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quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Fazendo arte: criando vidas

Mesclando poesia, ciência, filosofia e tecnologia, o artista plástico “transgênico”, Eduardo Kac, propõe que na arte não se cria apenas objetos, mas também sujeitos. O brasileiro, radicado há 20 anos em Chicago, nos Estados Unidos trabalha com bioarte desde o início dos anos 90. Este ano celebra 30 anos de carreira: uma mistura de arte e ciência.
Um trabalho, no mínimo, curioso. Um exemplo claro disso, é uma de suas mais recentes criações, denominada Edunia. O artista diz que a Edunia (o nome vem da junção de Eduardo e Petúnia) é um “plantimal”, uma flor criada por ele mesmo.
Durante cinco anos, Kac tentou criar esta flor, mas só em 2008 conseguiu concluir o processo. Depois, a planta ficou cerca de um ano conservada em uma estufa. “A Edunia expressa meu DNA em seus veios vermelhos. Em cada célula desses veios um gene meu está expresso, ou seja, meu gene produz uma proteína apenas na rede venosa da flor. O gene foi isolado e sequenciado do meu sangue. O fundo é feito com pétalas da flor. O resultado dessa manipulação molecular é uma planta que cria a imagem viva do sangue humano correndo nos veios de uma flor. É um híbrido de mim e de uma petúnia”, explica o artista plástico. A criação, intitulada História Natural do Enigma, ganhou em 2009 o prêmio do museu Ars Electronica, da Áustria, que contempla a arte com novos meios.
Cada obra de arte aborda questões subjetivas, que causam diferentes efeitos em cada pessoa. Mas todas implica
m na criação de novas vidas, ou seja, vidas que a natureza não produziu. De acordo com Kac, os cientistas não vêem o seu trabalho como uma crítica a ciência. “Uma obra de arte não se dirige exclusivamente a um grupo. Seu campo é a cultura. A obra de arte se dirige a todos. E, como é de se esperar, cada pessoa reage de forma diferente.”
Entre outras obras, ele destaca a GFP Bunny - Alba, que é uma coelha fluorescente. O animal foi produzido no laboratório de engenharia genética do Instituto Nacional de Pesquisas Agronômicas, em Jouy-em-Josas, na França. A coelha brilhava por ter proteína verde fluorescente de uma água-viva do oceano Pacífico (Aequorea victoria).
Kac desenvolve suas obras transgênicas em laboratórios, pois são os únicos lugares em que seu material está disponível.
Quando se fala em limites éticos, Kac afirma que a criação da vida precisa ser feita com muito cuidado, com reconhecimento de questões complexas: “a simples obra de arte é inanimada, inerte, fundamentalmente voltada para a criação de objetos. A criação de vida precisa ser feita com compromisso de respeitar, nutrir e amar a vida criada.”
Para Eduardo Kac, sempre haverá um abismo entre arte e ciência, pois a ciência sempre irá contribuir para o mundo físico. A arte, além de ser subjetiva contribui com a linguagem plástica: “Boa ciência é ciência repetível. Se outra pessoa não pode repetir o que você fez e seus resultados, você não produziu “verdade”. Já o artista é um hacker, um criador de mundos, um piloto do foguete chamado liberdade. A arte é singularidade. Se outra pessoa repetir o que você fez e seus resultados, esta pessoa pode estar praticando plágios.”

Gabriela Perufo
Matéria produzida a partir da entrevista de Eduardo Kac concedida à revista Ciência Hoje.

Um comentário:

Dorotéia Sant'Anna disse...

Tem algo de assustador nisto!!!!