Muito
pouco se ouve falar em processos de hemoterapia, que nada mais é do que o
emprego terapêutico do sangue. Em torno dele muitos mitos são criados,
diminuindo assim o número de doadores.
Antigamente,
a transfusão sanguínea era feita sempre através do sangue integral. Novas
pesquisas foram feitas e o processo se tornou mais eficaz. O receptor não
precisaria receber todos os hemocomponentes de um sangue, ou seja, os glóbulos vermelhos, glóbulos
brancos, plasma e plaquetas, mas sim apenas aquele componente que o paciente
necessita.
O
médico hematologista e oncologista, Dalnei Pereira, professor adjunto de
hematologia e oncologia da UFSM afirma que com a evolução da medicina a
complexidade da transfusão se tornou maior. “Não só no sentindo de fazer a
transfusão daquele componente que o individuo necessita, mas também potencializar
a quantidade do hemocomponente do que aquelas relacionadas à transfusão de um
sangue total, contendo todos esses elementos”.
Dalnei Pereira, médico oncologista. |
Menos
riscos na coleta e transfusão
Santa
Maria, sempre foi pioneira nos processos de hemoterapia. Em 1975 o Hospital de
Caridade Astrogildo de Azevedo, HCAA, já contava com a Hematerese - nome dado à
máquina que faz o processo de transfusão de sangue, permitindo separar as plaquetas
do plasma, e do sangue. Nesse processo, as plaquetas são separadas e o sangue
retorna ao paciente. Esse processo tem o nome de “doação por Aférese”, e exige
critérios para que seja feita a doação. O candidato à doação tem que ter um número
de plaquetas suficientes para fazer a filtragem pela máquina. A coleta é feita
através de duas punções venosas, sendo uma em cada braço, com o tempo de
duração de 1h aproximadamente. Todo esse processo só veio a favorecer, pois na
doação de sangue habitual um doador só consegue doar uma unidade de plaquetas,
já na Aférese pode chegar até oito unidades. Segundo a Coordenadora do
Hemocentro Regional de Santa Maria, Carla Coelho, a doação por Aférese é bem
melhor para os pacientes. “Esse tipo de coleta é interessante já que um doador
pode nos render oito unidades, sendo benéfico para o receptor. É que ele estará
recebendo uma menor quantidade de antígenos, anticorpos de pessoas estranhas
enquanto você faz um pool de plaquetas de oito pessoas diferentes, com a
aférese dá a possibilidade de uma pessoa só, expondo menos o paciente a
riscos.”
Santa
Maria atualmente conta com uma unidade móvel de coleta de sangue, um ônibus com
todos os equipamentos necessários. Facilitando o acesso para as pessoas que não
tem como se deslocar até o Hemocentro. Para maiores informações pelo
telefone (55) 3221-5262.
Transplante
de medula óssea
Outro
tipo de intervenção delicada é o transplante de medula óssea, que se faz
necessário, quando o paciente utiliza altas doses de quimioterapia. Medicação
essa que atinge não só as células tumorais, mas também as células normais. As
mais sensíveis à quimioterapia são exatamente
as células epiteliais e as do sangue.
Existem dois tipos de transplante de medula
óssea. O que pode utilizar a própria
célula tronco do individuo que é coletada antes de realizar a quimioterapia e
armazenada em temperatura extremamente baixa de -190°C. No Hospital
Universitário de Santa Maria é possível realizar esse procedimento.
O
segundo é através de um doador, podendo ser parente ou até ser cadastrado no Registro Nacional de Doadores de Medula
Óssea (REDOME).
Para poder ser um possível doador é necessário ter o sistema antigênico celular
igual ou aproximado do paciente. “Na
maioria das vezes ele será igual, mas se tiver aproximação ele também serve
como doador. Nós temos alguns transplantes nos quais o doador não era completo.
E foram feitos com sucesso. Testamos 10 antígenos para ser igual. Se o indivíduo
tiver 9 , ele pode ser um bom doador e, às vezes, até com 7 antígeno fazemos o
transplante”, destaca Pereira.
A
coordenadora Carla Coelho destaca que muitas pessoas tem medo em doar por ser um processo cirúrgico, ou pelo risco
de ocorrer um erro. “A pergunta mais comum é sobre o risco de ficarem
inválidos. Então esclarecemos o que é uma medula óssea. A medula espinhal não é
medula óssea, medula espinhal sim é coluna, medula óssea é o tutano do osso. Como
ela vai ser retirada? Você vai para o bloco cirúrgico onde vai ter um
acompanhamento multidisciplinar, com médicos de várias especialidades.
Normalmente a retirada da medula óssea é feita do osso ilíaco, osso da bacia,
feito punções e retirado no máximo 10%”, diz ela, ressaltando ainda, que não
existe dano ao doador já que o local não tem vértebra.
Por Aline Schefelbanis e Jéssica Padilha
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