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quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Dia D, de Dráuzio, das plantas medicinais no Fantástico

É assim que talvez a Globo, usando da credibilidade do Dr. Dráuzio Varella - nessas alturas já devemos procurar saber um pouco mais sobre esse atencioso médico global -, inicia uma cartada pesada contra o uso tradicional de plantas medicinais. Sim, porque esse é o ponto crítico: o uso tradicional/popular de resistência contra o uso irracional de medicamentos, contra a empurroterapia, contra o abuso econômico, contra a desumanização da farmacoterapia. Antagonismo claro aos valores da poderosa Globo.
O programa já iniciou sentenciando plantas "ditas" medicinais, colocando abaixo toda a construção de conceitos, de legislação e de acumulação de conhecimento que existe sobre as plantas medicinais.
Apresentou inserções de feirantes, populares de forma a serem ridicularizados, assim como pequenos depoimentos de cientistas como prof. João Calixto, muito breves, que não deram a chance de uma maior contextualização e de análise.
Também apresenta um representante da OMS em contradição com sua própria organização, pois a OMS recomenda sim, o uso das práticas tradicionais e reconhece seus benefícios para as pessoas e para os sistemas de saúde dos países.
Equivocadamente tenta associar, a reportagem, o uso de plantas medicinais com a pobreza e a ignorância, ignorando a adesão crescente nos países ricos. Busca explicação para seus benefícios, não à curas mas à minimização de sinais e sintomas e a efeito placebo. Nesse momento, com voz macia, Dr. Dráuzio atira a pérola "uma coisa é tomar chá pra relaxar e dormir e outra é tomar chá pra tratar doença, pois isso pode ser perigoso!" E remetem a matéria a situações que demonstram ineficácia e riscos que serão apresentados na sequência. E ainda menospreza a tradicionalidade com outras pérolas, a de que "não há evidências" e de que "não foi testado", o que caracterizou como "arremedo de tratamento".
Ora, serão quatro Fantásticos denegrindo as políticas nacionais que dão base para a afirmação da fitoterapia no SUS, em horário e período eleitoralmente nobre, quando no que se refere ao tema, o candidato apologista dos genéricos e financiado pela indústria farmacêtuica multinacional, amarga índices que nenhum remédio poderá fazer melhorar. É bom eles tomarem um chá de camomila...
E se a questão eleitoral não for pano de fundo para essas reportagens, o que fazer então com as inúmeras edições de "Globo Repórter" que evidenciaram as maravilhas das plantas medicinais na promoção da saúde? Agora talvez não dêem Ibope...

 

* Silvia Czermainski é farmacêutica e bioquímica, presidente da Comissão Assessora de Fitoterápicos do Conselho Regional de Farmácia do Rio Grande do Sul.

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