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sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Já coroados, os estudos sobre HPV e HIV refletem até hoje

Três pesquisadores europeus dividiram o Nobel de Medicina ou Fisiologia de 2008 por descobertas que associaram dois vírus a doenças de grande impacto para a humanidade. Metade do prêmio foi para o alemão Harald zur Hausen, que mostrou que o papiloma vírus humano, conhecido como HPV é o causador do câncer do colo do útero em mulheres. A outra metade foi para os franceses Luc Montagnier e Françoise Barré-Sinoussi, que descobriram o vírus da imunodeficiência humana HIV, causador da Aids.
O prêmio anunciado coroa a descoberta do agente responsável por um dos mais sérios problemas mundiais de saúde pública das últimas décadas. Segundo a Organização Mundial da Saúde, a Aids, sigla em inglês para síndrome da imunodeficiência adquirida, vitimou mais de 2 milhões de pessoas em 2007.
A descoberta do HIV por Barré-Sinoussi e Montagnier explicou o agente causador de uma doença descoberta no início dos anos 1980, responsável por comprometer o sistema imunológico dos pacientes. O vírus foi identificado em células humanas cultivadas pela dupla, nas quais eles detectaram a atividade de uma enzima, a transcriptase reversa, que acusava a replicação de um retrovírus. Em 1984, eles isolaram vírus obtidos em células de vários indivíduos que sofriam da síndrome.
Graças ao trabalho da dupla, foi possível demonstrar que esse vírus era o agente causador da síndrome e desenvolver testes de diagnóstico a partir de amostras de sangue. Hoje, anos após o isolamento do vírus, o estudo da Aids mobiliza milhares de pesquisadores em todo o mundo. Ainda não há cura ou vacina capaz de prevenir a doença, e o tratamento com os coquetéis de drogas que aumentam a sobrevida dos pacientes ainda precisa ser aprimorado. O coquetel anti-AIDS, atualmente, permite que portadores do vírus possam ter uma vida quase normal. Já foram registrados casos de pacientes que pararam de tomar o coquetel de remédios por até 14 meses sem agravar suas condições. Isso abre perspectivas de uso mais moderado das drogas, que ainda tem muitos efeitos colaterais.
Testes clínicos de uma vacina contra a AIDS estão sendo realizados no Quênia. Há ainda um longo caminho a percorrer: no melhor dos casos, a vacina estaria pronta em oito anos. É muito tempo para um continente como a África, onde o vírus se alastra de forma incontrolável. O governo anunciou a importação de 300 milhões de preservativos, mas encontrou forte resistência de líderes cristãos e muçulmanos, que condenam a contracepção e pedem que se promova mais fortemente a abstinência.

HPV encontrado em tumores malignos

A outra metade do Nobel reconhece os esforços do alemão no estudo que começou em 1974, mostrou que o câncer de colo do útero, o segundo mais comum entre mulheres era causado pelo vírus HPV.
Harald zur Hausen explicou que esse vírus poderia estar por trás dos casos de câncer. Em um estudo a partir de células retiradas de tumores malignos do colo do útero foi possível identificar DNA viral integrado ao genoma das células cancerosas. Após mais de dez anos de pesquisa para comprovar essa hipótese, o alemão acabou demonstrando, no início dos anos 1980, que o vírus levava ao câncer.
A descoberta permitiu entender os mecanismos de surgimento do câncer ligado ao HPV e os fatores que predispõem ao desenvolvimento desses tumores. Com isso, foi possível desenvolver vacinas para combater esse tipo de câncer, que afeta hoje 500 mil mulheres em todo o mundo. Dados de 2009 da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam o câncer de colo de útero como principal causa de morte no Brasil, na faixa etária de 15 a 44 anos, quando comparados a outros tipos de câncer. A vacina chega a custar R$ 1,5 mil na rede privada. São necessárias três doses para garantir a proteção.
No dia 30 de setembro, 1.700 alunas de escolas públicas e privadas de Barretos – SP começaram a ser vacinadas gratuitamente contra o HPV. A iniciativa foi do Hospital de Câncer de Barretos, que idealizou a campanha. Serão vacinadas alunas matriculadas nas 6ª e 7ª séries do ensino fundamental das escolas públicas e particulares do município. Todas vão receber a vacina quadrivalente contra o HPV, a única vacina que protege contra o vírus.

Texto produzido com base na matéria publicada na revista Ciência Hoje de Janeiro de 2008.

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