Os estudos sobre o cérebro e seus mecanismos evoluíram muito ao longo de vinte anos. Estas novas descobertas só foram possíveis graças a diversas experiências e maneiras diferentes de entendê-lo, como explica o professor e pesquisador brasileiro Miguel Nicolelis. Nicolelis é professor da Universidade de Duke, na Carolina do Norte, nos Estados Unidos. Ele é autor de mais de 200 estudos sobre mecanismos cerebrais e de um livro sobre seus vinte anos de pesquisas, realizadas nos Estados Unidos.
O pesquisador afirmou ter sentido a necessidade de migrar para o exterior devido às condições do Brasil e custear e aprofundar seu sonho de pesquisa. Nicolelis tinha em mente estudar e acompanhar as atividades cerebrais em tempo real ao seu funcionamento. Estimulado por sua avó a perseguir seu sonho, em meados dos anos 80 rumou para os Estados Unidos.
No ano de 2008, Nicolelis foi o entrevistado do programa Roda Viva, da TV Cultura. No programa ele apresentou resultados de suas pesquisas e novos projetos, como o da escola Alfredo Monte Verde, na cidade de Natal. Dentro deste projeto, ele desenvolve um ensinamento de conceitos científicos forma empírica, como crianças da rede publica. O projeto conta com a rádio Big Bang, produzida e apresentada pelas crianças. Seu ensinamento fundamental para aprendizagem destas crianças baseia-se na teoria de que para ser um cientista, é preciso primeiro ser criança.
Dentro de seus estudos no exterior, Nicolelis descobriu que o cérebro é um sistema, uma população de neurônios a serem estudados a partir de uma visão global, como um todo. Seguindo esta descoberta, conseguiu desenvolver a técnica pela qual ele havia mudado de país. Fazendo testes em macacos, ele percebeu que poderia fazer um robô movimentar-se através de ondas cerebrais. O teste aplicado para verificar a veracidade dos resultados da pesquisa funcionava da seguinte forma: colocou-se uma macaca a andar em uma esteira ergométrica enquanto ela olhava uma grande TV, onde aparecia um robô em uma esteira no Japão. Estimulada a andar e com um chip em seu cérebro gravando todas as suas atividades cerebrais, a macaca começou a andar. O robô, ligado às ondas cerebrais da macaca, começou a andar também. Com sinais de onda cerebrais tão rápidos, eles acompanhavam os passos um do outro. Tão estimulada a andar, vendo o robô, a macaca continuou a andar mesmo depois de desligada a esteira, fazendo com que o robô continuasse a fazer o mesmo.
A partir desta descoberta, chips foram desenvolvidos para movimentar braços, pernas ou outras partes do corpo através das ondas cerebrais. Isto faria com que pessoas com algum tipo de paralisia, doença ou distúrbio neural pudessem movimentar ou comandar seus movimentos, juntamente com uma roupa ou "terno" mecânico, descrito por Nicolelis como uma roupa de astronauta mais moderna e ajustada.
Para eles, estes estudos cerebrais não são uma simples cura para o corpo humano, mas são, principalmente, o conhecimento mais profundo de quem realmente somos como ser humano. Acreditando na ciência como um agente de construção de um país, ele remete às descobertas científicas como sendo estratégias dentro de uma sociedade, deixando de ser algo abstrato para responder a inúmeras perguntas.
A sociedade brasileira é naturalmente de pensamento pequeno no que diz respeito à ciência e pesquisas científicas. Para Nicolelis, é preciso livrar-se deste complexo de que não se pode pensar grande e pensar na necessidade de mudança, afinal, somos uma população de neurônios na construção de uma sociedade melhor.
Juliane Freitas
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