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quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Uma análise do programa "Nas fronteiras da ciência"


Já em seu cartaz, o programa sugere
descontração, como em uma roda de chimarrão.
O programa Fronteiras da Ciência é uma iniciativa de três professores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, cujo objetivo é a disseminação da ciência. Utilizando o formato de rádio, as discussões são coordenadas Jeferson Arenzon e Marco Aurélio Pires Idiart, do Departamento de Física, e Jorge Qullfeldt, do Departamento de Biofísica. A proposta é, através de uma atmosfera descontraída - "como numa roda de mate", destacam em seu site - os cientistas conversam sobre assuntos do momento, preenchendo as lacunas deixadas pelo ensino formal e a desinformação da mídia. 
A duração do Fronteiras da Ciência é de aproximadamente 30 minutos. A periodicidade do Fronteiras da ciência é semanal, sendo veiculado pela Rádio da Universidade AM (1080KHz) às 13 horas e 30 minutos de segunda-feira. Os programas também podem ser ouvidos diretamente no site (http://ufrgs.br/frontdaciencia) e estão disponíveis para download. Além destas formas, o programa é transmitido pelas rádios Cultura FM (102.9), da cidade de Amparo - SP, e Morabeza (90.7), de Cabo Verde - MG. 
O Fronteiras da Ciência está no ar desde 2010. Atualmente em sua quinta temporada, existem 188 programas disponíveis no site. A cada edição, o mediador propõe um tema, que é discutido com seus convidados, especialistas na área proposta. Em uma observação ao arquivo, não se percebe qualquer preferência temática, assim como não parecem haver assuntos tabu. Para o presente trabalho, foram analisados os programas 187, 188 e 189, disponibilizados nos dias 27 de outubro, 3 e 10 de novembro, respectivamente. 
No programa número 187, "A Bioquímica como ela é", o apresentador entrevista os responsáveis pela revista de divulgação científica A Bioquímica como ela é. A conversa inicia com a observação de que, a área da Bioquímica sofre um estigma de ser um campo difícil. Entretanto, uma das entrevistadas logo salienta que tudo na vida é permeado por reações bioquímicas. Rapidamente, a conversa entre locutor e convidados passa a ser sobre divulgação científica, objetivo tanto do programa de rádio, quanto da revista citada. Uma das questões destacadas é que os cientistas são, de certa forma, treinados para falarem aos seus pares, e não para leigos. Entretanto, foi explicado que a ciência necessita da divulgação para que ela própria tenha continuidade, além de melhorar a vida das pessoas, com uma melhor compreensão do mundo. 

Os programas estão disponíveis em site próprio e podem ser ouvidos online ou baixados.
A edição número 188, "Dinossauros com penas!", trata das descobertas paleontológicas que modificaram a compreensão de como seria a aparência dos répteis pré-históricos. Neste programa, os convidados explicam que descobertas feitas desde o fim da década de 1990 mostram que, antes de sua extinção, muitos dinossauros haviam desenvolvido penas cujas funções iam desde a regulação térmica até a camuflagem. Os cientistas explicaram que, apesar de faltar um "elo" entre dinossauros e aves, é clara a indicação de que eles pertencem a uma mesma linhagem evolutiva. Com este gancho, a discussão ainda segue pelo caminho da defesa do evolucionismo, antes do final do programa. 
A edição 189, "Eyenetra - de olho no celular", faz parte de uma série feita com pesquisadores brasileiros em Boston, nos Estados Unidos. Neste programa, o locutor conversa com um pesquisador que desenvolveu um aparelho, chamado Eyenetra, cuja função é medir problemas de visão. O diferencial da invenção é ser usada como um acessório para celular e ter um custo baixo, apesar de estar em fase experimental. Além de diversas explicações sobre os problemas detectados pelo aparelho, é discutida o trabalho do profissional de medicina na leitura dos dados obtidos em exames, explicando que nenhuma máquina substitui o diagnóstico humano. 
Paciente usando o equipamento Eyenetra em Hyderabad, India.
(Foto: divulgação)
O primeiro aspecto que se percebe, ao analisar o programa Fronteiras da Ciência, é sua baixa qualidade técnica. Como o programa não possui uma trilha sonora de fundo, os cortes, feitos pela edição, são muito perceptíveis. Contudo, a linguagem coloquial, que cria uma atmosfera de conversa entre amigos, "convida" o ouvinte a esquecer os problemas técnicos e prestar atenção no que é dito. Pode-se afirmar com relativa certeza que o programa não trabalha com um roteiro rígido, uma vez que o assunto flui na direção em que a conversa entre locutor e entrevistados se desenrola. Um problema, decorrente desta fluidez, é que alguns conceitos citados acabam por ficarem mal explicados, ou mesmo sem explicação. Entretanto, isso não aconteceu com frequência nos três programas analisados. 

Quanto ao conteúdo, pode-se afirmar que a proposta do Fronteiras da Ciência é atingida com sucesso. Através da simplicidade da forma como se falam dos temas, a compreensão torna-se bastante facilitada e instigante. Além do tema proposto, os programas explicitam uma série de conceitos adjacentes, além de sempre manterem o vínculo entre a academia e a realidade. Em suma, o Fronteiras da Ciência cumpre sua proposta de discutir os limites entre o que é ciência e o que é mito, estabelecida já na vinheta de abertura, de um modo que não é necessário ser um especialista para entender do que se fala.

Por Guilherme Benaduce

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