasileira deve dar um salto qualitativo e ganhar o interior

Professores  da UNB avaliam reportagem da Science e apontam o Manifesto da Ciência Tropical, de Miguel Nicolelis, como um balizador para os próximos anos
Um copo meio cheio, meio vazio. É assim que o neurocientista e ex-aluno da Universidade de Brasília, Sidarta Ribeiro, define o atual momento da ciência brasileira.
Personagem de uma grande reportagem recentemente publicada na revista Science, na qual é citado o neurocientista Miguel Nicolelis, ele afirma que é preciso dar um salto qualitativo na produção nacional e descentralizar o acesso à ciência. "O momento é propício. Crescemos muitos nos últimos oito anos, mas ainda há muito que melhorar", avalia.
Ribeiro e outros especialistas ouvidos pela UnB Agência apontam o Manifesto da Ciência Tropical como um balizador para esse "salto". O documento de autoria de Nicolelis é uma das referências nas sete páginas dedicadas ao Brasil na reportagem publicada na última sexta-feira, 3 de dezembro. "São 15 pontos que condensam o pensamento de especialistas sobre educação e ciência e tecnologia", afirma o biólogo da UnB Fernando Araripe.
O texto da revista internacional coloca o Brasil como um dos destaques na produção científica da América Latina. Hoje, o país, que conta com um ministério especializado desde 1985, responde por 60% dos gastos com pesquisas no continente e por 50% dos papers publicados.
Professor do Instituto de Biologia desde 1972 e ex-diretor da Sociedade Brasileira para o progresso da Ciência (SBPC), Isaac Roitman afirma que, apesar da produção científica brasileira estar estruturada, é necessário uma inflexão.
"Nosso grande gargalo ainda é o desafio de transformar a ciência em benefícios para a sociedade", observa. Segundo Issac, para isso é preciso descentralizar o acesso à ciência, como sugerido por Nicolélis por meio da criação de 16 Cidades da Ciência.
"Hoje há uma concentração da produção científica nas regiões Sul e Sudeste e nas capitais", diz. "Criar essas cidades em regiões carentes e interioranas é uma forma de expandir o alcance da ciência e a formação de cidadãos críticos", completa Roitman.

Desafios
Sidarta Ribeiro, graduado em Biologia pela UnB em 1993, explica que qualificar a produção nacional e os seus critérios de avaliação é outro desafio para o setor.
"Precisamos adotar as metodologias internacionais de avaliação, pois os critérios usados hoje não nos dão uma dimensão real do alcance da produção científica do país", analisa o professor, que trabalha com Miguel Nicolelis no Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lilly Safra, sediado na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) desde 2003.
O especialista ainda aponta a oferta de uma educação de qualidade, principalmente nas séries iniciais, como outro desafio para a ciência brasileira. "É preciso federalizar a carreira do professor e nivelar os salários por cima", sugere o especialista. "Um docente que entra para dar aulas para crianças não pode ganhar menos que um professor universitário", observa Sidarta que, apesar de não ter vínculos formais com a UnB, faz visitas frequentes à Universidade. "Tenho muitos amigos lá", conta.

Política
A expectativa é de que o Manifesto de Nicolelis - que há 20 anos trabalha nos Estados Unidos, onde é professor e pesquisador na Universidade Duke - oriente as políticas públicas federais e estaduais para a educação e ciência e tecnologia.
"De nada adianta esse esforço para apontar diretrizes se não houver pressão e vontade política para implantar essas mudanças", comenta Fernando Araripe, do Departamento de Biologia Celular da UnB.
Entre as sugestões de Nicolelis encontram-se ainda o aumento dos investimentos de 4% a 5% do PIB em ciência e tecnologia na próxima década e a criação da carreira de pesquisador científico em tempo integral nas universidades federais.
"A reportagem de destaque na Science é um dos indicadores de que a ciência brasileira está avançando", observa Issac Roitman. "É preciso aproveitar esse momento fértil para o diálogo entre governo e especialista na criação de políticas de Estado para o setor", completa Araripe.

 Por UnB Agência

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