A psicanalista e professora de psicologia na Université Paris VII e profissional do Centro de Psicologia e Psiquiatria da Criança e do Adolescente, do Hospital Sainte Anne, na França, Tatiana Pellion relata em artigo científico, um estudo de caso sobre psicose infantil. Trata-se de uma criança de seis anos que foi encaminhada ao centro por apresentar algumas dificuldades na escola. O garoto também tinha problemas de relacionamento. Augusto, seu nome, era só, não tinha amigos. “Só no seu mundo”, descreve a professora. Sua linguagem era pouco compreendida e por esta razão, o garoto integrava um “grupo de linguagem” organizado por dois fonoaudiólogos do hospital.
Augusto também já havia realizado três sessões de psicoterapia com outra psicóloga para um diagnóstico psicológico, cuja conclusão pareceu alarmante: “imaginário volumoso”, “prevalência de mecanismos fóbicos”, “descontrole emocional e fantasmático”.
Augusto ouvia falas de “outros” que não se esgotavam nunca, um super-eu insistente, que era até mesmo malfeitor. Ele contava seguidamente uma história onde o “lobo teria que comer a bruxa”.
A mãe do menino refere-se, em primeiro plano, a uma possível separação entre ela e o pai de Augusto, além do seu consumo excessivo de álcool como fatos que tiveram importância na vida do filho.
O pai era construtor, trabalhava frequentemente no interior e podia se ausentar por longas temporadas (quatro a cinco meses), estando raras vezes em casa nos finais de semana. A mãe era zeladora, de origem portuguesa, logo, Augusto e ela moravam juntos no quartinho destinado a serviços de manutenção e limpeza do prédio. O garoto dormia quase sempre com a mãe, na ausência do pai, e o casal atravessava uma grande crise.
A psicóloga percebendo certo apelo a figura do pai, pediu que o mesmo comparecesse a algumas sessões com o filho.
Em uma dessas sessões o pai conta sobre um fato que havia acontecido pouco antes: “Eu quase morri!” (a moto dele havia se chocado contra um caminhão). Esse fato angustiou e desorganizou a mente do garoto, porém o acidente real do pai introduziu psiquicamente em Augusto questões que ele tentava reproduzir e simbolizar em um mapa desenhado por ele. Sessão após sessão ele desenhava o mapa que reproduzia uma segurança, evitando perigos e voltando-se para outro lugar. Os habitantes desse outro lugar, “os chineses”, eram invisíveis, como o pai simbólico (ausente).
Segundo Tatiana, “a vinda do pai real às sessões parece ter também provocado a construção da instância da função paterna. A castração do pai no real permitiu a construção de algo simbólico para Augusto, retirando-o de sua alienação e prisão ao discurso materno totalitário.”
O mapa que Augusto desenhou, com todos os cruzamentos e seus obstáculos, representava, também, o caminho que ele fazia de casa à instituição (“hospital”), ou mesmo o trajeto dos numerosos encontros feitos aqui, como “lugar onde se pode fundar, criar, construir a lacuna da função paterna”, finaliza a autora.
O artigo denominado “o chinês, o lobo e a britadeira”, escrito pela professora e psicanalista Tatiana Pellion, foi publicado na revista de psicanálise, Àgora.
Augusto também já havia realizado três sessões de psicoterapia com outra psicóloga para um diagnóstico psicológico, cuja conclusão pareceu alarmante: “imaginário volumoso”, “prevalência de mecanismos fóbicos”, “descontrole emocional e fantasmático”.
Augusto ouvia falas de “outros” que não se esgotavam nunca, um super-eu insistente, que era até mesmo malfeitor. Ele contava seguidamente uma história onde o “lobo teria que comer a bruxa”.
A mãe do menino refere-se, em primeiro plano, a uma possível separação entre ela e o pai de Augusto, além do seu consumo excessivo de álcool como fatos que tiveram importância na vida do filho.
O pai era construtor, trabalhava frequentemente no interior e podia se ausentar por longas temporadas (quatro a cinco meses), estando raras vezes em casa nos finais de semana. A mãe era zeladora, de origem portuguesa, logo, Augusto e ela moravam juntos no quartinho destinado a serviços de manutenção e limpeza do prédio. O garoto dormia quase sempre com a mãe, na ausência do pai, e o casal atravessava uma grande crise.
A psicóloga percebendo certo apelo a figura do pai, pediu que o mesmo comparecesse a algumas sessões com o filho.
Em uma dessas sessões o pai conta sobre um fato que havia acontecido pouco antes: “Eu quase morri!” (a moto dele havia se chocado contra um caminhão). Esse fato angustiou e desorganizou a mente do garoto, porém o acidente real do pai introduziu psiquicamente em Augusto questões que ele tentava reproduzir e simbolizar em um mapa desenhado por ele. Sessão após sessão ele desenhava o mapa que reproduzia uma segurança, evitando perigos e voltando-se para outro lugar. Os habitantes desse outro lugar, “os chineses”, eram invisíveis, como o pai simbólico (ausente).
Segundo Tatiana, “a vinda do pai real às sessões parece ter também provocado a construção da instância da função paterna. A castração do pai no real permitiu a construção de algo simbólico para Augusto, retirando-o de sua alienação e prisão ao discurso materno totalitário.”
O mapa que Augusto desenhou, com todos os cruzamentos e seus obstáculos, representava, também, o caminho que ele fazia de casa à instituição (“hospital”), ou mesmo o trajeto dos numerosos encontros feitos aqui, como “lugar onde se pode fundar, criar, construir a lacuna da função paterna”, finaliza a autora.
O artigo denominado “o chinês, o lobo e a britadeira”, escrito pela professora e psicanalista Tatiana Pellion, foi publicado na revista de psicanálise, Àgora.
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