Pesquisar este blog

terça-feira, 13 de junho de 2017

A luta para políticas de atenção à saúde lésbica e bissexual

A professora de ginecologia da Universidade do Piauí - RS, Andrea Rufino, publicou um panorama de um estudo feito com mulheres de todo o Brasil. No país, 72% das mulheres já tiveram ou mantém relação sexual com outras mulheres, com faixa etária entre 18 e 29 anos. 66% das mulheres se auto declaram lésbicas, e 31%, bissexuais. Segundo o Dossiê de Saúde da Mulher, publicado em 2006, há uma frequência significativamente baixa de realização dos exames ginecológicos e preventivos em mulheres lésbicas ou bissexuais. Ainda segundo o estudo, 20% a 70% das mulheres que mantém relações com mulheres não vão em consultórios médicos, e das que vão nas consultas, 58% receberam indicações e informações dos médicos como se fossem heterossexuais.
A discriminação com a população Lésbica, Gay, Bissexual, Transexual e Travestis (LGBTT) carrega uma invisibilidade sobre essas pessoas, que acabam ficando à margem da sociedade, principalmente mulheres lésbicas, a mercê de violências e preconceitos. Todos esses fatores contribuem para desinformação, tanto por parte da sociedade como um todo, quanto para mulheres que se relacionam com outras mulheres. Quando adolescentes, poucas meninas tem a vantagem de crescer com uma família estruturada e que aceite sua orientação sexual. Outras, se descobrem gays ou bissexuais, após terem relacionamentos longos e estarem adultas. Quando chegam ao consultório ginecológico, são tratadas como se fossem heterossexuais ou como virgens. Como foi o caso de Larissa, estudante, 21 anos.
Quando Larissa se descobriu lésbica, no início da faculdade, não tinha muita informação sobre a saúde sexual de mulheres que se relacionam com mulheres, sua família não tinha orientação sobre isso, porque o poder público ignora essa realidade. Não há políticas públicas aprofundadas e de longo prazo para mulheres. A primeira vez que Larissa foi à ginecologista, a médica a julgou como “virgem”. Deduzindo que, mulheres lésbicas não deixam de ser virgem, e que sexo existe apenas se houve penetração. 
Concordando com Larissa, outra militante do movimento LGBTT, Thays conta que quando comentou com seu ginecologista que era bissexual, ele não pediu nenhum exame de rotina, como o preventivo de câncer de colo de útero, o ultrassom transvaginal, e mamografias. Hoje, Thays vai a um ginecologista com quem tem liberdade para falar sobre quem é e tratada de forma adequada. “Eu comecei a me relacionar com mulheres desde adolescente, e com 17 anos fui pensar que uso preservativo somente com homens, e com mulheres não. Eu fui atrás de informações, conversei com outras mulheres”. Para a militante, a saúde sexual da mulher está voltada para a reprodução e maternidade, e isso precisa ser desvinculado para então se encaixar nas políticas públicas.
“É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento                                  desumano, violento, atemorizante, vexatório ou constrangedor.” (Estatuto da Criança e do Adolescente)
Segundo a psicóloga e membro do Coletivo Voe de Santa Maria, Gabriela Quartiero, há uma especulação de que no sexo entre duas mulheres não há troca de fluidos, e que, por não ter uma penetração entre dois “órgãos”, é um sexo totalmente seguro. Ela explica que por sua experiência dentro da militância LGBTT e em congressos, eventos, nota-se uma desinformação geral de uma sociedade que não está a par da saúde sexual de lésbicas. “Muitas mulheres deixam de dizer aos seus médicos, sejam ginecologistas ou psicólogos, que são homossexuais, pois há sempre aquele incômodo, aquele momento de dizer ‘eu sou’ e esperar a reação do outro”, comenta. No Brasil, há um início de movimentos e grupos que lutam por políticas públicas direcionadas para mulheres lésbicas e bissexuais. Segundo o relatório da Oficina de Atenção à Saúde de Mulheres Lésbicas e Bissexuais (2014), 40% das mulheres que fazem sexo com mulheres participantes do estudo relataram história prévia de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) e 60% daquelas que foram atendidas num serviço de saúde acompanhado pela pesquisa em São Paulo também apresentaram queixa de DST.
Em 2009, a Secretaria dos Direitos Humanos lançou o Plano 
Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos
Humanos da população LGBT.
Entre as ações do Ministério da Saúde, uma delas foi direcionada à população LGBTT, como a Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais. Em 2013 foi lançado a cartela Política Nacional De Saúde Integral De Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis E Transexuais, com informações de unidades de saúde de pronto atendimento e sobre as questões de gênero. Outros livretos e materiais foram publicados desde então, porém, para Fernanda, lésbica, 40 anos, não tem como mudar a realidade se a sociedade não aceita as diferentes orientações sexuais.
          “Há políticas públicas e iniciativas sim, mas não adianta se não se fala sobre isso, se não é mostrado em todos os canais, se não chega às escolas, porque a sociedade é preconceituosa”, diz Fernanda. Ela conta que, desde a década de 90, quando era adolescente e descobriu sua sexualidade, muita coisa mudou. Há uma facilidade em algumas esferas para falar sobre, mas ainda existe algo interrompendo o processo, o preconceito, a discriminação. Gabriela ressalta que há espaços na cidade para discussões e troca de experiências, como o Coletivo Voe e oficinas. Inclusive, o projeto VER-SUS do Ministério da Saúde, reúne médicos e outros profissionais da saúde para discutir temas diversos, incluindo a saúde lésbica e bissexual.  

Acupuntura: impasses dentro e fora do campo científico

Considerada uma terapia alternativa em alguns círculos e uma especialidade médica em outros, a acupuntura divide opiniões entre médicos e praticantes. Mesmo assim, a técnica cresce a cada dia com a promessa de alívio de dores e outros problemas de maneira alternativa e indolor. Para compreender melhor as diversas questões acerca dessa prática é importante entender sua origem.
A acupuntura é parte da medicina tradicional chinesa, a data exata de seu uso não é conhecida, mas estima-se que tenha ocorrido há mais de 2000 anos atrás. A técnica consiste na inserção de agulhas a fim de estimular diferentes terminações nervosas, para aliviar ou sanar dores e inflamações. A técnica também é utilizada para quadros de estresse e depressão.
No Brasil, a prática foi introduzida por imigrantes chineses e  japoneses, na metade do século passado, o primeiro marco da acupuntura no país, aconteceu em 1958, quando foi fundada a Sociedade Brasileira de Acupuntura e Medicina Oriental. Somente em 1998, no entanto, que a terapia foi reconhecida pela Associação Médica Brasileira, mas manteve o estigma de crendice em alguns círculos da medicina.
Os meridianos, representados em publicação
 tradicional
Foto: reprodução
Por ser baseada na medicina oriental tradicional, a acupuntura segue preceitos diferentes da medicina ocidental, como o qi e os meridianos, que são basicamente a energia vital que transcende a natureza química e os caminhos pelos quais ela percorre, respectivamente. Ambos conceitos que não são reconhecidos pela medicina ocidental. Além disso, a maioria das pesquisas científicas sobre a técnica são recentes, esses fatores levaram a acupuntura a ser muito ligada ao efeito placebo, por médicos e céticos em geral.
É o caso de um estudo de 2013, feito pela Dra.Ting Bao, da universidade de Maryland, e publicado na revista Câncer, que relacionou a acupuntura diretamente ao efeito placebo. O estudo foi feito com 47 pacientes com câncer de mama. Elas foram divididas em dois grupos, 23 iriam fazer sessões de acupuntura real, em que as agulhas de fato seriam inseridas em pontos de pressão reconhecidos na técnica oriental, e 24 iriam fazer acupuntura “falsa”, com as agulhas inseridas em áreas aleatórias que não apresentavam risco, as pacientes não tinham ciência dessa divisão.
Durante 8 semanas, as pacientes foram questionadas em relação à possíveis alívios nos efeitos colaterais das drogas usadas no tratamento do câncer. Pacientes de ambos os grupos afirmaram sentir melhoras após as sessões de acupuntura, o que levou a Dra.Ting a concluir que, nesse caso, não existiu diferença empírica entre acupuntura “real” e “falsa”, mas a médica concluiu o estudo afirmando que não existem efeitos colaterais à prática da acupuntura. Outras pesquisas, publicadas no British Medical Journal, também concluíram que os efeitos da acupuntura para o tratamento da dor são mínimos e/ou diretamente ligados ao efeito placebo.
Como conclusões científicas não são verdades absolutas, mas sim resultados de diferentes metodologias aplicadas em diferentes amostras, um mesmo número de estudos científicos comprovando a eficácia da acupuntura para diversos problemas, vêm surgindo nos últimos anos.
Um exemplo, é a descoberta de melhoras em pacientes com hipertensão leve ou moderada, que não estavam medicados, em um estudo feito utilizando a eletroacupuntura - quando são utilizadas pequenas descargas elétricas nas agulhas - em 65 pacientes. Eles tinham suas pressões arteriais monitoradas 24 horas por dia e sessões de 30 minutos de acupuntura, uma vez por semana, durante 8 semanas. Ao final do estudo, foi observado que 70% dos pacientes apresentaram melhoras após as sessões. A pesquisa foi feita na Universidade de Irvine, na Califórnia, em 2015.
Independente do consenso científico, no entanto, a acupuntura é reconhecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS), como possível tratamento de 68 doenças diferentes, para comparação, na medicina tradicional chinesa, são 350 o número de enfermidades catalogadas como tratáveis pela técnica. Também existem precedentes da técnica sendo utilizada junto à métodos da medicina tradicional, como analgesia -alívio da dor- pré-cirúrgica e para dores de parto normal, por exemplo.
A acupuntura também ganha muita popularidade pelo boca-a-boca daqueles que a utilizam e não conseguem resultados com terapias tradicionais. Foi o que aconteceu com a dona de casa, Jussara Kontze, ela conta que sofria de dores na lombar e, depois de tentar sem sucesso combater a dor com fisioterapia e anti-inflamatórios, foi recomendada por uma amiga a tentar à acupuntura. Nas primeiras semanas ela notou melhora nas dores, e após 6 meses elas sumiram completamente, quando ela parou com o tratamento. Um tempo após a parada no tratamento, no entanto, ela relatou que as dores começaram a voltar, e que deve retornar ao tratamento.
Jussara fez o tratamento em uma clínica particular, mas a acupuntura também é coberta no sistema público. No Sistema Único de Saúde (SUS), a acupuntura começou a ser uma opção em 1988, sendo utilizada para o tratamento de dores musculares, enxaqueca e cólica menstrual. Mas só a partir de 2006, devido à implantação da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares, que os profissionais não-médicos da área começaram a poder exercer a acupuntura no SUS. Isso ocorre devido ao fato de não existir uma lei federal que especifique quem pode, ou não, praticar a acupuntura. Na prática, a maioria dos profissionais da área são fisioterapeutas, quiropratas ou médicos.
Não seria assim se dependesse dos médicos que têm interesse na acupuntura, no entanto, e vêem nela uma especialidade médica, ou seja, algo que só poderia ser exercido por profissionais da medicina.
Fernando Genschow, que é secretário-geral do colégio Médico Brasileiro de Acupuntura (CMBA), afirma que a técnica é uma especialidade terapêutica que demanda profissionais capazes de estabelecer diagnósticos em pacientes, o que legalmente, só pode ser feito por médicos, veterinários e dentistas.
A prática da acupuntura, portanto, seria limitada a esses profissionais e apenas não é, devido à falta de leis específicas. Ele afirma que a prática da acupuntura por profissionais que não se encaixam nessas categorias, pode ser arriscada.
Ponto de vista não compartilhado por Sohaku Bastos, presidente da Federação Brasileira das Sociedades de Acupuntura e Práticas Integrativas em Saúde, ele defende que a prática da acupuntura, da maneira como ocorre hoje, é legítima, embora careça de uma legislação federal.
Uma outra questão mencionada, é o fato da acupuntura nascer da medicina tradicional chinesa, em que as técnica para se fazer o diagnóstico são diferentes da medicina ocidental, portanto, um profissional da acupuntura estaria sim apto a diagnosticar um paciente, mesmo que não aos moldes da medicina ocidental e que não existe qualquer risco na prática da acupuntura por profissionais não-médicos.
O fato de ambos os profissionais terem citado uma legislação mais específica não é coincidência, há mais de uma década, duas propostas de lei tentam modificar quem pode ou não praticar a acupuntura. A PL 268, de 2002, parte do chamado Ato Médico, pretende tornar a acupuntura uma exclusividade de médicos e aguarda ser aprovada pelo Senado. Enquanto a PL 1549, de 2003, aguarda o parecer do relator na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CJJC), e tem como objetivo solidificar a acupuntura como uma prática que não é exclusiva da classe médica.
Com controvérsias no campo científico, profissional e legislativo, é difícil chegar à uma conclusão a respeito dessa técnica milenar. O que é inegável, é que as constantes pesquisas sobre o assunto só tem a somar para o conhecimento da prática, o que, idealmente, deve formar melhores profissionais. Quanto às leis, da maneira que as coisas são, não seria exagero pensar que elas podem ficar mais uma década tramitando.

segunda-feira, 12 de junho de 2017

Homeopatia: desvendando o efeito placebo

As pessoas buscam tratamentos alternativos de saúde que fogem do modelo da medicina tradicional. Algumas preferem buscar seu tratamento em lugares que não possuem relação com a indústria farmacêutica - aquela que abastece as prateleiras com caixas de remédios, comprimidos, ampolas e seringas.
Prateleira da Farmácia Homeopática Souza Marques com frascos de remédios homeopáticos. 
Fotos: Rafael de Bem 
O comprimido ou a pílula são trocados pelo conta gotas de vidro do frasco. Ao invés de ter um sabor doce que serve para disfarçar o paladar do paciente, esse tem um gosto diferente, que lembra uma bebida alcoólica. A homeopatia é uma forma de tratamento médico alternativo que não possui características semelhantes aos tratamentos médicos tradicionais. 
Surgida na Alemanha há mais de 200 anos, é uma especialidade médica que possui seu princípio de funcionamento a partir da Lei dos Semelhantes. De acordo com esta lei, uma substância que causa uma doença ou sintomas indesejáveis, quando utilizada sob a forma homeopática produz o efeito de cura numa pessoa que tenha sintomas semelhantes aos causados por estas substâncias. Por exemplo, o que causa mal a alguém “saudável” poderá curar uma pessoa doente. Se um composto sob a forma de veneno causa vômito a uma pessoa, esse mesmo composto quando ingerido em sua versão homeopática (diluído) poderá tratar pacientes com problemas de vômito. 
A dose do medicamento homeopático é diluída em escala “infinitesimal”. Estas doses infinitesimais consistem na diluição vigorosa de um medicamento e na dinamização para “despertar” propriedades que estão escondidas na fórmula do composto. Através de triturações, diluições e agitações sucessivas, processos próprios da produção homeopática, os medicamentos tornam-se concentrados.
A homeopatia é difundida no mundo todo. No Brasil esta especialidade médica é reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina desde 1980 e pela Assembleia Geral de Saúde da OMS (Organização Mundial da Saúde), desde 1977.


Frascos de remédios no laboratório da Farmácia Cruz Vermelha
A homeopatia em Santa Maria

Em Santa Maria, a homeopatia é produzida em duas tradicionais farmácias homeopáticas: a Souza Marques e a Cruz Vermelha. A Farmácia Homeopática Souza Marques atua neste ramo desde agosto de 1996, com o preparo de medicamentos homeopáticos e especialidades fitoterápicas. 
O estabelecimento possui experiência familiar de mais de 80 anos no ramo da homeopatia clássica. Foi fundada pela farmacêutica Maria Magdalena Souza Marques.
A direção da Farmácia Homeopática Souza Marques é de responsabilidade de João Leonorino Souza Marques, 59 anos. O gerente do estabelecimento explica que o medicamento homeopático diferente do alopático, não possui componentes químicos em sua composição. “ O homeopático é preparado a partir dos três reinos naturais, que seriam o mineral, animal e vegetal. Desses reinos é extraído o medicamento homeopático que não agride o organismo em nada e que funciona se utilizado da maneira correta”, explica João Souza.
Já a Cruz Vermelha foi fundada em março de 1926 pelo farmacêutico João da Fontoura e Souza. Dedica-se na produção de medicamentos homeopáticos por mais de 80 anos.
O gerente da Farmácia Cruz Vermelha, Marcelo Beltrame e Souza, 29 anos, neto do fundador do estabelecimento, acredita que tanto o remédio homeopático quanto o alopático são medicamentos que agem da mesma forma no organismo do paciente. “ O que difere a homeopatia da alopatia é somente a composição. No medicamento homeopático você terá fontes naturais de extração do medicamento o que é diferente dos alopáticos que possuem elementos químicos em sua fórmula”, esclarece Marcelo Beltrame.
Logotipo da Farmácia Homeopática Cruz Vermelha
Para o médico clínico geral, homeo-pata e acupunturista, Adair Marques, a dife-rença entre o medica-mento homeopático do alopático está no seu mecanismo de ação. “ A homeopatia é um trata-mento mais energético do que químico. A medida que no medicamento homeopático nós vamos diminuindo a substância material, aumentamos a energia daquela substância no líquido solvente. O tratamento homeopático faz parte do grupo das terapias vibracionais. O mecanismo de ação é através da frequência vibratória do medicamento que fica impregnado na água que nós utilizamos como veículo desse medicamento. Portanto, ele atua mais como medicamento energético reequilibrando a energia vital”, descreve Adair Marques.

Pesquisas e polêmicas

Algumas pesquisas realizadas apontaram que os efeitos do medicamento homeopático são placebo. Não seria a substância homeopática em si que ajudaria o paciente no tratamento, mas sim a parte psicológica do mesmo, sua fé. Uma das pesquisas mais recentes sobre o uso da homeopatia foi realizada em 2015 pelo Conselho Nacional de Saúde e Pesquisa Médica da Austrália. Na ocasião foram analisados mais de 176 estudos sobre este tema e ficou comprovado que não há nenhuma evidência confiável a partir de pesquisas em seres humanos.
O gerente da Farmácia Souza Marques, João Souza, discorda da ideia de que o tratamento homeopático é placebo. “ De placebo o tratamento homeopático não tem nada. Exemplo disso hoje é que se utiliza homeopatia na medicina veterinária. Os animais não possuem uma parte psicológica tão desenvolvida para que eles obtenham uma cura homeopática a partir de sua fé”, rebate João Souza.
Para o neto de João da Fontoura e Souza, fundador da Farmácia Cruz Vermelha, Marcelo Beltrame e Souza, o suposto efeito placebo da homeopatia é questão de opiniões diferentes. “Nós temos que respeitar a opinião de todo mundo. Não posso dizer que determinado tipo de tratamento está certo ou errado. Mas a homeopatia é uma ciência que possui mais de 200 anos, é reconhecida pela medicina tradicional como uma especialidade médica, então é errado dizer que seu efeito é placebo. A farmácia aqui tem 90 anos só trabalhando com homeopatia, para alguns pacientes não faz efeito para outros faz. Assim, como, o medicamento alopático alguns tomam e depois tem que aumentar a dose porque não faz mais efeito. Isso varia de acordo com cada caso e crença das pessoas ”, afirma  Marcelo Beltrame.
Atendente indicando medicamento homeopático para cliente
O médico Adair Marques diz que o efeito placebo existe em todos os tipos de terapias, não sendo exclusivo da homeopatia. “Este efeito psicológico existe em todas as terapias. Está presente na cirurgia, homeopatia, fitoterapia, alopatia, floral, não tem como você tirar o efeito placebo. Ele é a própria resposta do paciente ao tratamento. Não é verdade que a homeopatia trabalha sobre efeito placebo porque senão os resultados não seriam tão espetaculares e positivos. Você trata pacientes como crianças e animais que nem sabem o que estão tomando então este suposto efeito placebo fica excluído nesses dois casos”, exemplifica Adair Marques.
A aposentada, Glades Moreira, 72 anos, encontrou na homeopatia uma forma de tratamento mais agradável para o seu problema de insônia. “ Desde jovem tenho dificuldades para dormir. Usava medicamentos alopáticos para dormir, e eram fortes demais. Precisava aumentar cada vez mais as doses do medicamento e meu organismo começou a não responder tão bem a ele. Minha irmã que sempre se tratou com homeopatia me indicou um médico que era adepto deste tipo de tratamento. Já faz 20 anos que trato minha insônia com homeopatia e sempre obtive bons resultados”, conta Glades Moreira.
Os medicamentos homeopáticos são prescritos por médicos. Não são as farmácias que indicam para o paciente determinado medicamento. As farmácias apenas fazem a sua manipulação. “ Nós indicamos médicos homeopatas e são eles que vão prescrever o que o paciente deverá utilizar. Nós apenas manipulamos. Diferente das farmácias alopáticas que trabalham com medicamentos prontos, nós temos que pegar a receita do paciente e manipular aquele medicamento que ele necessita. É parecido com um trabalho artesanal”, conta João Souza.
A Farmácia homeopática Cruz Vermelha  foi fundada em 1926.
Adair Marques acredita que alguns médicos e a própria indústria farmacêutica duvidam dos efeitos da homeopatia por questões culturais. “ Nossa medicina ocidental está baseada num modelo mecanicista, materialista, cartesiano. Já a homeopatia não se baseia neste modelo. Os orientais usam um modelo diferente. Não baseados na matéria, mas na energia. Aí vem tratamento como a homeopatia, por exemplo, que está baseada no fenômeno energético. A homeopatia não é explicável pela física clássica, é explicada pela física quântica. A medida que nós formos dividindo a matéria, chega num ponto que ela não existe mais. Tudo se transforma em frequência vibratória, tudo vira energia”, informa o médico homeopata.
A homeopatia não deve ser descartada enquanto tratamento médico. Como medicina alternativa divide opiniões. Para algumas doenças físicas e mentais tratadas apenas com medicamentos alopáticos, como, por exemplo, insônia, mostra-se eficaz. Todo tipo de tratamento médico depende da dedicação do paciente. Um medicamento é considerado efetivo se ele provoca melhoras no paciente que não podem ser efeitos placebos, segundo a medicina ocidental que tem sua base no conceito materialista e não na energética como a medicina oriental. Talvez o principal efeito de qualquer tipo de medicamento seja a fé de cada um. Alguns preferem se curar através da energia outros são adeptos da química.   

A tecnologia como aliada no controle de pragas e doenças


Nos tempos em que o mercado exige melhores produtos, a ciência cresce em meio às plantações na busca por qualidade e menos prejuízos ao produtor


A plantação soja é um exemplo de investimento em tecnologia, da compra da semente a colheita. Foto: Gabriel Haesbaert

A busca de produzir alimentos de qualidade para atender à população, o foco na melhoria da produção, além da constante preocupação com fatores que atuam, de alguma form,a na qualidade e desenvolvimento desses alimentos faz com que ao longo dos anos, os métodos de controle de doenças e pragas passem por modificações. Técnicas até então tidas como eficientes, tornam-se ineficazes.
Com a adaptação natural de agentes nocivos fica ainda mais rápida a mudança e a importância da tecnologia no mundo do agronegócio. A evolução da tecnologia no campo parece tão intensa que vai desde a criação de equipamentos até a inserção de recursos científicos para ajudar na busca de soluções para o campo.

A visão de quem investe na busca de melhores resultados


O agricultor Iury Rüdell, 22 anos, formado em agronomia, tem plantações de soja em Tupanciretã e considera o avanço em equipamentos, produtos químicos e pesquisas como os principais componentes da agricultura. “A tecnologia está presente em todas as etapas da produção. Desde análise do solo para correção e adubação”, afirma Rüdell.
Dentre as novas tecnologias empregadas estão semeadoras com doadores pneumáticos, tratores e pulverizadores com tecnologia embarcada, controladores eletrônicos de pulverização, piloto automático.Tudo contribui na melhora desde a preparação do solo até a colheita, segundo o produtor.
Atualmente Rüdell diz controlar as doenças e pragas na lavoura de soja através do manejo integrado de pragas. “Utilizamos cultivares que realizam a supressão de lagartas e, quando necessário, a utilização de agrotóxicos”. O agricultor ainda conta com visitas periódicas de uma empresa de assessoria agronômica, que avalia, relata e trata possíveis pragas e doenças na lavoura.
As variedades mais resistentes ou tolerantes às principais pragas são cada vez mais utilizadas na agricultura e possibilitam a redução dos custos, pois tornam menos necessário a aplicação de produtos químicos para o controle.
Para o também engenheiro agrônomo Fernando Machado, 31 anos, o uso de tecnologias recentes como drones, para identificação de áreas afetadas e direcionamento das aplicações de produtos somente em áreas afetadas, reduz os custos em função de aplicar produtos em pequenas áreas onde as pragas estão iniciando o ataque, evitando o desperdício de produtos em áreas desnecessárias.


Fernando trabalhou na Emater em 2014 e visitava inúmeras plantações

a fim de ajudar no controle de pragas. Foto: Arquivo Pessoal


O agrônomo conta quem está por trás de todos esses métodos tecnológicos em desenvolvimento constante em nosso país: “as novas tecnologias que surgem são muitas vezes oriundas de ideias que pesquisadores, profissionais atuantes na assistência técnica e, até mesmo produtores, desenvolvem empiricamente para a resolução de problemas pontuais nas mais diversas situações do sistema produtivo de uma unidade de produção de grãos. Essas ideias são desenvolvidas e testadas através de método científico adequado e comprovada a sua eficiência, a tecnologia é difundida aos produtores. Muitas empresas públicas e privadas estão envolvidas na pesquisa e desenvolvimento de tecnologias para a melhoria dos processos de produção de grão. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA é a maior empresa de pesquisa agropecuária da América Latina, e desenvolve inúmeras tecnologias úteis aos produtores. Além da EMBRAPA, empresas de pesquisa estadual e privadas bem como universidades públicas e privadas tem atuado intensamente no desenvolvimento e difusão das tecnologias aos produtores” conclui.


K:\GABRIEL\Lavoura de SOJA\_HAE1522.JPG
A colheita da safra de verão 2016/2017 registrou crescimento de 23% em relação ao ano anterior. Segundo o Departamento de Economia Rural (Deral), foram colhidas 19,5 milhões de toneladas de soja. Foto: Gabriel Haesbaert
Os custos de usar ou não a tecnologia no campo
O custo de controle de pragas em uma lavoura de produção de grãos é muito variável, uma vez que inúmeros fatores contribuem para essa soma, tais como a cultura que se está produzindo e, mais detalhadamente, o tipo de material genético utilizado - se apresenta ou não resistência ou tolerância às principais pragas de ocorrência comum na região-,o lugar de produção, fatores climáticos como temperatura e umidade do ar, o histórico de ocorrência de pragas na área, o custo do produto e da aplicação. Machado ressalta que todos esses fatores interagem e formam o custo total de aplicação e a não adoção de tecnologias de manejo integrado de pragas, certamente dão um custo extra para o controle, o que também acarretará em menor produtividade da lavoura.
Questionado sobre qual seria a necessidade maior do agrônomo no sentido tecnológico, ele responde: “A maior tecnologia que um engenheiro agrônomo pode utilizar é o conhecimento. Quanto mais conhecimento sobre o processo de produção, sobre as pragas existentes na lavoura e na região onde a lavoura está inserida, melhor será a sua capacidade de tomada de decisão sobre as melhores estratégias a serem utilizadas na proteção da lavoura."
Tecnologia na palma da mão
O modelo AT190 está sendo testado e por meio de câmeras e de um software, o produtor e agrônomo tem acesso a imagens capazes de identificar doenças e outros problemas no cultivo. Foto: Gabriel Haesbaert
O monitoramento remoto de máquinas agrícolas, coleta de informações específicas sobre operações, informações a respeito de manejo de ervas daninhas, assim como fornecimento de dicas práticas com base em elementos variáveis como localização, tipo de cultura, entre outros tópicos de cada plantação são recursos disponíveis para agricultores via dispositivos móveis. Nas mais novas formas de controle de pragas e ervas, está o uso de drones e aviões não tripulados, que coletam dados e fornecem inúmeras informações sobre o solo, sobre a produtividade e onde a plantação está tendo prejuízos. Desta forma os dados são enviados para softwares e traduzidos por um agrônomo que irá verificar os locais indicados, ganhando tempo e poupando recursos que seriam aplicados em toda a extensão da lavoura.
Na Universidade Federal de Santa Maria(UFSM), uma turma de jovens está prestes a ganhar os ares do campo e do mercado de drones para agricultura. Por conta do grande potencial dessas naves na agricultura de precisão, a empresa se direcionou para desenvolver soluções customizadas para empresas de assistência técnica no meio rural e para agricultores. Segundo Saulo Penna Neto, um dos responsáveis pela empresa, o modelo de negócios, que ainda está sendo delimitado, deve contemplar o mapeamento de áreas agrícolas e a venda dos sistemas para interessados em operá-los diretamente. Fornecendo o produto, será necessário capacitar usuários. “Nós queremos tornar esse mercado cada vez mais profissional, assim como é com a aviação tripulada. Não é brincadeira, apesar de lembrar o aeromodelismo. Para isso, estamos fazendo testes para determinar a vida útil das aeronaves”, conta Neto. 
Ao contrário dos aviões convencionais, os drones geram menos custos, já que não precisam de pista de pouso para decolar e pousar. O equipamento decola com uma catapulta e aterrissa com um paraquedas e, o principal: não necessita de um piloto profissional, que geralmente é pago por tempo de voo.
A cada dia novas pesquisas fomentam a busca por soluções em diversas áreas, na agricultura não é diferente. O uso de máquinas cada vez mais modernas e com mais funções automatizadas está se tornando comum, o mais atual meio tecnológico empregado no campo é o uso das naves. As pesquisas são o ponto de partida nesta área e requer o uso correto destas ferramentas na busca por menos perdas, maior qualidade e baixo custo na produção. Tudo isso aliado ao menor uso de produtos químicos que prejudicam o meio ambiente.

segunda-feira, 15 de maio de 2017

Meio ambiente e ciência em foco no blog Curupira

Claudio Angelo é autor de A Espiral da Morte
como a humanidade alterou a máquina
do clima (2016).
O blog Curupira é de autoria de Claudio Angelo, de 41 anos, jornalista de "deformação", conforme ele mesmo se autointitula. 
Brasiliense de adoção, nascido na Bahia e radicado em São Paulo por quase 20 anos, Claudio teve a ideia de escrever e formar o Curupira a partir do convite de Carlos Hotta, blogueiro de ciência que participava de um evento em comum.
O público alvo do blog,segundo o autor, é a sua mãe e os leigos em ciência e ambiente, embora não consiga atingi-los sempre. O tema geral do blog é o meio ambiente, mas é possível encontrar um pouco de outros assuntos no blog como, por exemplo, a política. 
A página se encontra no domínio Science Blogs e tem um layout característico de blog, limpo e com poucos recursos, as postagens em geral contém uma foto principal e o texto logo abaixo, conta também com uma breve apresentação do autor e não tem contatos do mesmo.
O blog está no ar desde 2012, e sua última publicação foi em 21 de dezembro de 2016. A razão do nome de Curupira para o blog é em relação à entidade protetora das matas. O autor conta que nunca teve uma periodicidade nas publicações e que esteve meio afastado devido a conflitos com seu trabalho atual, “Trabalhei por alguns anos numa agência de relações-públicas com vários clientes que eu não poderia criticar no blog, então, achei melhor me manter sem publicar. Agora trabalho numa organização ambientalista, então, tenho também conflito de interesse”, relata Angelo. O autor ainda ressalta que o espaço do blog é muito importante, que precisa ser bem ocupado, e que ainda pretende voltar a escrever com certa frequência.
           Claudio Angelo é um dos mais respeitados jornalistas de ciência do país, e passou os últimos quinze anos acompanhando debates em torno das mudanças climáticas. Recentemente lançou o livro “A Espiral da Morte - como a humanidade alterou a máquina do clima (Companhia das Letras, 2016)”.