O processo de aprendizagem tanto do indivíduo que realiza uma pesquisa quanto da sociedade na qual esta se desenvolve é grandioso. A partir desse pensamento, o físico e historiador da ciência na Universidade de Milão, Leonardo Gariboldi, buscou e estudou dados que resultaram na biografia do físico Giuseppe Occhialini. E qual o motivo dessa iniciativa? O próprio Gariboldi explica: “Occhialini é desconhecido para as pessoas comuns e é mal conhecido pelas jovens gerações de físicos”.
Beppo,como era popularmente chamado, ou Giuseppe Occhialini, nasceu em 1907, na Itália, mas como ele mesmo afirma em um escrito que Gariboldi cita: “Ele se sentia brasileiro, porque, quando veio pela primeira vez ao Brasil e toda vez que voltava ao país, era sempre considerado pelo povo brasileiro como um deles”.
Iniciou os seus estudos na escola de ensino médio Liceu Científico, na Itália. Logo, optou por seguir os passos de seu pai, o também físico Raffaele Augusto Occhialini. Nas suas pesquisas, Gariboldi constata: “Seu pai teve grande importância em sua vida científica. Além disso, sempre acompanhou a carreia do filho, preocupado com os procedimentos burocráticos”.
Occhialini chegou ao Brasil em 1937, e, Gariboldi afirma que ele deixou a Itália devido suas posições antifascistas. A escolha do Brasil como destino deu-se pelo fato de aceitar o convite para se juntar ao físico ítalo-russo Gleb Wataghin em São Paulo. O pesquisador da biografia de Beppo também relata que o país “foi um local muito bom para certo tipo de pesquisa em raios cósmicos (partículas extremamente energéticas de origem espacial)”.
Ao final da Segunda Guerra Beppo voltou para Itália (época do falecimento de seu pai) e sucedeu o pai na Cátedra de Gênova. Em 1952, Occhialini voltou ao Brasil como líder de uma missão da Unesco para organizar o laboratório de raios cósmicos em Chacaltaya, na Bolívia.
No final de sua carreira, Occhialini dedicou-se às pesquisas espaciais. Depois que o Sputnik (primeira série de satélites artificiais Soviéticos) foi lançado em 1957, ele passou um ano de descanso no MIT - Instituto de Tecnologia de Massachusstts. De volta a Milão, seu grupo dividiu-se, uns continuaram a trabalhar com partículas elementares no Cern - Centro Europeu de Pesquisas Nucleares, enquanto ele e outros se fixaram na área da física espacial.
Gariboldi define a figura de Beppo como um físico mais completo “que buscava uma representação visual da natureza na qual experimento e teoria eram intercalados de modo harmonioso”. Por três vezes (1936, 1948 e 1950) Occhialini não ganhou o Prêmio Nobel e as explicações mostram, segundo Gariboldi, “uma falta de conhecimento dos processos dos comitês do Nobel da Academia Sueca de Ciências”. Fica no ar se ele realmente deveria ter merecido a gratificação, mas, em contrapartida, permanece a certeza de um físico que muito contribuiu para o crescimento dos estudos físicos no Brasil e em outros países.
Por Emanuelle Tronco Bueno
(Fonte: Revista Ciência Hoje)
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