Pesquisar este blog

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Tempestade global

São Paulo, 29 de setembro de 2008, 14h49min. A Bovespa se vê obrigada a acionar o circuit breaker: os negócios estão temporariamente interrompidos, pois a queda no mercado superou os 10%. O pior tombo da Bolsa de Valores de São Paulo nos últimos nove anos é o primeiro reflexo da turbulência global no Brasil. Setembro de 2008 ficará marcado pelo início de uma crise sem precedentes na história da economia moderna, que altera o rumo do capitalismo.
Tudo começou nos Estados Unidos. E não é tão complexo de entender: os bancos que concediam financiamentos habitacionais sofreram calote de muitos clientes. Como os títulos dessas dívidas eram negociados entre bancos, o efeito se espalhou. Só no dia 14 de setembro, 10 destes anunciaram socorro financeiro ao governo para tentar enfrentar a crise. No dia 29, porém, a Câmara dos Deputados norte-americana rejeita o plano de resgate financeiro. Como conseqüência, a Bolsa de Nova York cai 6,98%, a maior em pontos de sua história.
O fracasso refletiu em uma forte tensão no mercado financeiro do mundo todo, comparada somente à crise de 29. As bolsas de valores despencam, bancos anunciam falência e o dólar dispara em relação ao real. Para a população, fica o medo em investir, a sombra do aumento do desemprego, a alta dos juros e a dificuldade em fazer novos financiamentos.
Mas, afinal, que precedentes a crise trará ao cotidiano dos brasileiros? Nessa nova ordem da economia, como serão as relações que envolvem dinheiro e confiança, liberdade e regulamentos, iniciativa privada e Estado? Quais os cuidados que teremos de ter na hora de comprar, viajar, consumir?
A maioria destas perguntas continuará sem resposta definitiva e concreta por um bom tempo. Mas a partir da análise de mercado podemos chegar a algumas observações importantes. Mudanças radicais indicam que os mecanismos que impulsionaram a economia global nas últimas duas décadas serão aposentados. Após a crise, o mundo deverá se movimentar de forma mais lenta, de acordo com novas e severas regras. Que regras serão essas? Só o tempo poderá afirmar.

E o Brasil?
" O reflexo da crise financeira americana no Brasil será quase imperceptível." A frase é do presidente Lula, que mais uma vez manifesta otimismo diante de uma situação mais do que delicada. A crise pega o país no auge, quando o crescimento e o desenvolvimento são bem satisfatórios. Por outro lado, o país criou uma defesa consistente que deverá tornar menos devastadores os efeitos da tormenta. Ou seja, o Brasil não está entre os vulneráveis, e sim com um mercado interno vigoroso e agora pertencente ao grupo dos emergentes.
"Diferente das empresas americanas, onde o crédito era disponibilizado sem alienações e análises dos credores, no Brasil as instituições financeiras oferecem financiamentos com maior cuidado, com base em critérios seguros e garantias que asseguram, pelo menos temporariamente, a normalidade das operações financeiras domésticas", afirma Rosmeri Antunes, gerente de uma agência do Itaú em Santa Maria.
Porém, a crise afeta não somente o setor da economia. O aumento de 20% previsto para o exercício de 2009 na Cultura não vai se concretizar. A perspectiva é que o valor continue estacionado nos R$ 800 milhões.

E o brasileiro?
A maioria dos brasileiros passa longe da bolsa de valores. Porém, não significa que a população não será diretamente afetada pela crise econômica. Podemos notar pelo menos duas alterações importantes nas condições oferecidas para a compra de bens como carros e eletrodomésticos: na média do mercado, os juros já estão mais altos e os prazos encolheram.
Na compra de uma geladeira, por exemplo, o preço deve continuar o mesmo – exceto se o dólar continuar se valorizando frente ao real. Porém, se a compra for a prazo, a prestação vai ficar mais cara, com um prazo mais curto e o juro mais caro. Se a compra for à vista, não haverá diferença. Ou seja, o poder de compra do brasileiro tende a diminuir.
Rosmeri alerta para que os consumidores evitem financiamentos longos, contratos prevendo juros variáveis e compras em moedas estrangeiras. Em aplicações, os fundos de renda fixa, como os Certificados de Depósito Bancário(CDB), são os mais seguros e recomendados.
Embora o país esteja de certa forma protegido das conseqüências imediatas da crise, o desemprego que já afeta 3 mil trabalhadores por dia na Espanha e que atingiu 140 mil no Reino Unido e 40 mil trabalhadores na França só em agosto, deve chegar aos brasileiros nos próximos meses. Indústrias multinacionais como as montadoras Opel e BMW paralisaram toda sua produção na Europa, medida que tende a espalhar-se pelo mundo. Segundo a OIT (Organização Internacional do Trabalho), serão gerados 20 milhões de novos desempregados até o final de 2009, chegando a 210 milhões. Será a primeira vez que a humanidade atingirá essa marca.
" A crise é nos EUA, o Brasil vive um bom momento na economia, mas infelizmente já podemos sentir algumas conseqüências da turbulência aqui na região. Os negócios da minha empresa já estão sendo afetados, pois dois dos principais fornecedores, que buscam os produtos no exterior, elevaram os preços de venda. Outro importante fornecedor foi além: temeu pelo futuro incerto e decidiu interromper por tempo indeterminado todas as negociações da empresa. O dólar subiu e se tornou um fator preocupante. E isso tudo, como sempre, vai acabar estourando no bolso do consumidor final "– explica José Luiz de Oliveira, microempresário.

Por Diogo Viedo e Fabio de Oliveira

Nenhum comentário: