Estudos revelam que em todas as regiões do país há resíduos tóxicos em concentrações acima do recomendável, seja nas plantações, no solo, nas águas ou nos peixes.
Foto: Raul de Brito |
O engenheiro agrônomo e plantador de soja nos municípios de Restinga Seca e São Sepé, Luis Emílio Venturini, acredita que esses produtos, desde que aplicados de forma correta, respeitando as indicações técnicas, não trazem grandes malefícios à saúde do consumidor final.
Para ele, a contaminação do inseticida na cultura de soja, produto que ele e sua família cultivam, ocorre em menor proporção em relação a outras culturas. “No caso da soja, penso que a contaminação do consumidor final ocorra em níveis muito baixos e não tenha efeitos diretos na manifestação de enfermidades”, fala.
Uso de EPI’s
Os EPI’s, equipamentos de proteção individual, servem para evitar acidentes do trabalho e doenças ocupacionais e devem ser adequados à atividade que o trabalhador desenvolve (BRASIL, 2005). Botas impermeáveis, luvas, respiradores ou máscaras e protetor visual são alguns dos EPI’s que devem ser usados pelo trabalhador do campo para prevenir contra intoxicações e acidentes que podem colocar sua vida em risco, e sua utilização é necessária em todas as etapas de uso dos defensivos agrícolas, desde o início do preparo da calda até a limpeza dos equipamentos de pulverização após a aplicação.
Mesmos
com as recomendações, muitos agricultores ainda não se protegem. A não adoção
desses equipamentos e a falta de cuidados está relacionada à pouca informação
que dispõem.
Foto: Raul de Brito |
“A
nossa prática é esta. Conhecimento que vai passando de geração em geração.
Nunca tivemos problemas graves de intoxicação. Se dá alguma coceira ou alergia
é normal, porque passamos muito tempo em contato com as plantas”, justifica
Raul.
E
mesmo os que possuem informação e sabem que o manuseio incorreto prejudica a
sua saúde, caem na premissa de que nada acontecerá. Luis Emílio comenta
que durante o processo de manipulação dos defensivos procura tomar cuidado,
pois tem consciência de que são substâncias bastante prejudiciais a saúde.
Entretanto,
conta que já manipulou um produto com as pernas descobertas e teve
problemas. “Durante a manipulação acidentalmente deixei cair o produto em uma
perna, lavei com água abundante por um longo período e, mesmo assim, tive reação
alérgica, sendo que a pele ficou com sensação de formigamento por alguns dias”,
lembra.
Água x agrotóxico
Foto: Raul de Brito |
A
família de Raul de Brito produz arroz irrigado. Segundo ele, a contaminação é
uma preocupação, pois não há como medir a quantidade de defensivo que pode ser
passada para a água.
“Pelo
fato de o arroz irrigado ser produzido com lâmina d’água, e essa água retornar
aos rios, ter voltar para sua nascente, existe, sim, um risco maior de contaminação
nessa cultura do que nas outras”, explica.
Conforme
Raul, a lavoura de sua família está próxima às margens do Rio Jacuí, o que facilita
o escoamento dos defensivos usados na cultura e agrava a situação ambiental.
Apesar de possuir licenciamento ambiental para a rizicultura, Raul salienta que
não há fiscalização.
Foto: Raul de Brito |
Fiscalização
Grande parte dos produtores desenvolvem a atividade de forma autônoma, a qual não sofre fiscalização por parte de autoridades da área sobre o uso dos EPI’s. Ao contrário do que é previsto para empresas formais, eles não dispõem de informação ou exigência sobre a adoção e nem sofrem penalização pela não uso. “A fiscalização existe, mas é deficitária, atendendo geralmente casos de denúncia”, explica Luis Emílio.
Deborah Alves e Tiago Vieira
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